No ano em que nossos olhos e radares completaram 26 anos de intensas atividades.
O ano de 2016 não foi nada fácil para o Brasil que atravessa uma das maiores crises econômicas e políticas de sua história, e para o mundo.
Num ano em que muitos fatos são para serem esquecidos e outros para termos como aprendizado pessoal e para a Humanidade, o fato é que a música eletrônica fecha o ano com um saldo positivo.
Listamos aqui algumas coisas bem legais que aconteceram e outras que vão acontecer em 2017 além é claro das derrapadas:
O QUE DE LEGAL ACONTECEU:
– Sony Music (via Seven Music) convidou DJ Sound para criar o selo DJ Sound com lançamentos programados para início de 2017;
– Gravadoras majors como Sony Music (com selos DJ Sound Music e Ultra Records), Universal Music (com AfterCluv DanceLab) e Som Livre com Austro (braço fonográfico da rede Globo), apostando da música eletrônica “made in Brazil”;
– Com a crise financeira o número de artistas estrangeiros caiu ao longo do ano a começar pelo verão que teve poucos nomes internacionais se comparado aos anos anteriores.
A economia em marcha lenta e a moeda estrangeira em alta abriram espaço para artistas brasileiros ganharem espaço e destaque em clubs, eventos e festivais pelo Brasil afora;
– Consolidação de festivais como Warung Day (Curitiba), XXXperience que completou 20 anos;
– Explosão do mercado de streaming no Brasil impulsionado por usuários de plataformas como Deezer, Spotify, iTunes, Google Play, plataformas de telefonia celular e Vevo;
– Alok conquistou para o Brasil pela primeira vez uma posição (a 47ª,) no ranking mundial do Spotify, com a música “Hear Me Now” (em parceria com Bruno Martini), nenhum outro artista brasileiro, mesmo de outros segmentos musicais, conseguiu tal feito;
– O movimento sonoro “Brazilian Bass” tornou-se um som eletrônico genuinamente criado no Brasil tornando-se um movimento e segmento real a exemplo do Funk carioca (Funk N Rio) e do Brazilian Drum and Bass dos anos 90;
– Produção nacional decolou trazendo uma nova geração de artistas e produtores musicais oxigenando a cena;
– Ultra RJ, festival consegue edição heróica após várias mudanças de locais e contratempos gerados pelo poder público mas faz melhor edição do festival no Brasil e faz retorno triunfal da marca em meio ao caos.;
– A trupe do label party Circo Loco que tem retorno marcado para o Brasil para janeiro 2017 em SP graças ao trabalho do incansável DJ Du Serena (da Tribe);
– O retorno dos eventos Machina num total de três em 2016, promovendo artistas internacionais como Hocico e Leaether Strip, bem como os nacionais Harry e Homicidal Feelings;
– Anúncio oficial de mais festivais de música eletrônica inéditos no Brasil para 2017: como Dekmantell (fevereiro em SP), Electric Zoo (abril em SP), Welcome To The Future e Awakenings.
Outros festivais devem se juntar a lista ao longo do ano;
– Lollapalooza consolidado e mostrando que o míx de atrações pode agradar toda família e angariar novos públicos para os artistas, incluindo a música eletrônica;
– Pioneer, marca de equipamentos foi uma das poucas a enfrentar a crise do mercado e inclusive atitudes de profissionais (muitos DJs e produtores), que acabam por não comprar os produtos no mercado da importação oficial apelando para o mercado negro;
– RMC edição São Paulo, emplacou e teve a maior adesão de público entre todas as suas edições já realizadas até então na capital paulista;
– O crescimento do formato canção na música eletrônica com várias letras entre artistas do underground ao mainstream (de Kolsch a Lost Frequencies);
– Eventos fora dos clubs consolidam-se como opção do público exigindo uma renovação na política de programação e recepção do público por boa parte dos clubs em todo Brasil;
– Soundcloud prometendo uma plataforma mais amiga dos DJs que poderão postar seus sets sem problemas de copyrights, razão pela qual estará cobrando novas taxas pela assinatura de serviços dos usuários.
Sony Music e Universal Music interessadas na compra do Soundcloud estão em negociações desde o segundo bimestre de 2016;
– Música underground conquistando espaço muito além do Deep House, e pondo-se como opção musical frente a outros gêneros da música eletrônica que dominaram o mercado nos últimos anos;
– Rádios de grandes redes como Jovem Pan e Transamérica tendo êxito e aumentando audiências com programas específicos de Dance Music;
– Radios brasileiras tocando produções de artistas de música eletrônica brasileiros em sua programação normal;
– Número cada vez maior de artistas brasileiros sendo lançados por selos internacionais de vários segmentos da música eletrônica;
– No exterior o grupo SFX (empresa dona de festivais como Tomorrowland e do portal Beatport), consegue salvar-se da falência com plano de recuperação judicial e reestruturação garantindo novos investidores e garantindo a realização de seus eventos mundo afora;
DERRAPADAS E FALHAS:
– Festival de PsyTrance Ozora tornou-se pesadelo e versão caça-níqueis com produção e line-up pobres decepcionando público presente.
