Música + Estilo + Comportamento

Pesquisar
Close this search box.

publicidade

Externa Club Brasília

DJ Chediak, no Coala Festival em SP

compartilhe

A edição 2023 do Coala Festival (saiba tudo no: https://www.djsound.com.br/?s=coala),

vai pulsar neste próximo final de semana, de sexta (15/09) até domingo (17/09), na capital paulista, com uma pluralidade de estilos e a cena DJ muito bem representada por nomes como Chediak.

Batemos um papo com esse DJ que tem uma personalidade sonora rara no mercado brasileiro. 

DJ Chediak

1.Fale um pouco do seu primeiro contato com a música no geral. 

Cresci em um lar muito musical. Minha mãe é cantora de samba de raiz, então na minha casa todo final de semana tinha ensaio com banda completa, às vezes uns 15 músicos, rolava de Cartola e Clara Nunes até Maria Bethânia e Alcione. Sempre foi um ambiente muito boêmio. No fim dos ensaios minha mãe adorava cantar Janis Joplin e outros artistas internacionais. Foi ela que me deu meu primeiro CD, que foi o primeiro álbum do Gorillaz (aquele com o jipe na capa). Nessa época, me dividia entre ouvir o que minha mãe gostava e o nu-metal, então tive minha fase de rockeiro mas que não durou muito, gosto de brincar que a única banda que “sobrou” em mim dessa época foi o System of a Down, que sou muito fã até hoje. Tudo mudou quando vi um vídeo do Daft Punk tocando no Festival TIM, em São Paulo. Fiquei totalmente maluco com o que tava vendo e ouvindo. Meu pai era muito ligado em tecnologia e internet, quando eu me interessei por música eletrônica ele me ajudou a pesquisar e rapidamente fui hipnotizado pelo Daft Punk e aí entrei de vez na música eletrônica. 

2. Qual a sua visão dos DJ´s terem entrado na programação de grandes festivais? 

Acho que era questão de tempo até isso acontecer e fico feliz demais vendo a arte da discotecagem sendo valorizada em grandes palcos. Me entristece ver que grandes eventos por mais que forneçam esse espaço ainda optam pelo óbvio ao invés de artistas que estão criando novas cenas, mas isso também está mudando! O próprio convite do Coala Festival pros coletivos eletrônicos desse ano foi super diferenciado, todo mundo que tá no Club Coala tem um trabalho super autoral e que está abrindo portas pra novos artistas ao redor do Brasil. Espero ver mais DJs e produtores nesses grandes palcos, principalmente a galera da quebrada e que não vem das grandes bolhas como São Paulo e Rio de Janeiro. 

3. Fale sobre suas inspirações musicais, de onde eles vêm? 

Daft Punk foi a primeira inspiração, ali ainda na infância antes mesmo de saber que eu ia querer criar música, toda a história dos caras e a forma que eles se projetaram pro mundo me inspira muito, no modo de viver e se mostrar mesmo, eles sempre foram muito preocupados com a parte visual e com todo o rolê de criar um “mundinho” pra convidar o público a interagir. Eu comecei a produzir exatamente no dia seguinte de quando fui num EDM pela primeira vez, e esse show foi do Skrillex, em 2016. Mudou minha vida, de verdade. Apesar de não me inspirar muito nele pra produzir meu som autoral, acho que o trabalho do Skrillex abriu muitas portas e me mostrou que dava pra chegar num palco de festival só com um notebook desde que a música fizesse as pessoas sentirem algo intenso. Pra produção, minhas maiores inspirações fora do Brasil são Floating Points, Burial, Oneohtrix Point Never, Pierre Rousseau (Paradis), MJ Cole, Four Tet, Aphex Twin e Porter Robinson. Mas de uns anos pra cá quem mais me inspira mesmo são produtores brasileiros, como Maffalda, Deekapz, Vhoor e toda a turma que chamo pra bagunçar comigo na SPEEDTEST. Eles me inspiram muito mais do que qualquer gringo, pois consigo ver que todo mundo de certa forma veio do mesmo lugar, aprendemos muita coisa juntos e acho que vivência é muito maior do que qualquer referência estética, sempre. 

