Antes tarde do que nunca. Após 4 longas décadas de espera, Cyndi Lauper enfim se apresentou no Rock in Rio. E, no alto dos seus 71 anos, definitivamente escreveu o seu nome na história do festival.
Foi um show inesquecível, onde ela entregou tudo e mais um pouco numa apresentação histórica, repleta de emoção, muitos momentos de bom-humor e troca com o público o tempo todo.
Cyndi Lauper é um dos grandes ícones da cultura pop mundial e agora também faz parte daquele seleto grupo dos incríveis e memoráveis shows do Rock in Rio que jamais esqueceremos. Foi absolutamente mágico para os fãs que lá estavam testemunhar isso tudo ao vivo. Nostalgia pura!
Não sabemos (e nem entendemos) porque demorou tanto para ela vir, afinal, foram inúmeras edições até essa de 40 anos. Mas, o que importa é que esse grande erro histórico foi corrigido e finalmente pudemos vê-la no palco do maior evento de música e entretenimento do mundo. A minha ressalva fica em relação ao horário do show, que poderia ter sido muito melhor. O certo seria ela se apresentar antes da Katy Perry, como a penúltima atração da noite. Não só pela sua quantidade de hits que os brasileiros amam, mas, principalmente, em respeito à sua história. Porém, a organização optou por priorizar a colombiana Karol G, que fez um show apenas morno com o seu reggaeton latino.
Mesmo assim, Cyndi aproveitou demasiadamente bem a oportunidade que enfim lhe foi dada e mostrou a que veio.
Fez um show absolutamente incrível em sua estreia no festival.
Arrancou sorrisos, lágrimas, risadas e empolgou do início ao fim as cerca de 100.000 pessoas que finalmente testemunharam esse encontro histórico que já era pra ter acontecido há muitos e muitos anos.
Em apenas uma hora de show, tempo destinado para aquele slot do line-up (a segunda apresentação do dia no Palco Mundo), ela deu uma aula de como um artista pode entreter seu público e conseguiu fazer o que muitos ditos “headliners” e outros tantos artistas mais jovens não conseguem nem com muito mais tempo de apresentação. Através do seu talento e carisma, ela conseguiu criar uma grande sintonia com a plateia, que correspondeu e cantou junto do início ao fim. Inclusive, num determinado momento, entoou por seguidas vezes o cântico “Ôoo Cyndiiii, gostosaaa”.
Ela estava engraçada e divertida. Fez diversas piadas e arrancou gargalhadas da plateia inúmeras vezes, como na hora em que levou um susto com as pessoas “voando” por cima da sua cabeça, na tirolesa. Naquele momento parecia que o público estava presenciando um stand-up comedy. Foi muito engraçado.
E o que falar da sua energia? O que vimos foi uma empoderada Cyndi, mais jovem do que nunca, dominando o palco. Ela dançou, correu, se enrolou na bandeira do Brasil, foi de uma extremidade a outro do palco por diversas vezes e fez questão de estar o mais perto possível de todos os seus fãs que esperaram tanto tempo por aquele momento. Parecia que era uma cantora de vinte e poucos anos tamanho o seu vigor físico. E com toda a sua experiência, mostrou a muitos artistas como se portar no palco.
Os principais destaques da apresentação foram a sua voz indefectível e a sua música atemporal. É incrível, mas a voz continua intacta, igual à da Cyndi dos anos 1980. E nada de playback, tudo no gogó, ao vivo, como tem que ser. Né, senhor Akon? Já em relação às músicas do seu setlist, ela foi muito feliz na escolha do repertório e não deixou de fora nenhum dos seus mega hits, erro que grande parte dos artistas comete.
Logo nos primeiros minutos da apresentação, ela cantou uma música que emocionou milhares de pessoas e pude ver várias delas com os olhos marejados ou até mesmo com lágrimas escorrendo pelos seus rostos. Era nada mais e nada menos que o tema musical de um outro grande ícone da cultura pop mundial dos anos 80: o filme “Os Goonies”, dirigido por Richard Donner, um fenômeno que marcou toda uma geração (na verdade, gerações) como a melhor aventura infanto-juvenil de todos os tempos do cinema. Cyndi eliminou ali qualquer receio da plateia de que esse grande clássico ficasse de fora e assim prejudicasse a performance como um todo. E então, o público se teletransportou para 1985 (ano de lançamento do filme) num piscar de olhos. Foi um momento antológico e que já fez valer o ingresso.
Na sequência do show vieram outros hinos atemporais como “I Drove All Night” e “Time After Time”, cujo refrão foi acompanhado por um coro de cem mil vozes num lindo momento (que teve repeteco quando Katy Perry a convidou para subir ao palco para um dueto durante a sua apresentação que encerrou o Palco Mundo), além de “True Colors”, entre outros hits.
E o “grand finale” não poderia ser outro. Simplesmente um dos maiores hits da história: “Girls Just Wat To Have Fun”, que embala festas e rádios do mundo todo até hoje, desde 1983 (quando foi lançada), dois anos antes da primeira edição do Rock in Rio. O clipe desse hino feminista mundial tornou-se a primeira produção audiovisual de uma artista solo dos anos 1980 a atingir mais de 1 bilhão de visualizações no Youtube, um feito e tanto. E o que se viu nesse momento no Rock in Rio foi uma verdadeira catarse coletiva, com todos cantando juntos e dançando à frente desse verdadeiro monumento da cultura pop mundial. O show terminou de forma épica para todos os fãs que aguardaram 40 anos para viver esse sonho que demorou tanto, mas enfim se tornou realidade.
Cyndi Lauper saiu do palco ovacionada, aplaudíssima, recebendo muito carinho, vendo e ouvindo os fãs gritarem o seu nome em coro.
Depois de 40 anos de espera, não só Cyndi Lauper e as garotas se divertiram.
Mas sim, o Rock in Rio inteiro se divertiu.
E que diversão!