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FERNANDA YOUNG falecida em Voz com FURIO no mês do seu Nascimento

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Furio é Jarbas Agnelli.

Na verdade, Furio é o bisavô de Jarbas Agnelli.

Tem um mistério, uma certa vibe nessa transmissão da paixão musical pelo DNA.

Que por sorte, nas duas pontas, se traduz em muito talento e realização.

Mas vamos por partes.

1.  O Furio de 2020 é música eletrônica.

Para quem conhece Jarbas do duo AD, que lançou um bom disco de Big Beat na virada do século, em 2000, a fluência envolvente da faixa agora lançada (e já vêm outras por aí) não é uma surpresa.

Era o ápice da eletrônica mundial, e o foco estava nas pistas.

Agora o som continua impactante e grooveado, mas é mais nuançado.

Está lá o ouvido para gêneros como o Techno e o BreakBeat (e um toquinho sombrio de Trip Hop), mas dá para ouvir mais a sutil influência de outras épocas formativas de Jarbas, como o progressivo (quando de algum modo ele enxergava a entrega de seu bisavô no gigantesco synth modular de Keith Emerson).

E do Synthpop (então chamado de TecnoPop) dos anos 1980, quando uma louca onda de novos equipamentos mais compactos e de estilização desinibida varreu a cena.

2. Jarbas é um homem de várias artes.

A dedicação ao audiovisual é conhecida: em seu filme Birds On The Wires, que viralizou internacionalmente em 2009, uma foto de pássaros nos fios se transforma numa pauta de música clássica.

Está envolvido num projeto de recriação das Quatro Estações de Vivaldi, mesclando orquestra e eletrônica

E sua preocupação com o texto se traduz não só em suas próprias letras, e na parceria com o filho, Gabriel (mais uma geração), que também é compositor, vocalista e produtor, mas vai além.

De seus folders sairão faixas de spoken word gravadas com a escritora Fernanda Young, falecida há um ano.

No disco do AD já havia duas com o vocal falado dela – e essa é uma das linhas que o Furio vai seguir, com outros convidados.

3. Furio, o bisavô.

Esse era uma figura.

Veio como segundo regente de uma orquestra italiana, e ficou por aqui.

Fixou-se em São Paulo, casou-se com uma filha de conde, causando uma certa agitação familiar.

Estudioso de Mozart e Bach, ensaísta, dedicado à música sacra com cerca de  500 composições para piano, órgão e coral, dedicou-se a aprimorar o canto gregoriano na Itália, na França e na Inglaterra.

Desenhou e trouxe de Milão o gigantesco órgão da catedral da Sé – onde foi o mestre de capela até morrer.

Trouxe também um órgão, esse bem menor – de apenas 4 toneladas 🙂 – para sua casa, na frente do Museu do Ipiranga.

Professor de grandes pianistas, fez indicações na Europa que facilitaram a ida de Villa-Lobos para lá.

Teve discos gravados nos EUA e na Argentina.

Jarbas pode ouvir o bisavô tocar aos domingos, e foi estudar piano clássico.

Hoje Jarbas considera sua missão lembrar o nome de Furio – um gênio cuja discrição religiosa acabou por tornar pouco conhecido.

Quer fazer um longa-metragem documental sobre ele.

Entretanto, um pouco na dúvida sobre a ética de usar seu nome num projeto Pop, concluiu que, de alguma forma, fazia sentido na conexão, digamos, energética com seu legado.

4. E é onde chegamos à ética e à estética criativa.

Um termo-chave para Jarbas é sound design.

O órgão já trazia a possibilidade de mexer nos registros – e a música eletrônica elevou isso à enésima potência.

O pequeno Jarbas, quando não era notado, sentava-se ao órgão e fuçava nos registros.

Acha que vem daí sua disposição em fabricar, manipular, em modular o timbre.

A criação em vários níveis, no da composição e no da textura, experimentando, colecionando sons, pedaços de eventuais músicas futuras.

Os sintetizadores modulares, sem timbres pré-programados, convidam a se abrir ao acidente modal, à navegação alheia aos mapas da música Pop.

Mesmo alguns softwares atuais, como o Live, dão um passo nessa direção em sua arquitetura, se afastando da lógica linear derivada da gravação em estúdio.

Quais caminhos foram trilhados desde o som sacro do velho Furio ao profano-tecnológico?

com Jodele Larcher

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