5.Qual a decisão mais importante na sua vida para dedicar-se à música de forma profissional? 

Em 2019, já estava a alguns anos trabalhando com trilha sonora e sound design para marcas grandes de fora do país e achei que ia me encaminhar pra isso, porém a agência que eu trabalhava me demitiu e vi nisso uma chance de tentar viver de “ser o Chediak”. Sempre foi minha maior vontade, pra ser sincero, mas não tinha muita confiança ou um plano pra fazer isso dar certo. Na época que trabalhava nessa agência, usava todo meu tempo livre pra produzir minhas músicas, então quando fui demitido tinha muita coisa guardada pra lançar, e a partir disso fui correndo atrás de colocar minhas ideias no mundo da maneira que conseguia. Duas pessoas que me ajudaram muito nisso e estão comigo até hoje são Diogo Queiroz (o produtor da SPEEDTEST) e o ANTCONSTANTINO, ambos da Leigo Records. Desde que fiz esse salto da vida “de agência” pro mundo do artista independente freelancer, as coisas ficaram mais divertidas, mas também muito mais difíceis. Vejo a vida meio como um videogame, então tá tudo bem. É como se agora tivesse jogando no “Hard” mas tudo que eu consigo conquistar é muito mais gostoso. 

DJ Chediak

6.A partir de que momento passou a planejar sua carreira? 

Lancei meu primeiro EP em 2017 e alguns projetos até um pouco antes disso, mas foi só em 2019, depois desse lance da agência, que comecei a me organizar pra ser profissional mesmo. A partir do momento que o projeto de música “Chediak” virou meu carro-chefe, fui pedindo ajuda pros amigos e daí comecei a me planejar melhor. Hoje, tenho meu próprio selo, a SPEEDTEST RAVE, e através disso consigo administrar não só o meu projeto mas também trabalhar em conjunto com vários artistas. Foi muito rápido que eu aprendi que sou péssimo em negociar, desde então confio a parte de business pro meu parceiro Diogo Queiroz, que dá a vida pelos projetos que fazemos juntos. Sem meus amigos não sairia de casa pra tocar, essa é a real. 

7.Descobrindo os meandros da profissão o que lhe motivou, qual foi seu maior desafio de você até aqui individualmente? 

A parte financeira acho que sempre vai ser a mais difícil. Não tem gravadora por trás do meu som ou do meu selo, não tem patrocínio, até hoje não tivemos a chance de passar em nenhum edital ou algo do tipo, então é tudo na onda do “do it yourself”, outra coisa que o Diogo me ensinou e que é o que faz nosso trabalho funcionar de alguma forma. Vou subir num palco gigante de festival com meus amigos, mas a gente ainda vive de cachê a cachê, a situação do artista independente no Brasil é muito mais difícil do que a galera na internet acha. As plataformas de streaming pagam muito pouco, pra você ter noção, um milhão de plays no spotify hoje em dia paga mais ou menos uns seis mil reais pra um artista brasileiro. Isso num cenário ideal onde o artista é independente e tem 100% dos direitos da própria música, o que raramente acontece. Mesmo tendo trabalhado com alguns dos maiores artistas do país, ainda me vejo correndo atrás de trabalhos freelance de trilha sonora e sound design até hoje pra me ajudar a pagar as contas. Precisei me mudar da capital de SP pro interior de MG pra conseguir me manter como artista e não precisar voltar meu foco pra outro tipo de trabalho. No fim do dia, tá tudo bem, pois vejo que mesmo assim ainda tenho um privilégio de certa forma, por ter conseguido encontrar uma forma de fazer isso funcionar, mas mesmo tá longe de ser confortável. Minha vida atualmente é viajar pra tocar todo fim de semana e é tudo de ônibus (você tá entrevistando um jovem de 24 anos cheio de dor nas costas). Inclusive tá aí, cuidar da saúde seria o segundo maior desafio, mas tudo isso sempre volta pro lado financeiro. 

8.Qual foi o maior maior mindset no segmento até o momento para você? 

