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A história dos Paralamas do Sucesso pelo olhar privilegiado de João Barone

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Numa noite de outubro de 1981, João Barone emprestou sua precária bateria para uma banda de nome engraçado fazer sua primeira apresentação, na Universidade Rural, na Zona Oeste do Rio. Tinha conhecido a rapaziada do grupo horas antes.

Faltando poucos minutos para o show, o baterista não apareceu. Coube a ele assumir as baquetas. Mais de quatro décadas depois, a história consagradora dos Paralamas do Sucesso é narrada por alguém que jamais perdeu um show da banda: justamente João Barone.

Em 1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso, que a Editora Máquina de Livros lança em agosto, Barone faz um mergulho na trajetória da banda, com desconcertante sinceridade e uma incrível riqueza de detalhes. Ele busca na infância simples o fascínio pela bateria e lembra os primeiros passos ao lado de Herbert Vianna e de Bi Ribeiro no início dos anos 80, antes da fama: os ensaios na casa da Vovó Ondina, as tardes com os amigos na Praia de Ipanema, a gravação da demo que virou sensação na Rádio Fluminense FM…

– Poucas pessoas têm o privilégio de passar 40 anos exercendo uma mesma atividade. No meu caso, tocar bateria nos Paralamas me proporcionou conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão, como diz o verso de Melô do marinheiro. Sou a prova de que os sonhos podem se tornar realidade – diz Barone.

O livro faz um passeio pela trajetória da banda, ao longo de 84 capítulos. Barone fala sobre o contrato para o primeiro disco, o convívio com outros grupos da geração, as farras nas turnês pelo Brasil e o apoteótico show no Rock in Rio de 1985, que mudou o patamar dos Paralamas do Sucesso. Numa narrativa precisa e embalada de afeto, ele revela ainda os bastidores das gravações de cada disco e como nasceram alguns dos inúmeros sucessos do trio. Barone reconstitui ambientes e diálogos, botando o leitor na cena dos acontecimentos.

– Minha motivação foi preservar as lembranças dos muitos episódios da nossa jornada até aqui, repleta de alegrias, aflições, amores, tristezas, ansiedades, comédias e tragédias. E de um ponto de vista único e muito especial: sentado atrás de uma bateria.

As lembranças de João Barone são aguçadas. Ele detalha desde os contratempos em viagens até a vitoriosa carreira internacional da banda, que se tornou fenômeno na América Latina e desbravou a Europa – inclusive, abrindo a primeira grande turnê solo de Brian May, logo após o fim do Queen. O livro traz também momentos delicados e de extrema emoção, especialmente ao narrar o acidente de ultraleve com Herbert, em 2001, e as semanas de agonia que se seguiram, até a volta triunfal da banda.

João Barone

Com prefácio de José Emilio Rondeau e orelha de Elisabete Pacheco, ambos jornalistas, 1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso é essencial não só para quem busca conhecer a trajetória do grupo, mas também a evolução do rock brasileiro. O livro traz ainda mais de 80 imagens do acervo pessoal de Barone – quase todas inéditas –, que incluem manuscritos de letras, credenciais de shows históricos, documentos e cartazes do início da carreira.

Barone fará lançamentos em várias cidades do país. A primeira noite de autógrafos será no Rio de Janeiro, no dia 20 de agosto, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

João Barone

Alguns assuntos abordados no livro do BARONE:

– Como ele conheceu Bi Ribeiro e Herbert Vianna ainda em 1981, num show na Rural, em que Barone emprestou a bateria através de um amigo em comum e acabou tocando na hora, porque o Vital não apareceu.

– Os detalhes do dia em que Barone foi convidado para entrar nos Paralamas, em 09/09/1982, num show em Seropédica. Ainda em 1982 vieram os primeiros shows e o livro traz as primeiras fotos dos Paralamas no palco, numa casa punk no Méier. São imagens inéditas que estavam perdidas.

– No fim de 1982, Barone – que morava na região da Rural – se mudou para a casa do Bi, onde morou num quartinho até 1986. Ainda antes do primeiro disco, iam direto à Praia de Ipanema pegar jacaré, lanchavam no Gordon, viviam em cinemas da Zona Sul e também no Circo Voador (onde tocariam pela primeira vez em janeiro de 1983, abrindo para o Lulu Santos)

– A gravação da demo com Vital e sua moto e mais três músicas, que viraram hit instantâneo na Fluminense FM.

– Depois do contrato com a EMI-Odeon, para o primeiro LP, Barone traz bastidores das gravações de todos os discos da banda, inclusive com técnicas inovadoras que usaram.

– Ele conta também em detalhes como nasceram alguns dos maiores hits dos Paralamas, como “Óculos”, “Alagados”, “Melô do marinheiro”, “Uma brasileira” etc.

– Tem muitas histórias engraçadas das primeiras turnês da banda, especialmente até 1985, 1986, quando a estrutura dos Paralamas ainda era meio amadora, embora eles já estivessem estourados no Brasil inteiro. Tem episódios de farras, de roubadas e de imprevistos.

– Os capítulos do livro são quase todos curtos (são 84) e ele dedica alguns ao Rock in Rio, desde as negociações para eles participarem – foram a última banda convidada – até o show explosivo, em que os Paralamas terminaram como o destaque nacional do festival.

