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A picada da formiga-bala: Pfink mostra álbum inédito “Tocandira”

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Depois de um assalto sonoro com “Iogurte Grego” e de avançar rumo ao disco com “Vetiver” (feat Siso), o músico, produtor e cineasta baiano Pfink – conhecido na cena por seu trabalho com “Marli” e por ter atuado com nomes como Jaloo e Flakkë – apresenta o álbum “Tocandira“, sucessor de Endolua (2018) e Director’s Cut (2020).

O disco, composto e produzido pelo próprio Pfink, traz na inventividade o amadurecimento de um artista múltiplo e ousado. “Tocandira” chega às plataformas no próximo dia 21, com a promessa de um videoclipe para faixa inédita “Verão Bahia 96” logo em seguida. 

Ouça “Tocandira” aqui.

Tocandira é um dos nomes da Paraponera clavata, formiga dona da picada mais dolorosa do mundo. “Tocandira” em tupi-guarani significa algo como “aquela que fere profundamente”.

Algumas comunidades indígenas da Amazônia submetem suas crianças às picadas agonizantes das tocandiras como parte de um rito de passagem. “Eu sempre fui fascinado por esses ritos e pela relação entre dor e evolução.

Ao passo em que a dor suportável é um acelerador de consciência, a dor insuportável conduz à elevação espiritual”, comenta Pfink sobre a escolha do título álbum.

Sentindo o peso dos efeitos duradouros da pandemia em vários aspectos da vida, Pfink extraiu da ansiedade e das crises existenciais os temas de “Tocandira”.

Narrativas pouco usuais se fazem presentes nas composições – a faixa “Verão Bahia 96”, por exemplo, é cantada do ponto de vista de um serial killer que seduz e mata suas vítimas no Carnaval de Salvador.

A dançante “Cuidado Pra Não Excitar a Cachorra” é um lamento sobre uma cadelinha carente e submissa ao dono, com direito a latidos no refrão. Já em “Bala”, Pfink mescla a anárquica letra inspirada em “Trópico de Câncer”, de Henry Miller, com baile funk, mistura que pode parecer inusitada, mas não surpreende levando em conta o catálogo pouco ortodoxo do artista.

Até a Pisadeira, figura folclórica inimiga de boas noites de sono, faz uma visita no álbum na explosiva faixa que leva seu nome.

Com abordagem mais naturalista, a produção do disco é pouco convencional em sua estrutura, de modo que algumas faixas soam quase como fragmentos.

Transitando entre gêneros distintos que vão do industrial e do deep house ao reggaeton desconstruído de Arca, as camadas eletrônicas se confundem num borrão que confunde e fascina.

Em alguns casos, elementos que costumam estar normalmente mais discretos na mixagem aparecem desproporcionalmente mais altos em relação ao restante do arranjo.

Uma das referências nesse processo foi Mica Levi, que encorajou Pfink a subverter a ideia de como uma mix deve soar.

Ele revela que produzir e mixar se tornou uma “provação”, e descreve cada sessão de mixagem como um “episódio de mania”.

Algumas músicas tiveram mais de 35 versões. Pensei várias vezes em desistir. Quem eu penso que sou pra esse tipo de extravagância? Mas eu resisti.

Apesar deste ser seu terceiro álbum, “Tocandira” é para Pfink como um debut, já que esta é a primeira vez que o artista escreve e produz uma obra completa para si mesmo e não com outro intérprete em mente. Ser pessoal se tornou seu maior desafio.

Neste processo, vários questionamentos pairavam: “Quem é Pfink, afinal?”.

A resposta está nas dores insuportáveis que aqui são traduzidas em cenários e contextos que vão dos mais tocantes aos mais absurdos e ridículos. “Tocandira” é esse espaço aberto, abusado, impermanente.

É a picada e seus múltiplos efeitos.

PFINK

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