Pandeiro guia o terceiro disco da banda alagoana por novos caminhos da música pop brasileira.
‘Bossatômica’ é a força magnética brasileira que dá nome ao mais novo álbum da banda Divina Supernova, com lançamento neste domingo, 29 de janeiro.
Em seu terceiro trabalho de estúdio, a banda traz a entidade do samba como o fio condutor em fusão à atmosfera pop, passeando pelo baião, maracatu, afrobeat, jazz e tudo o mais que pulsa no Brasil moderno.
Entre as sete faixas, ‘Bossatômica’ traz participações de experientes músicos, a exemplo de Kiko Freitas, premiado baterista de samba do Brasil.
O álbum traz a pulsão de vida do samba. Assim como um átomo é a partícula fundamental da construção da matéria, o disco traz a unidade primordial que mantém uma identidade viva, no caso, a brasileira. “Bossatômica é fruto do tempo ácido que vivemos durante a pandemia.
É a necessidade de criar, de cantar, de tocar, de reafirmar a identidade brasileira de uma outra forma, procurar ser quem somos na nossa essência e sobre a festa que é o samba”, define a cantora e multi-instrumentista Ana Gal, que ao lado de Júnior Bocão formam a Divina Supernova há 13 anos.
O pandeiro é o protagonista do ‘Bossatômica’, sendo inclusive a inspiração para a arte de capa, que ilustra o instrumento pulsando em camadas eletrônicas – pelo artista Bruno Cleriston.
“Batizando o álbum, a junção bossa + atômica é a própria unidade básica do disco. Uma carga de ritmos envoltos numa estética mais moderna de se fazer samba.
O pandeiro transita por todo álbum por ser um elemento indispensável ao samba”, aponta Júnior Bocão, que além de guitarra, violão, voz e programações, também assina a mixagem e masterização.
Invenção brasileira
Mas o pandeiro não está só. Como bom brasileiro, que inventa música até com caixinha de fósforo e batendo latinhas, o álbum experimenta e atrai os ouvidos para elementos percussivos que ultrapassam os tradicionais instrumentos musicais, na condução da talentosa Ana Gal, que traz sua potente voz, flauta e pandeiro aliados à variedade de percussão.
“Coloquei tudo que o meu instinto sugeriu. Fiz sons com garrafão d’água, panela, berimbau de boca, caxixis, chocalhos, meus sapos-reco-recos. A necessidade de fazer um som mais orgânico, vivo, desvencilhado das batidas eletrônicas instigou a gente para o samba e a brasilidade, aguçando o meu lado percussionista”, evidencia Ana Gal, indicando que a banda entra em uma nova fase, após os dois primeiros álbuns.
Do rock e pop ao samba
A autoria do disco é partilhada entre a paulista Ana Gal e o alagoano Júnior Bocão, que se conheceram na lendária gravadora, produtora e loja de música Baratos Afins (SP), em 2006. Na época, Ana Gal consagrou-se à frente da banda Expresso Monofônico, e Júnior Bocão na psicodélica banda Mopho, que continua em atividade até os dias atuais.
Desde a origem da Divina Supernova, o terceiro álbum representa uma virada sonora para a banda, que por mais de uma década aproximou-se do universo eletrônico. “A nossa música nunca foi estática, no sentido de explorar apenas um gênero. Quando iniciamos o projeto do Divina Supernova, tínhamos uma estética mais eletrônica e com influências pop, principalmente da Europa. ‘Bossatômica’ é o álbum mais recheado de influências rítmicas da música brasileira”, considera Júnior Bocão.
O crítico musical Mácleim Carneiro, em resenha publicada no jornal O DIA [Alagoas] descreve o novo trabalho como o frescor de renovação da banda: “Esse é o terceiro álbum e traz algo não muito comum ao duo, pelo ponto de vista do que já conhecemos dos álbuns anteriores: ‘Pulsares’, lançado em 2013 e ‘Torus’, de 2015. O álbum ‘Bossatômica’ tem a unidade de um núcleo de carga musicalmente positiva, que nos atrai e encanta pela força magnética do Divina Supernova”, analisa o crítico.
Convidados
O álbum conta com a luxuosa participação do baterista Kiko Freitas. Ana Gal comenta: “o Kiko foi uma gratíssima surpresa. A bateria dele é uma entidade no som. Ouvindo só o take da bateria nas músicas, a imagem que me vem é a de um polvo com dezenas de tentáculos, todos tocando uma peça diferente da bateria ao mesmo tempo. É impressionante”, descreve a cantora.
Outros parceiros de longa data da banda também deixam suas marcas no álbum, como: os baixistas Félix Baigon, Felipe Barros e Ykson Nascimento; Dinho Zampier, que assina os teclados, programações e divide a produção do álbum com Júnior Bocão; e Leandro Amorim na bateria.
O álbum ‘Bossatômica’ foi materializado com recursos da Lei Aldir Blanc, contemplado pelo Edital Prêmio Zailton Sarmento, e disponível em todas as plataformas digitais a partir de 29 de janeiro de 2023.
FAIXA A FAIXA – ‘Bossatômica’, terceiro álbum da Divina Supernova
A Divina Supernova lança seu mais novo álbum “Bossatômica”, reverberando um samba moderno para desfilar na avenida dos novos lançamentos da música brasileira.
O pandeiro é o protagonista e reafirma a identidade brasileira, mas de uma forma menos tradicional. A banda traz o samba como fio condutor de uma energia que se funde à atmosfera pop, passeando pelo baião, maracatu, afrobeat, jazz e tudo o mais que pulsa no Brasil moderno.