– Barone conta como surgiram as rusgas de Lobão com Herbert Vianna, inclusive com a obsessão do cantor em atacar os Paralamas e um destempero de Lobão nos camarins do Canecão, onde os dois tocaram.

– Os Paralamas conseguiram uma carreira vitoriosa na América Latina, onde são idolatrados e tratados como um grande nome internacional do rock. O livro traz várias histórias curiosas e reveladoras de turnês e gravações de discos foram do Brasil (foram alguns), inclusive do do disco “D”, o primeiro ao vivo da banda, no Festival de Montreux, em 1986.

– Em 1993, os Paralamas foram escolhidos para ser a banda de abertura da turnê europeia de Brian May, o guitarrista do Queen que se lançava em carreira solo após a morte de Freddie Mercury. Brian e Herbert tinham se conhecido num festival em Montevidéu, ficaram próximos e em 1994 eles voltariam a se encontrar num estúdio em Londres, quando Brian participou de uma baixa do álbum “Severino”

– O acidente de ultraleve de Herbert em fevereiro de 2001, o período em que ficou em coma no hospital e a difícil recuperação nos meses seguintes são contados com mínimos detalhes, que nunca vieram à tona. E depois ele relata a volta dos Paralamas aos palcos e aos estúdios.

– Em 1983, estourados nas rádios com Vital e sua moto, os Paralamas foram convidados para um dos shows que o BarraShopping promovia nas tardes de sexta-feira, na praça de alimentação, com grandes nomes da música. Seria uma apresentação de só 40 minutos, a primeira depois do contrato assinado com a gravadora Odeon. Mas o local ficou superlotado e, quando começaram a tocar as músicas mais agitadas, uma turma animada resolveu pular e jogar sorvete para o alto. Em poucos minutos, voavam todos os sabores, inclusive no palco. Virou um Ice Cream War Concert. Seguranças, com os paletós pretos repletos de sorvete, interromperam o show e tiraram a banda às pressas, enquanto a plateia gritava “Vital! Vital!”. Escoltados para uma área de serviço do shopping, Herbert, Bi e Barone saíram correndo, escorregando nos sorvetes espalhados pelo chão.

– Os Paralamas estavam finalizando as gravações do lendário disco Selvagem? (1986) e uma música composta por Herbert Vianna seguia sem letra. O produtor Liminha sugeriu que mandasse a melodia e uma espécie de “lá-lá-lá” para Gilberto Gil, que se preparava para viajar. No dia seguinte, Gil ligou de Florianópolis para o estúdio Nas Nuvens e quem atendeu, por coincidência, foi Herbert. Gil falou que tina feito “uma coisinha” e ditou a letra ao Herbert, que a escreveu numa folha de papel, sem interrompê-lo. A ligação foi rápida. Herbert agradeceu, emocionado, e avisou à banda e ao Liminha, ainda meio catatônico: “O cara fez a letra certinho em cima da minha voz e ainda criou um refrão maravilhoso. O Gil é foda! Vamos gravar agora, antes que eu esqueça alguma coisa!”. Assim nascia A novidade, parceria de Herbert e Gil e um dos grandes sucessos daquele disco, ao lado de Alagados.

– Após o acidente de ultraleve que sofreu em 4 de fevereiro de 2001, quando morreu sua mulher, Lucy, Herbert passou 16 dias na UTI, em coma. Como apresentou melhora significativa nos sinais vitais, foi transferido para um quarto, em uma unidade semi-intensiva. Já respirava sem ajuda de aparelhos e em alguns momentos abria os olhos, mas passava a maior parte do tempo desacordado. Amigos e parentes se revezavam 24 horas ao seu lado. Numa tarde, depois de substituir Seu Hermano, pai do musico, Barone ouviu Herbert balbuciar palavras, tentando formar frases. Correu para chamar uma enfermeira. Herbert estava agitado, fazendo movimentos bruscos com os braços e tórax, que quase arrancaram o soro e a sonda de alimentação. Continuou balbuciando palavras ininteligíveis. Emocionado, Barone ligou do celular para Seu Hermano, com a grande notícia: “Seu filho está acordando!”.

– Brian May, guitarrista do Queen que iniciava sua carreira solo após a morte de Freddy Mercury, conheceu os Paralamas ao assistir da coxia um pedaço da apresentação da banda em 1992, no Montevidéu Rock, uma espécie de Rock in Rio uruguaio. Ele tocaria em seguida e ficou impressionado com a resposta do público ao show dos brasileiros, nessa época, estourados na América do Sul. No dia seguinte, Brian e Herbert Vianna pegaram o mesmo voo para Buenos Aires, onde fariam outras apresentações, e se sentaram lado a lado. Alguns meses depois, Brian convidou os Paralamas para ser a banda de abertura de sua turnê europeia que faria, passando por vários países, num total de 12 shows. Após o último, em Roterdã, os Paralamas promoveram uma batucada brasileira no backstage, que fez músicos ingleses, técnicos e até Brian caírem no samba. Herbert puxou de improviso uma letra que trazia o apelido carinhoso com o qual os Paralamas se referiam ao ex-Queen nas internas: Macarrão, por causa de sua magreza e altura. Brian May não só se divertiu, como em 1994 topou participar do disco Severino, tocando na faixa El vampiro bajo e sol, parceria de Herbert com Fito Paez.

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