De longe o pior evento do segmento em 2016.
– Preços nada amigos ainda para alimentação e bebida nos festivais, mesmo com os altos preços dos ingressos cobrados especialmente em festivais;
– Lei de proibição dos festivais de música eletrônica na Argentina causado pelas mortes no festival Time Warp em Buenos Aires.
Com isso festivais como Creamfields e Ultra têm suas edições suspensas;
– Público que prefere depor contra ao invés de incentivar cena e eventos, criando um buzz negativo em torno e afastando público e até potenciais patrocinadores que podem ajudar a viabilizar a continuidade e novos eventos;
– Cancelamento dos festivais Tribaltech, Sonar SP 2016, e Tomorrowland 2017 pelo momento econômico;
– Artistas da geração antiga que ao invés de encontrarem soluções para sí, criticam sem parar a nova geração que vem conquistando seu espaço a passos largos…chegou a vez deles!
Os “críticos” esquecem-se de fazerem a lição de casa e de que são observados até por marcas de patrocinadores que acabam por ficar em cima do muro deixando de investir no segmento;
– Pequeno público do EuroTrance criticando o “chefe” Armin Van Buuren nas redes sociais dizendo que é traidor do movimento e que tinha de tocar Trance em seu evento “Armin Only Embrace”, quando o evento tinha outro foco musical criado pelo próprio artista criticado, num diferencial a seus outros eventos como A State Of Trance – ASOT focado unicamente no EuroTrance.
Batizados de “cricris” do Trance criaram um buzz controverso, hora divertido hora desolador e sem fundamentos perante o diferencial e rumos tomados pelo artista ao longo de sua carreira, onde nunca abandonou suas raízes;
A beleza e grandiosidade do evento fecharam com chave de ouro os eventos de música eletrônica na capital paulista, bingo para os produtores gringos e nacionais do evento que mobilizou fãs do Trance, baladeiros de plantão e os paraquedistas que um evento massivo destes atrai, sem tirar o brilho!
– Aumento de casos de bebidas falsificadas em clubs e eventos de todo Brasil que acabam sendo combatidos pelas próprias marcas;
– EDC Electric Daisy Festival, deixa de ser realizado no Brasil e não há luz que indique um retorno breve do festival após investida frustrada em dezembro de 2015;
– Eventos e clubs vendendo energético (Red Bull) a R$25,00 por lata (!!) quando o preço para o comprador tabelado de mercado é R$5,90, havendo certo exagero confirmado na cobrança do produto;
– Artistas esquecendo de inserir verbas de planejamento de marketing direto, mesmo contratando assessorias de imprensa para martelarem seus nomes no mercado tentando galgar espaço;
– Várias marcas de equipamentos (como a Ableton), deixaram o Brasil por não encontrarem oportunidades de desenvolverem seus negócios seja pela política econômica (alta da moeda estrangeira e impostos praticados), seja pela conscientização do público consumidor que prefere a produtos piratas ou adquiridos no mercado negro (sem garantia do fabricante), onde quem perde é o mercado como um todo;
O QUE PRECISA ACONTECER:
– Incentivo e patrocínio direto de marcas ao segmento de Dance Music que é uma realidade no Brasil e ainda incompreendido e muitas vezes rejeitado como meio de comunicação para o público;
– Criação de política (obrigatória por lei) para redução de danos nos Clubs, eventos e festivais para usuários de entorpecentes.
Qual é o empresário ou evento que vai inovar realizando uma ação para valer em nosso território a exemplo de países no exterior;
– Criação de impostos, legislação e regulamentação específica para estes eventos de música eletrônica o que poderia gerar mais empregos e benefícios diretos para público consumidor e sociedade;
– Fiscalização suprema da carteirinha de estudante que se tornou um inimigo dos eventos onde quem paga a conta é o produtor do evento e até o próprio público que paga os ingressos integrais que acaba subsidiando a meia entrada (incluindo os malandros que se passam por estudantes com carteirinhas falsificadas);
– Cena de música eletrônica brasileira gerar mais cases de sucesso fomentando o mercado e fazendo com que potenciais patrocinadores confiem no retorno.
Muitos se frustaram com investidas onde os produtores e promotores dos eventos acabaram por não entregar ao patrocinador o que prometeram;
– Artistas precisam conhecer e informar-se cada vez mais sobre como garantir seus direitos-autorais com os mecanismos existente no Brasil como ECAD e associações arrecadadoras, fazendo com o que o ciclo se retro-alimente como nas outras cenas ao redor do planeta;
Especial 2016 by Gonçalo Vinha