A cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira acaba de retornar ao Brasil após uma turnê no Canadá, em fevereiro, e já se prepara para embarcar para Houston, no Texas (EUA), para participar de um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, o South by Southwest (SXSW). A apresentação acontece do dia 13 de março, às 00h, no showcase Tropiclub, produzido pela agência Let’s GIG Brazil e LATINXT Festival. Além de Bia, os brasileiros João Brasil e Marcelo D2, o mexicano Rubio, o colombiano Venesti e os estadunidenses Cabeza de Chivo fazem parte da programação.
“A importância de tocar no SXSW é saber que em uma das maiores feiras de inovação do mundo há espaço para a arte que eu produzo. Fazer uma apresentação do meu trabalho para todas aquelas pessoas vai ser especial porque mais uma vez eu consigo mostrar o meu trabalho para um grupo de pessoas que normalmente não consegue acessá-lo. Aos pouquinhos, vamos quebrando as barreiras que nos foram colocadas. Então eu estou bem feliz e bem animada também”, fala Bia.
BIA FERREIRA NO BRASIL
Mas antes de embarcar para os Estados Unidos, a artista participa do show de Ellen Oléria, no dia 8 de março, que acontece na 4º CNC – Conferência Nacional de Cultura, em Brasília (DF). Com o tema “Democracia e Direito à Cultura”, o evento debate 140 propostas recebidas de Estados e do Distrito Federal, a partir das conferências regionais, e aquelas acolhidas pelos delegados participantes poderão servir de base para o novo Plano Nacional de Cultura (PNC).
No dia 9 de março, ela faz um show ao lado da baixista Érica Silva na Casa de Cultura Santo Amaro, em São Paulo, dentro da programação do Circuito Municipal de Cultura. O projeto visa circular e democratizar os espaços para que as pessoas acessem cultura de forma gratuita.
BIA FERREIRA NO MUNDO
A presença de Bia Ferreira no estrangeiro está em um constante crescimento. Seu primeiro show de 2024 aconteceu em janeiro, em Nova York, como a única representante brasileira em um dos principais festivais de world music do mundo, o globalFEST, no Lincoln Center. Em fevereiro, embarcou para a sua primeira turnê no Canadá. Essas apresentações fazem parte da estratégia de internacionalização da carreira da artista.
Em janeiro de 2023, foi a única representante brasileira no projeto Tiny Desk meets globalFEST. Em maio, embarcou para a Europa para iniciar uma extensa temporada de shows no Hemisfério Norte. Ao todo foram 50 apresentações, em 11 países da Europa e da América do Norte. Divulgando o afeto como tecnologia de sobrevivência, a artista brasileira se apresentou nos principais festivais de world music do mundo.
“Essa tour foi importante para provar o profissionalismo que tentamos implantar no nosso trabalho, que a estratégia de expansão que temos usado funciona e que apresentar arte com coerência, qualidade e conceito ainda tem valor. A recuperação da minha autoestima de entender que existem diversos mercados musicais e o brasileiro não é o único que há, entender o respeito que recebemos nesses diversos mercados musicais que encontramos pelo mundo. Para mim, foi muito importante tanto para a compreensão do tamanho que temos e como conseguimos organizar a carreira e o trabalho, quanto como colheita de coisas que estamos plantando há anos. É como se fosse o selo de qualidade da estratégia que nos propomos a fazer no trabalho internacional”, reflete.
No repertório, ela apresentou canções de dois álbuns, Igreja Lesbiteriana, Um Chamado e Faminta, em um formato diferente de seus shows no Brasil. “Eu tenho uma outra construção no meu trabalho internacional. Ele tem muito mais cara de world music, jazz, do que essa atmosfera rap do espetáculo novo. Eu gosto disso porque me propõe testar outras formas de expressar a arte, me coloca para testar minha versatilidade, me desafia enquanto artista. E a diferença é a diferença de mercado: eu entendi que o mercado internacional consome mais arte orgânica e que o mercado brasileiro consome mais arte eletrônica. Tenho tentado alimentar esses dois lugares para não deixar nenhum dos públicos ausentes de produção de qualidade, sem perder a essência do trabalho que é pautar afeto e informação como tecnologia de sobrevivência”.
