Cinara é um exemplo da força e representatividade feminina dentro da cena DJ, ainda mais na sua categoria musical e de performance, ainda raros no Brasil, e em sua maioria quando existem são vindos da ala masculina.
Vale a pena assistir aos vídeos no cala da artista no YouTube para dar aquela panorâmica no seu trabalho.
Ela foi cultivando seu espaço, e continua fazendo conquistas em sua carreira como a apresentação que faz neste sábado (02/07), no festival Turá (leia mais: https://www.djsound.com.br/events/tura-anuncia-10-djs-para-a-primeira-edicao-do-festival-2/), nova cria da T4F, que acontece neste sábado (02/07) e domingo (03/07), no Parque Ibirapuera em São Paulo, apresentando um lineup somente com nomes brasileiros entre DJs e nomes de outrar vertentes da música “made in Brazil”.
Batemos um papo com ela num overview para nossos leitores.
1.Fale um pouco do primeiro contato com a música no geral?
Na minha infância e adolescência fui muito ligada à prática de esportes. Em 1997 comecei a andar de patins (agressive inline) e nos treinos sempre tentava deixar uma fita pronta no Walkman com seleções que me deixassem animada para arriscar as manobras. Era vidrada nos programas da MTV e até então essa era a minha base de pesquisas. Gravava clipes em vhs e passava horas assistindo e com o passar do tempo e evolução da tecnologia, passei a gravar cds e sempre deixava com amigos algumas cópias. Uma atleta que foi como uma irmã para mim, a Fabíola da Silva, foi campeã mundial e começou a viajar bastante, trazendo sempre singles de rap e R&B atuais e então comecei a me apaixonar por esses estilos.
2.De onde veio a ideia de focar em DJ performance?
Por mais de 10 anos tocando, eu não pensava em performances, meu foco era trabalhar bem a pista e em ter bastante pesquisa e boas mixagens. Como nunca tive equipamentos (apenas um ano atrás consegui meu primeiro toca-discos), chegava mais cedo na balada aonde trabalhava na época e ficava treinando, arriscava algumas coisas durante o set também e assim fui evoluindo. Comecei a tocar em 2004 e somente 2013 soube do Red Bull 3Style, um campeonato voltado também para o público e não somente para os DJs, com critérios como reação do público e postura de palco. Fiz a inscrição e fui selecionada, consegui equipamento emprestado do meu amigo DJ MASS e como nunca havia treinado performance antes, me arrisquei de aprender o máximo que conseguisse para que no ano seguinte tentasse novamente, mas acabei ganhando e como desfecho, fui selecionada para competir a final mundial no Azerbaijão em 2014.
3.Qual a sua visão como DJ num mercado cada vez mais competitivo como o do Brasil?
Nas viagens que fiz, percebi o quanto o Brasil é rico em cultura e a cena de DJs é bem forte! Temos o campeão mundial do DMC DJ Erick Jay e vários nomes reconhecidos lá fora pelas produções, pesquisas e perfomances .
4.Como foi participar dos campeonatos do DMC?
Foi muito inspirador, como em 2014 eu não imaginava chegar até a final mundial, aconteceu tudo muito rápido e quando percebi já estava lá no hotel com alguns dos melhores DJs de performance do mundo, fora todos os ganhadores de cada País que estavam ali para a final do campeonato. Conhecer todos eles e trocar informações foi muito importante para toda a evolução que consegui até aqui.
5.Qual é o maior desafio para você num campeonato do DMC?
Sempre me preocupo em criar um set que agrade o público mas primeiramente que agrade a mim, preciso estar satisfeita com o que for apresentar e a minha maior preocupação na hora é conseguir executar o que preparei sem erros e o que vier a partir disso é consequência. Ganhar ou não é uma consequência, em primeiro lugar preciso me divertir e absorver toda a experiência. Competir nunca foi em vão, em 2017 eu não consegui ganhar a final nacional mas todo o aprendizado para a criação do set foi e sempre será válida.
6.Como é o seu processo de preparação para participar do DMC?
Na minha primeira participação eu passei dias assistindo vídeos dos competidores para entender o que os juízes esperavam nesse campeonato. Aprendi técnicas novas, como toneplay e wordplay, que são formas de juntar duas músicas sem precisar necessariamente mixar, você “justifica” a troca com timbres que imitem ou cheguem bem próximo da melodia, como por exemplo, usar um piano de uma música para tocar a melodia da seguinte. Já o wordplay, consiste em fazer essa troca com palavras iguais ou uma pergunta e resposta da música que está tocando para a música seguinte. Comecei a criar em cima dessas técnicas e também treinar bastante scratch e beat juggling que são as tecnicas principais de um DJ de performance.
7.Qual foi seu maior desafio na profissão até agora?
Estar entre os melhores do mundo nesse campeonato, foi o meu maior desafio até então.
8.Qual o set-up atual do seu estúdio?
