“Enquanto houver Carnaval, haverá Axé Music”. A afirmação de Carlinhos Brown, um dos criadores do movimento, nos dá a certeza da consolidação de um movimento clássico na cultura brasileira.
A partir do dia 16 de fevereiro, véspera de Carnaval, o público poderá conferir em todas as plataformas digitais as faixas de ‘Pop Xirê‘, novo álbum do cantor, compositor e multi-instrumentista, que expressa toda a pluralidade rítmica ancestral.
“Esse Carnaval para mim é um recomeço. Por isso a importância de lançar um álbum nesse período e dentro do próprio Carnaval, além de reforçar todo um trabalho de linguagem mística e resquícios advindos da oralidade, utilizando a língua, linguagem e corruptela banto azibundo e congo, Iorubá Ijexá. Pop Xirê é resultado da força e memória presente”, conta Brown.
O álbum é o segundo projeto de uma trilogia de lançamentos em comemoração aos 60 anos de idade do artista e aos 40 de carreira. Em novembro do ano passado, Brown lançou “Carlinhos Brown é Mar Revolto”, dedicado ao rock baiano, e ainda em 2023, pós-carnaval, irá lançar um trabalho apenas com músicas instrumentais. A realização é da Candyall Music, selo e editora do artista, com distribuição em parceria com a ADA Brasil.
Xirê é uma palavra iorubana que significa uma mandala para dançar, utilizada nos terreiros de candomblé que junta todos os Orixás em forma de dança, conforme o fundamento de cada nação. No alegre e solar ‘Pop Xirê’, Brown reverencia o Timbau, instrumento que o projetou para o mundo, em especial na sua mais ousada criação, a Timbalada.
O Orixá dá a tônica deste trabalho: Yemanjá e seus filhos Ogum e Oxum, além de outras divindades importantes no cotidiano da espiritualidade afro-brasileira e do artista.
“As músicas são inéditas, devotadas à alegria e com profundo teor espiritual, exceto Ofururu, que é cantada nos rituais Iorufan águas de oxalá, que ganham uma versão híbrida de sambas, reggaes e timbaladas”, comenta Brown.
Com produção artística e musical de Carlinhos Brown, coprodução de Thiago Pugas e mixagem final de Alê Siqueira, o álbum traz participações como a do cantor angolano Yuri da Cunha, grande ativista da preservação da cultura banto e sobretudo dos Orixás, na faixa ‘Ajeum’.
Na música os artistas cantam a fartura, o alimento da alma, na intenção que ele venha e que a energia de brotar cresça e se fortaleça entre nós.
Outra participação no álbum é de Mariene de Castro na faixa ‘Abaum Coquê’, uma saudação de Xangô para Oxum. “Mariene e eu somos amigos e parceiros.
Quando compus a faixa, pensei imediatamente nela. Mariene fez e faz parte como cantora da Timbalada, mas não teve tempo de registrar com o grupo seu canto em nenhum álbum.
Ela chegou, trabalhou alguns verões e depois migrou rapidamente para uma carreira solo muito bem solidificada. A trago agora para consolidarmos isso”, elogia.
A faixa também conta com abertura do violinista português Nuno Flores.
A primeira música do álbum, ‘Aglomera’, de Brown, Edmundo Carôso e Jorge Zarath, foi definitiva para que Brown determinasse que o álbum seria de Carnaval, ela é pop e foi composta justamente na pandemia. Com a paralisação, e com o desejo de renovar o repertório de Carnaval, o artista se uniu a alguns parceiros para compor novas músicas.
“A gente tem aí canções para todas as gerações, estão prontas”, brinca. Zarath é parceiro de Brown em mais duas composições do álbum: ‘Tiene Carnaval’ e ‘Galopepê’, que reforça a influência da música junina na música carnavalesca e conta com o músico convidado Targino Gondim (acordeon), autor do sucesso ‘Esperando da Janela’.
‘Aglomera’ contou com uma abertura especial de seu filho caçula Daniel, que com uma suave voz de criança convoca: “Vambora gente, aglomera!”. Segundo Brown, a música tem um poder de alegria enorme porque ela nasceu com o desejo de que a pandemia acabasse.
Outra participação está em ‘Meu Erê Adora’, com as jovens cantoras Duda Lobo e Maria Alice Xavier, que estiveram com Brown no reality The Voice Kids.
‘Naraiana’, para Carlinhos Brown, é uma das músicas mais espirituais do trabalho, pois possui melódica originária do povo Sinti (“cigano”), outro tema importante na vida do artista.
A faixa tem participação nas animações vocais de seu pai, Renato Bororó, filho de uma cigana que se casou com um brasileiro de origem portuguesa.
O álbum ainda conta com as faixas ‘Espero Yara’, em parceria com o produtor do álbum Thiago Pugas, co-produtor do álbum, e ‘Marinheiro do Amor’, em parceria com Jefty Abreu, lançadas no formato de single em dezembro e janeiro; respectivamente.
“O Pop Xirê, além de ser sagrado e profano, também é um nome miscigenado.
Não faria Pop Xirê sema influência do meu mestre Pintado do Bongô, o Tincoãs, sem Vadinho Ferramenta do Gantois, Baden Powell e Vinícius de Moraes, sem Xano Pozo de Cuba, sem Luiz Caldas, Neguinho do Samba, Toni Mola, Ivan Huol, Jonh Aruth.
Tudo isso faz parte de uma grande manutenção do conhecimento pela oralidade e prática do tambor.
Minha sala de aula foi posta e eu fui estudando junto com a minha capacidade imersiva e aritmética de ser um compositor de ritmo.
Sou mais conhecido como melodista e letrista, mas me afirmo com um compositor de ritmo, que resulta numa renovação estética desmedida”, conta Brown.
Com músicas que transmitem toda a ancestralidade e pluralidade dos ritmos afro ameríndios, Carlinhos Brown, como um criador de ritmos, faz o lançamento do álbum que ferve como o Carnaval.