Dentre os festivais em que ela se apresentou, está o Shambala Festival, em Northamptonshire, o segundo maior festival da Inglaterra (atrás apenas do Glastonbury), sendo a única brasileira no line up. No Paléo Festival, em Nyon (Suíça), dividiu o palco com artistas como Black Eyed Peas, Phoenix, Interpol, Alt-J e Sigur Rós. No North Sea Jazz, em Rotterdam (Holanda), se apresentou ao lado de nomes como Lizzo, Janelle Monáe, Tom Jones, Esperanza Spalding, Jill Scott e Hermeto Pascoal. E foi a representante brasileira no globalFEST, no Lincoln Center (Nova York), um dos mais importantes festivais de world music do planeta.
“Foi muito bonito poder chegar em países que eu nunca tinha ido, festivais com palco de 20 mil pessoas. No North Sea Jazz Festival, um dos maiores festivais de jazz da Europa, a Esperanza Spalding enviou uma mensagem antes do nosso show falando que iríamos tocar no mesmo festival e nos convidou para nos encontrarmos, para vermos o show dela. No Paléo Festival teve Black Eyed Peas, Sampa The Great, B.Negão. É muito massa poder encontrar esses artistas que eu admiro. No Rio Loco teve Ana Tijoux, Tiken Jah Fakoly, Lous and the Yakuza. São artistas negros e indígenas que estão nessa cena e que eu admiro e que eu não teria outra oportunidade de conhecer. Então foram shows incríveis, o público sempre ávido e disposto. Inclusive quando eu quero ensinar português, estão sempre dispostos a aprender e eles cantam mesmo com vontade, com alma. Eles sentem aquilo.”
Bia Ferreira percorreu a Alemanha, onde fez show solo em Berlim e outro em Bremen, e participou de 15 festivais de norte a sul do país. Se apresentou em festivais no País Vasco, na Catalunha, na Galícia e nas Ilhas Canárias, regiões que se consideram independentes da Espanha. Passou por Roma e Nápoles, na Itália. Fez um show solo e outro com banda no Festival Rio Loco, em Toulouse, e logo seguiu para a cidade de Aix-en-Provence, também na França. Se apresentou na Áustria e atravessou o oceano para um concerto no Canadá. Fez um show solo em Londres, que contou com a participação de Ellen Oléria, Amy True e Steam Down.
“Fiquei feliz de realizar que meu inglês e meu espanhol estão fluentes e eu consigo me comunicar, que as pessoas conseguem entender, que eu consigo levar a mensagem que eu me proponho a apresentar. Então os concertos foram sempre cheios de muito afeto, de muita energia. Pri Azevedo (piano/teclado) e Marcelo Araújo (bateria), que me acompanharam na Europa, foram excepcionais para essa entrega e para que a música chegasse com a devida qualidade para as pessoas. Das experiências que eu tive de show, a mais insana foi no North Sea Jazz Festival onde as pessoas ficaram 7 minutos cantando ‘Sharamanayas’ depois que saímos do palco e tivemos que voltar três vezes para agradecer. Foi muito bonito e me marcou em um lugar muito especial. E o concerto do Shambala Festival, que era para ser com banda mas o voo da minha banda atrasou, então eu fiz sozinha no palco principal. No segundo maior festival da Inglaterra, eu e meu violão como sempre foi na Avenida Paulista sentada no chão. Eu ali naquele palco enorme podendo sentir que o poder da arte consegue atravessar as pessoas. O que eu senti no Hemisfério Norte, ao contrário do que todo mundo diz, foi o calor das pessoas, calor humano, energia das pessoas para troca de arte”.
Em Portugal, onde se apresenta desde 2018, fez shows em Lisboa, Setúbal e Matosinhos. Foi destaque na imprensa e está se tornando um dos nomes brasileiros mais importantes em terras lusitanas. Está se conectando com o movimento negro do país e expandindo a discussão sobre a colonização e a luta antirracista.
