Música + Estilo + Comportamento

Pesquisar
Close this search box.

publicidade

DJ Nino Leal, um dos veteranos na cena carioca de Hip-Hop

compartilhe

Com mais de 30 anos atuando como DJ em diversos bailes pelo Rio de Janeiro, dos quais ajudaram a ter prestígio com o seu nome entre os outros DJs, o carioca José Carlos Leal (a.k.a. DJ Nino Leal) conquistou não só o apreço artístico, mas diversos prêmios, que vão desde o Grammy Latino em 2013 até o tão disputado DMC (Competição Mundial de DJs), pela qual venceu por três vezes na edição Brasil e sendo vice-campeão na edição mundial.

Atualmente trabalhando com produção musical e dividindo o seu tempo entre apresentações e aulas de discotecagem/mixagens, DJ Nino conversou com a “DJ MUSIC” (em collab aqui), respondendo algumas perguntas.

1. Como se deu o início de sua carreira como DJ? Qual foi o ponto zero?

Foi pelo hábito de ouvir a cultura musical de meus pais, eles ouviam de tudo naquela época (entre os anos 1960 e 1980) muito de música norte-americana. Tudo que era sucesso naquele período. Isso me fez ter a vasta compreensão musical que tenho e meus pais foram os grandes colaboradores dessa história.  Na parte de DJ, começou através de um colega da escola que era autodidata na parte musical (…) com dois toca- discos, que na época não se tinha toca-discos profissional para pessoas mais humildes (não tinha controle de velocidade) e um mixer simples. Esse meu amigo, me explicou como tudo funcionava. E até hoje continuo aprendendo tudo sobre discotecagem. Não paro de estudar.

2. Você veio de uma cena artística muito diversa com vários estilos (Hip-Hop, Funk, Clubs, Bailes) que passam por inúmeras transformações ao longo do tempo, como você vê essa cena atualmente?

A cena musical de duas décadas pra cá, mudou radicalmente, por ter inúmeros subgêneros de todos os estilos. No Hip-Hop existem muitos subgêneros (…)  aqui no Brasil você tem uma fórmula fechada,  não se tem uma diversidade, há muitos rótulos. O DJ tem que se enquadra nesses rótulos para poder se destacar, tanto musical quanto esteticamente. O Hip-Hop raiz (oldschool) é pouco difundido, tocam mais o subgênero do que a vertente underground. O Hip-Hop underground virou um som de garagem, um som pra matar saudade. Hoje o Hip-Hop mainstreaming (comercial) está virando trap music, um trap pop. Acaba tudo se misturando como um único gênero, sendo que são subgêneros do original.

DJ Nino Leal

4. Da década de 2010 em diante, o mercado musical apresentou uma considerável variedade de DJs performáticos em todo tipo de eventos que inclui as festas de celebridades, passando eventos de rock, eletrônico, sertanejo; eventos que acabaram distorcendo a função do DJ em si , você acredita que ainda há espaço para esse tipo de perfil de DJ?

Houve uma fusão de vários gêneros, que no final acabou sendo a mesma coisa daquele gênero, mas há uma alusão que algo diferente foi feito, mas você caminha na mesma trilha. E o DJ performático não existe, é uma questão complexa. O nome DJ de performance foi apelidado aqui no Brasil pelo mercado, isso acaba eliminando o DJ  que tem um diferencial, pois alegam que o DJ performático não consegue manter a pista por interferir demais na música. E nos eventos mais comerciais, o DJ tem que ter um aparato com um cenário pirotécnico: telão de led, lança-chamas, chuva de papel picado, tiro de (CO2), e muitas vezes esses DJ não conhecem a arte de manipular a música. Está muito over.  Hoje está mais em alta o DJ que produz a sua própria música, o que simplesmente toca, acaba perdendo um pouco no mercado.

5. Com a atual tecnologia que está facilitando a produção musical em diferentes áreas de criação e principalmente nas apresentações ao vivo, você acha os DJs podem ter as suas performances questionadas devido a esses novos recursos?

A tecnologia em sua abrangência facilita a você a ter novas criações, você tem um pensamento a frente do seu tempo, mas por falta de recurso (software ou hardware) você não como realizar o seu pensamento. Temos o “autosync” (recurso digital que permite uma sincronia automática entre músicas) que facilita a sincronia entre as músicas, se o DJ não souber usá-los, ele pode ser o seu maior vilão. A tecnologia veio para agregar e não banalizar.