O setup que uso para me apresentar são toca discos Technics e mixer Pioneer S9 ou S11.
9.Qual a decisão mais importante na sua vida para dedicarem-se a música de forma profissional?
Você precisa respirar música, se não tem interesse em falar sobre, em saber quem canta a sua musica preferida, essa profissão não é para você.
10.A partir de que momento passou a planejar sua carreira? Recorreu a algum profissional para lhe orientar?
Comecei a trabalhar no escritório de uma balada na Vila Madalena, BarnSoul, ficava ligando para os aniversariantes do mês para sugerir comemorarem lá no bar e conheci o DJ Katatau que era o DJ residente. Ele passou a me ensinar e de vez em quando me deixava tocar no final da festa. De início me emprestava os discos dele quando conseguia fechar algum trabalho e depois de alguns meses consegui uma residência em outra casa também na Vila Madalena chamada “Mood Club”.
11.Depois de tanto tempo na estrada você deve ter muitas histórias engraçadas e até casos não tão legais. Contem para nós um de cada desses momentos?
Uma situação engraçada foi quando viajei para Rondonópolis – MT em 2009 se não me engano e chegando lá o meu contratante atrasou e apareceu uma outra pessoa perguntando se eu era DJ, disse que sim e fomos até o carro dele. No caminho até o carro, comecei a perguntar sobre a festa e quando estávamos quase entrando ele perguntou em qual momento eu “faria o topless” ?, parei na hora e perguntei qual era o nome da DJ que ele estava esperando e ele disse “DJ Topless”! Falei que não era essa pessoa e voltei para o desembarque, o meu contratante estava esperando por mim e a DJ Topless esperando por ele!
Casos não tão legais são comuns e já passei por várias situações, com o tempo fui aprendendo a lidar. Uma delas foi quando estava me apresentando e a produção da artista seguinte começou a passar o som em cima do meu set e trocaram a logo do painel. Ser DJ não é somente festa e drinks, temos que lidar com muitas situações e às vezes o fato de ser mulher exige ainda mais uma postura firme para ser respeitada. Outra situação não tão legal que tem acontecido muito na noite e tenho conversado muito com outros DJs, é sobre o costume de algumas pessoas pedirem músicas muitas vezes de forma grosseira, achando que porque pagaram para entrar na balada elas tem o direito de exigir que a gente toque o que elas querem ouvir, sendo que temos uma pista toda para nos preocupar. Sinto que a falta de informação acaba confundido essas pessoas a pensarem dessa forma e tenho batido bastante nessa tecla nas minhas redes sociais, com o intuito de educar o público a acompanhar mais a divulgação das casas e os DJs que irão se apresentar para melhor entendimento sobre qual estilo de músicas essas pessoas irão ouvir. Desta maneira, acredito que o público terá maior discernimento para curtir e deixar os DJs do line fazerem seu trabalho. Um bom DJ está sempre observando a pista, pensando na seleção que vai fazer e conversar nesse momento atrapalha bastante.
12.Preparou algo especial para sua apresentação no Turá festival ?
Festival grande exige uma preparação pensando em vários tipos de pessoas e gostos musicais. A ideia é misturar o máximo possível sem sair do tema do festival e provavelmente em algum momento, irei executar técnicas que aprendi nos campeonatos.
13.Quais são os planos atuais?
Estudando muito produção para parcerias com outros artistas e lançar músicas autorais.
14.Aonde quer estar nos próximos cinco anos?
Tocando sempre mas até lá pretendo lançar minhas próprias produções.
15.Na sua visão quais são seus maiores diferenciais para o mercado de música?
Mixagens mais elaboradas, usufruindo das técnicas que aprendi no campeonato e feeling de pista que aprendi com 17 anos de carreira.
16.Qual foi seu primeiro disco que você comprou?
Eriykah Badu – Mama’s Gun
Meus primeiros cachês foram gastos em discos mas infelizmente na época fui roubada. Posso dizer que recuperei esse porque agora namoro a DJ Miya B que coleciona discos e fiquei muito feliz quando vi Mama’s Gun na coleção dela rs.
17.Qual foi a primeira música que te impactou de fato?
Essa é difícil porque na memória lembro de sentir emoção ouvindo música desde muito pequena… Mas uma que me lembro foi no meu aniversário de 6 anos quando minha mãe colocou a faixa “Baby Can I Hold You” da Tracy Chapman e passei a ouvir bastante essa música.
18.Tem algum hobby fora música? Se sim, qual ?
Eu amo patinar mas com a idade e a rotina noturna não consigo mais praticar como antes, mas sempre que possível eu mato a saudade.
19.Um sonho já realizado na música?
Chegar na final de um campeonato mundial, me apresentar fora do País e em um cruzeiro.
20.Um sonho a ser realizado na música?
Produzir minhas próprias músicas
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by Gonçalo Vinha