Não sei muito bem como responder essa pergunta, acho que no Brasil o segmento é muito dividido, quem conquista um espaço acaba fechando tudo em volta pra não perder espaço e a gente perde muita oportunidade de ter uma cena de verdade. Na minha humilde opinião, o maior “mindset” é o que tenho aplicado na SPEEDTEST RAVE: lançar eventos e discos de artistas que mereciam estar nos maiores palcos do país, mostrar a cultura da música eletrônica pra um novo público e deixar claro que tudo isso vem de um lugar muito simples. Acho que o público percebe isso e abraça também, em um ano a gente teve uma tração muito grande que nos levou pra um grande festival, então tá funcionando! Quero ajudar a mudar a vida de gente que passa perrengue pra poder trazer sua arte pro mundo, já tem playboy demais em cima de palco e acho que tem espaço pra todo mundo. Se não tiver, a gente faz ter ou faz nosso próprio palco, faz onde der até chamar atenção do mundo todo. E como eu disse: tá funcionando! 

9. Depois de tanto tempo na e estrada você deve ter muitas histórias engraçadas e até casos não tão legais. Contem para nós um de cada desses momentos? 

Todas as últimas 10 histórias engraçadas que tenho pra contar envolvem alguma rave que fui tocar com o DJ RaMeMes, mas não vou expor os amigos aqui hahah. Teve um momento engraçado que foi uma festa que toquei ano passado, tava meio vazia, era meio “pool-party” e tava tocando meio desanimado até ver que tinha um cachorro na pista. O cachorro tava curtindo muito, correndo atrás de todo mundo que tava dançando, e aí entrei numa brisa de fazer o melhor set possível pra ele. Toquei só músicas que eu acho que um cachorro adoraria, e ele ficou lá feliz até o final do meu set. Conhecer gente famosa também é sempre engraçado, mas essa vez do cachorro me divertiu muito, fico com essa história. Sobre casos não tão legais, já passei por alguns momentos tensos. Ser vaiado já rolou, já voltei pra casa chorando, já me xingaram no meio de set, até arrancar o cabo do meu equipamento e finalizar minha apresentação do nada já fizeram. Mas um momento que foi muito complicado emocionalmente pra mim foi uma festa que me colocaram pra tocar num dia que tava um frio absurdo em São Paulo, me avisaram que meu set seria num horário cedo então meus fãs chegaram bem cedinho pra me ver tocar. Quando cheguei lá os horários tavam todos atrasados, não tinha equipamento pra me apresentar e meus fãs estavam todos sentados no chão, no frio, sem água ou qualquer tipo de suporte pra aguentar aquela noite. Fui pro lado de fora da festa e fiquei até 4 da madrugada conversando com todos meus fãs que foram pra me ver, era papo de umas 15 pessoas, e com a ajuda deles consegui um equipamento emprestado e o show acabou acontecendo. Mesmo que no fim tenha dado tudo certo, fiquei semanas me sentindo muito mal por ter dado uma experiência ruim pra galera que me acompanha. Sei lá, acho que passar perrengue tá no pacote que vem quando a gente decide ser artista, mas o público nunca deveria ter que sofrer pra ver um artista que gosta. Às vezes a pessoa tá saindo de muito longe só pra te ver, o mínimo é a gente oferecer uma condição bacana pra que seja uma boa experiência. 

10.Qual é o lado mais bacana dessa profissão e o lado por vezes mais desagradável?

Conhecer culturas diferentes, viajar o país, ver que o Brasil é gigantesco e conhecer gente bacana em todo lugar que vou é de longe a melhor parte. Todo fim de semana tô indo pra algum lugar novo, apresentando minha arte, levando arte dos meus amigos junto comigo e de quebra ainda consigo experimentar várias comidas gostosas, pra mim é a parte mais legal. A parte mais desagradável eu já falei, é o dinheiro. Também é complicado lidar com exposição, principalmente nessa era de rede social onde todo mundo tem uma opinião sobre tudo sem ter o contexto de nada. Gosto de brincar que essa parte aí some totalmente se arrancar o cabo do modem de internet. O ruim mesmo é ter que viver num mundo onde a gente vale o dinheiro que tem na conta, principalmente quando você é uma pessoa como eu, que acredita que o valor vem de dentro, e não de fora. 