Com sete faixas, o álbum traz o frescor de uma nova fase, mais brasileira, para a Divina Supernova, mas sem perder nuances da clássica identidade da banda, que se aproximou do universo eletrônico ao longo de 13 anos e dois álbuns anteriores [‘Pulsares’, lançado em 2013 e ‘Torus’, de 2015].
A autoria do ‘Bossatômica’ é partilhada entre a paulista Ana Gal e o alagoano Junior Bocão, dois multi-instrumentistas que formam a unidade básica da banda.
Eles revelam a seguir as sonoridades e inspirações de cada uma das sete faixas do disco.
Confira:
1 – ‘Bossatômica’
A faixa de entrada batiza o álbum. É um tema instrumental, que introduz o ouvinte para a viagem que será o disco. A música é conduzida por solfejos vocais, batida eletrônica e piano. A harmonia mistura bossa e baião, e traz referências de Tom Zé, Arrigo Barnabé, Hermeto Pascoal.
2 – ‘Deixa Estar’
A segunda faixa celebra o samba, a brasilidade. A música é uma das mais antigas do disco, composta em 2013. Em ‘Deixa Estar’, o ouvinte navega por um samba pontilhado por “baixarias” e uma Guitar Tremolo. A faixa é guiada pelo contrabaixo marcante de Félix Baigon e a bateria fluida de Kiko Freitas.
Uma curiosidade: A música foi inspirada e feita de presente para a cantora alagoana Wilma Araújo, amiga do duo, para inclui-la em seu álbum de samba [intitulado “Feliz em se dar por inteiro”]. Mas a faixa acabou não entrando no álbum da cantora e agora veio à tona neste terceiro e mais abrasileirado disco da Divina Supernova.
3 – ‘Plunge’
A terceira faixa mistura o samba com o drum’n’bass. Composta em inglês, a música reúne toda a versatilidade da banda, em três fases que brincam com a bossa, o samba e o pop. A letra fala sobre o mundo moderno que tenta nos engolir, mas que é possível contornar com uma atitude: sendo você mesmo [being yourself], sem tentar se encaixar em padrões ou expectativas alheias. A música tem forte inspiração no trabalho da Esperanza Spalding, no disco ‘Emily’s D+ Evolution’.
4 – ‘Palavras São Flechas’
Um samba que tem mesclas de partido alto com samba clássico e refrão forte. A letra fala do mundo interno, de convicções, de que há uma força que rege tudo e que nos leva adiante. Traz a certeza de que, apesar de tudo, podemos contar conosco como ponto de partida e de chegada. Sua estrutura harmônica foi inspirada numa combinação de “Águas de março” de Tom Jobim e “Deus lhe pague” de Chico Buarque de Holanda.
5 – ‘Desagrado Meu’
É a música mais antiga do disco. É um samba composto no início da banda, em 2009, sendo sempre tocado nos shows, mas que ainda não tinha ganhado gravação de estúdio.
Originalmente, a música tinha como característica um flerte com a salsa.
Na versão do disco, recebeu uma roupagem mais pop, expressando a identidade “clássica” da Divina Supernova, com beat eletrônico e hifs de guitarra em meio ao samba.
6 – ‘O Perfume’
Uma pausa no disco.
‘O Perfume’ é a única faixa que não é um samba, mas traz o pandeiro na linguagem pop, mostrando a versatilidade do instrumento.
A música traz uma reflexão profunda sobre a existência, e fala da essência de ser o que se é. É uma faixa mais próxima do que se pode chamar de convencional ao resto da obra da Divina Supernova.
7 – ‘Desgraça Pouca Não é Bobagem’
Encerrando o álbum, ‘Desgraça Pouca Não é Bobagem’ faz uma alusão irônica ao dito popular “desgraça pouca é bobagem”.
A poesia trata de existencialismo e do esforço feito para sustentar uma mínima saúde mental em meio à pandemia, enquanto o que se enxergava era um “falso fundo do fundo do poço” [como diz a música] – pois quando se achava que não tinha como piorar, vinha uma nova notícia mostrando que o buraco ainda era muito mais embaixo.
É um tema delicado, mas que traz aquele ar de positividade e esperança embalado pelo ijexá, que também pode ser um afrosamba.
A música tem influências de Baden Powel e do afrobeat, com sintetizadores e guitarras que se entrelaçam em meio ao balanço.
Confira na sua plataforma de streaming favorita:
Ficha Técnica – Bossatômica
Bossatômica
Deixa Estar
Plunge
Palavras São Flechas
Desagrado Meu
O Perfume
Desgraça Pouca Não é Bobagem
Ana Gal: voz/pandeiro/flauta e percussão
Junior Bocão: guitarra/violão/voz/programações
Dinho Zampier: teclados/programações
Kiko Freitas: bateria em ‘Deixar Estar’ e ‘Palavras São Flechas’
Leandro Amorim: bateria em ‘Plunge’
Félix Baigon: baixo em ‘Deixa Estar’ e ‘Palavras São Flechas’
Felipe Barros: baixo em ‘Desgraça Pouca Não é Bobagem’
Ykson Nascimento: baixo em ‘Plunge’ e ‘O Perfume’
Produzido por: Júnior Bocão e Dinho Zampier
Mixado e masterizado por: Júnior Bocão
Designer gráfico: Bruno Clériston
especial collab by Alanna Molina