“Eu tenho encontrado em Portugal muitas pessoas dispostas a receberem minha arte com afeto e coração aberto. Na mesma proporção, tenho encontrado pessoas contrárias ao que apresentamos porque incomoda o que falamos. Por outro lado, eu acho que tenho conseguido um respeito muito grande do público português. Eu tenho conseguido fazer concertos de bastante relevância e estar presente muitas vezes em muitos espaços. Escrevi uma coluna para o jornal Expresso e temos conseguido um lugar de respeito que nos respalda acessos para alcançar para além dos contatos de suporte de quilombo: a galera do movimento negro de Portugal, as Batucadeiras Bandeirinhas de Boba, a Izabel Zuaa, o Dino d’Santiago, Eva Rap Diva. São pessoas que me ajudaram nessa chegada e que eu tenho sido muito grata porque tem sido um encontro de muitos frutos e de muito aprendizado. Então eu amei essa turnê toda, mas Lisboa virou uma das minhas cidades preferidas de todo o mundo.”
Bia Ferreira está levando sua mensagem de afeto como tecnologia de sobrevivência na luta antirracista para o mundo e conquistando o público por onde passa.
Serviço:
4a CNC – CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA
Data: 08 de março (sexta-feira)
Local: Área externa do Centro de Convenções Ulysses Guimarães / SDC – Ulysses Guimarães, Brasília (DF)
Horário: 19h às 20h30
Gratuito
CIRCUITO MUNICIPAL DE CULTURA
Data: 09 de março (sábado)
Local: Casa de Cultura Santo Amaro / Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes 434, Santo Amaro (SP)
Horário: 18h
Gratuito
TROPICLUB BY LET’S GIG BRAZIL & LATINXT FESTIVAL – SXSW 2024
Data: 12 de março (terça-feira)
Local: Speakeasy / 412 Congress Ave, Houston (Texas)
Horário: 19h (show da Bia Ferreira às 00h)
SOBRE BIA FERREIRA
Bia Ferreira é uma cantora, compositora, multi-instrumentista brasileira. Passeando por ritmos afrodiaspóricos como o soul, o r&b e o rap, mesclados a referências da música brasileira como o samba e o repente, faz arte para mexer com a mente e com o corpo das pessoas. Compositora reconhecida por letras contundentes, visa facilitar a compreensão de temas importantes como necropolítica, cotas raciais, antirracismo, a luta pelos direitos das mulheres, da população lgbtqiap+ e a afetividade destes corpes, a fim de pautar tecnologias de sobrevivência através da arte. Baseada no conceito de “escrevivência”, idealizado por Conceição Evaristo, Bia prioriza discorrer sobre sua vivência, trazendo com propriedade de vida coerência para suas canções.
Em 2018, com o single “Cota Não É Esmola” lançado pelo Sofar Sounds, atingiu o grande público. De lá pra cá, é o vídeo mais assistido do Sofar Sounds na América Latina e o quarto vídeo mais assistido desse mesmo projeto no mundo, além de ser leitura obrigatória para os vestibulares da Universidade de Brasília. Em 2019, fez sua primeira turnê pela Europa e, no mesmo ano, substituiu a atriz Larissa Luz no papel de Elza Soares nas apresentações do musical Elza, em São Paulo e Rio de Janeiro, em 3 temporadas do espetáculo. E ainda lançou seu álbum de estreia, Igreja Lesbiteriana, Um Chamado. Em dezembro de 2021, em sua primeira experiência como produtora musical, co-criou a faixa “Olhares Cruzados” pela plataforma Influência Negra para uma campanha publicitária de mesmo nome da marca Dove. Produção essa que foi premiada pelo prêmio IDBr Brasil. Depois de uma tour no verão europeu de 2022, Bia Ferreira foi destaque no WOMEX 22, principal feira de negócios de música no mundo, que aconteceu em Lisboa. E no fim do mesmo ano, lançou seu segundo álbum, Faminta, dividido em dois atos: MPSFN (love songs apresentadas para o público em outubro) e Evangelho de Libertação da Igreja Lesbiteriana (músicas de protesto disponibilizadas em novembro). Em janeiro de 2023, foi a representante brasileira no projeto estadunidense Tiny Desk meets globalFEST 2023. Em abril, fez o show de lançamento de Faminta, no Sesc Pompéia, sold out. De maio a outubro, ela fez uma extensa tour internacional de 50 shows, passando por 11 países entre Europa e América do Norte, e se apresentando nos principais festivais de world music do mundo. Em janeiro de 2024, foi a única representante do Brasil no globalFEST, no Lincoln Center (Nova York), em fevereiro fez uma tour no Canadá e, em março, embarca para Houston (Texas) para participar do South by Southwest.