11.Quais são os planos atuais? 

Continuar levando meu som e a bandeira da SPEEDTEST RAVE pelo país e pro resto do mundo. Além disso, estou trabalhando em alguns álbuns ao mesmo tempo, tanto pro meu projeto Chediak quanto pro selo. Tem projeto aí no meio que eu até canto, então pode ser que daqui um tempo esteja lançando algo mais “ao vivo” do que os DJ sets, seria interessante. Meu plano no fim do dia é conseguir continuar fazendo música e vivendo esses momentos. 

12.Aonde quer estar nos próximos cinco anos? 

Espero que daqui a cinco anos a situação financeira, tanto para mim quanto para o mercado de música independente no Brasil, seja menos difícil. Gostaria de ver mais DJs e artistas eletrônicos alternativos nos grandes palcos do nosso país. No mais, espero estar feliz daqui cinco anos, ainda fazendo o que gosto, seja lá o que for. O resto a gente resolve. 

13.Na sua visão quais são seus maiores diferenciais para o mercado DJ? 

Curadoria, em primeiro lugar, sempre. Com o avanço da tecnologia fica fácil se perder em possibilidades de sets cada vez mais visuais e eu acho isso muito irado, mas o trabalho mais importante do DJ sempre foi e sempre vai ser apresentar coisas novas pro público de uma forma que “convença” aquele público. Acho que muita gente esquece disso e acaba focando mais na parte performática da coisa, o espetáculo em si. De novo, não tem nada de errado, mas, na minha opinião, a música vem sempre em primeiro lugar e é o que me faz sair de casa pra ver um set. 

14.Qual foi seu primeiro disco que você comprou? 

O primeiro disco que comprei com meu próprio dinheiro foi o Random Access Memories, do Daft Punk, em 2013. 

DJ Chediak

15.Qual foi a primeira música que te impactou de fato? 

“O Mundo é um Moinho”, do Cartola, me pegou muito desde que ouvi ela ainda criancinha. “Within” do Daft Punk lembro que foi a primeira música que me fez chorar de verdade, mas se for pra pegar a primeirona mesmo, tenho uma memória muito antiga de ouvir “M1A1”, do Gorillaz, e ficar com muito MEDO da abertura, que tem o sample do cara gritando “helloooo, is anyone there?”. Foi a primeira vez que eu vi que música servia pra invocar vários tipos de sentimentos. Devia ter no máximo uns 6 anos quando ouvi essa música. 

16.Tem algum hobby fora música? Se sim, qual ? 

Gastronomia e cinema são duas coisas que considero hobbies, conta? Meu tempo livre fora do trabalho na música é sempre pra ir em algum lugar legal comer algo diferente ou assistir um filme/série que me mostre algo novo. Videogame também é muito presente na minha vida e depois da pandemia desenvolvi uma paixão por caminhar, principalmente em lugares com natureza. 

17.Um sonho já realizado na música? 

Fazer uma música que entrasse na trilha sonora de um videogame famoso sempre foi um sonho desde que comecei. Esse ano isso se realizou com a música “Refuse” do artista Swami Sound, lá de Nova Iorque. Produzi essa faixa em 2022 e esse ano ela entrou na trilha sonora do jogo BOMB RUSH CYBERFUNK, que é super irado. Eu pagaria pau pro projeto mesmo se não tivesse minha música lá, já tava esperando três anos esse jogo ser lançado, tava doido pra jogar e fiquei sabendo um dia antes do lançamento que Refuse tava na trilha sonora. Imagina a felicidade da criança. 

18.Um sonho a ser realizado na música?

Comprar uma casa pra minha família. 

Redes sociais oficiais: 

Instagram: @chediak.club 

Twitter: @chediakmusic 

YouTube: https://www.youtube.com/@chediakmusic  

SoundCloud: https://soundcloud.com/CHEDIAK

publicidade