DJ Nino Leal

6. O vinil é a peça principal de um DJ, e ele ainda continua à venda com várias  reedições de artistas clássicos ou como itens para colecionador, que nessa leva, também incluem a nova geração de artistas que o descobriram recentemente. E o vinil compete com os serviços de streaming de música. Você acha saudável essa disputa?

O streaming facilitou na divulgação de músicas. Antes você dependia de outras pessoas para conhecer algo. No streaming você pode ouvir, baixar ou comprar. Ambos recursos agregam. Quem é amante do vinil, a sonoridade do analógico é muito diferente do digital. O vinil requer um certo cuidado, mas há um equilíbrio. Eu gosto dos dois.

7. O scratch ( arte de ¨arranhar¨ o disco) nasceu dentro da cultura Hip-Hop  e acabou sendo usado em outros gêneros musicais, existem algum estilo em que  o scratch não se enquadre?

O scratch se tornou um instrumento de percussão na arte de movimentar um disco para frente para trás e ao longo dos anos, veio se aperfeiçoando, se tornado algo musical dentro da batida de qualquer gênero musical. Existem DJs que fazem do trabalho dele uma orquestra (…) Eu tenho um projeto chamado: O scratch sem fronteiras do qual já fiz trabalhos do samba até a música erudita. Também já fiz trabalho com produtor “beatmaker” pela internet. Ele (beatmaker) em seu estado residente no Brasil e eu aqui no Rio de Janeiro. Tendo a junção do “beat” manipulado por ele, e eu enxertando outros compassos da música com os scratch dentro do tempo e melodia sugerida pelo beatmaker.

DJ Nino Leal Rio de Janeiro

8. Em quanto tempo um DJ, pode se tornar um DJ de performance?

Esse termo foi criado aqui no Brasil, lá fora DJ, é DJ! O Babu do Beats Junkies usa o termo “turntablism”, que é arte e a técnica de criar a música através do toca-discos, manipular e fazer o que você quiser com a música. E esse termo engloba tudo. O termo “DJ de performance” aniquila o DJ de fazer um baile, por que as pessoas que manipulam o mercado de festas, subentendem que o DJ de “performance” não vai tocar a música para a galera dançar, ele vai ficar recriando, remixando a música, parando a música todo o tempo para fazer algo, o que não é verdade. Porque existe um momento específico para fazer isso na música, na hora em que ele abre o set, ou quando finaliza (…) e tem as competições para DJ de performance, competições de DJ com  DJ, a arte de manipular a música recriando algo em cima dela mesma. Pode ser com músicas iguais ou diferentes. Então entendem que esse tipo de DJ ficará fazendo esse tipo de trabalho e não vai deixar a música tocar e, ele nunca é contratado. Isso é um erro fatal.

9. Quantas horas de treino fazendo os scratch? Já teve alguma lesão no pulso devido ao esforço?

É indiferente, se eu tiver que praticar 12 horas seguidas, eu vou praticar. 4 horas, 3 horas, 8 horas (…) mas existem vários tipos de scratch como: baby, transformer, stab, chirp, military…são inúmeros. Você depois faz um mix com todos deles juntos. São mais de 200 tipos de combos. E nunca tive uma lesão, sempre foi tranquilo.

10. E DJ Nino no futuro?

Espero que a cultura do DJ não seja extinta. E que tanto o produtor musical como o  DJ fiquem em evidência, e não o produtor fique com o título de DJ… por conta dele ser o produtor, já que um coisa não é igual a outra(…) ser DJ é muito mais que tocar as musica do momento, tem muita pesquisa, é criar, elaborar. E o produtor tem que seguir as tendências (…) ou criar um estilo completamente novo a partir de suas ideias. O DJ sempre inovando e criando algo diferente na pista de dança, ou onde ele for e não só deixar simplesmente deixar a música tocar na íntegra (…) eu quero no futuro espero que o DJ continue firme em poder fazer trabalho (…) e duas coisas tem que caminhar, tanto o DJ quanto o produtor.

DMC WORLD 2022 – VINYL – DJ NINO LEAL

Mais informações: DJ Nino Leal

publicidade