A música eletrônica no Brasil vai crescendo e vencendo obstáculos, culpa de uma nova geração em avanço da qual o curitibano HNQO faz parte; a sigla vem do nome Henrique, uma bela sacada, quando encontrar um nome é uma das grandes dificuldades para artistas de qualquer segmento.
O codinome artístico é perfeito para o estilo e sonoridade do seu mentor.
Após dar os primeiros passos com suas produções ele foi contratado pelo selo D.O.C., arquitetado pelo produtor musical Gui Boratto, que conta com distribuição mundial pela gravadora Kompakt sediada em Colônia – Alemanha.
Sua agenda (de Gui Boratto) vai bem e tem participado ainda dos showcases do D.O. C, que percorrem o exterior e mesmo no palco do Tomorrowland Brasil, onde o selo assinou um dos “stages” na edição deste ano, com bela receptividade, mostrando que a sonoridade mais underground pulsa forte em comparação a sons mais comerciais.
O último lançamento do HNQO pelo D.O.C. é o EP “Balinese Death”, incluindo um remix incendiário do próprio Gui Boratto.
Aproveitamos o embalo e fizemos uma entrevista com o HNQO onde ele revela pela primeira vez na mídia que trabalha no seu primeiro álbum autoral, além de outras curiosidades.
Nota-se uma maturidade nas respostas pouco vista em artistas, ainda novos como o próprio HNQO.
Sinal dos tempos para uma cena que avança de forma prolífera.
Como aconteceu a contratação do HNQO para o selo D.O. C?
A primeira faixa a ser apresentada para o Gui foi à faixa título “Balinese Death”.
Ele gostou e decidiu fazer um remix.
Enquanto decidíamos a data de lançamento, terminei mais algumas músicas e acabamos adicionando uma terceira faixa ao EP.
Entre ligações e troca de e-mails, foi assim que acertamos o meu primeiro lançamento com a D.O. C. Records.
Quais as suas influências?
Eu procuro participar de vários meios envolvidos com a música.
Tenho amigos tocando em orquestras, bandas de Rock, DJs de Hip-Hop, o pessoal do Jazz, enfim.
Passo um tempo com cada uma dessas pessoas e acredito que todos seus estilos me influenciam de alguma forma.
Fora o lado da música, você está acompanhando ou tem ciência de que é necessário um lado business por parte do artista mesmo com empresários por perto?
Sim.
Imagina também tocar no formato live?
Pretendo dar este passo em algum momento da minha carreira, mas não tenho pressa.
Isto irá ocorrer quando eu alcançar um estilo que, para mim, seja compatível com este formato de apresentação.
Como esta composto o seu setup de equipamentos hoje no estúdio?
São seis sintetizadores, seis baterias, dois módulos para criar meus Kicks, um módulo para criar tons percussivos médios.
Todos os instrumentos passam por uma placa de som Apollo de 16 canais e o centro é uma mesa Tascam, também de 16 canais.
Uso três pares de monitores para todo o processo.
Event Opal, Yamaha NS-10M-X e Auratones dos anos 70/80.
No DAW, Ableton e plug-ins de efeitos variados da própria Apollo UAD e outras empresas.
VSTi’s da Arturia, Roland, TAL Spectrasonics, etc.
Headphones AKG K712, alguns shakers e uma Kalimba, para tirar sons mais orgânicos em determinados projetos.
Tem algum instrumento favorito que você usa em muitas das músicas?
O Moog sub 37 é um instrumento bem constante nas minhas músicas mais atuais.
Você acreditava de alguma maneira que a música eletrônica chegaria à popularidade de hoje, inclusive, com a possibilidade de se fazer música apenas usando um computador?
A possibilidade de fazer música com poucos recursos me deu a oportunidade de entrar neste mundo e alcançar um nível de profissionalismo mais elevado.
Este é, provavelmente, o caso de muitos outros músicos e produtores espalhados pelo mundo.
Isto deve contribuir de forma direta para a popularização do gênero, com mais artistas, mais músicas, clubes, festivais, mas nunca pensei que tomaria tal proporção.
Exerce alguma profissão em paralelo a carreira artística?
Não.
Muitos na música eletrônica optam por serem DJs, mas você escolheu criar as suas próprias músicas. De onde partiu essa escolha?
Os artistas que mais admiro na música eletrônica são os que produzem suas próprias músicas e criam suas identidades.
Isto me influenciou completamente.
Teve medo em algum momento de alguma rejeição por parte de outros profissionais do mercado?
Minha música jamais irá agradar a todos e acho isto normal.
Prefiro trocar o medo por confiança no que faço, esperando atingir as pessoas certas.
Alguma coisa lhe chateia no segmento de música eletrônica nacional?
Ao invés de ficar chateado, eu prefiro dar risada de algumas situações e não gastar minha energia com coisas que não sejam construtivas.
Qual é a parte mais desgastante e a mais prazerosa da carreira como produtor musical?
Fisicamente, o life style é desgastante e eu tenho certeza que isto irá me cobrar, lá na frente.
Espero que nada muito severo.
A parte satisfatória está em evoluir tecnicamente, musicalmente e fazer com que pessoas captem o sentimento quando ouvirem algum trabalho meu.
Com as músicas que produziu, você imaginou, de alguma forma, que elas seriam lançadas por selos?
O processo de lançamento de uma música sempre esteve claro para mim, pois antes de produzir minhas músicas, eu acompanhava outros artistas e aprendi como funcionava esta parte do processo.
Após finalizar as primeiras músicas como HNQO, Fabø, Pako e eu, criamos o selo Playperview.
Tivemos a liberdade para lançar nossos trabalhos sem passar por terceiros.
Os selos de maior visibilidade em que lancei, aconteceram de forma mais inesperada.
Quando teremos oportunidade de ouvir um álbum completo?
Estou na metade do meu primeiro álbum.
Provável que seja lançado até a metade do próximo ano, entre viagens e outros projetos.
Acredita num som eletrônico com alguma cara brasileira, assim como os alemães impuseram estilos como o Minimal e Tech House pelo mundo afora?
Creio que alguns brasileiros possam ser distinguidos na música eletrônica, mas deste patamar a algo inovador e consistente, a ponto de criar uma nova identidade/estilo dentro da música, eu não consigo enxergar.
Qual é o seu hobby?
Participar da produção de músicas de outros estilos.
Alguma obstinação?
Por evoluir e criar coisas diferentes das que já criei.
Algum sonho que gostaria de realizar na música?
Meu álbum, que já está a caminho.
O que almeja agora e para o futuro da sua carreira?
Superação, solidez e constância.
Tem algum ritual ou mania que realiza antes ou durante cada apresentação?
Algumas doses de saquê para relaxar.
Quanto tempo se imagina dentro do mercado de música eletrônica? É algo que prospectou mesmo para seguir como carreira de longa duração?
Espero que o bastante para cumprir todos os meus objetivos e construir algo sólido, que possa servir de exemplo para outras pessoas.
Qual a dica que você pode dar para aqueles que desejam entrar na profissão para valer como você entrou?
Apenas seja verdadeiro. As dicas aparecem conforme depositamos interesse real nas coisas.
Qual musica lembra sua infância?
O tema das vitórias do Ayrton Senna.
Qual foi seu primeiro disco comprado?
JV – EditChannelXXX
Playlist Top#10:
1.Morphine – “Dawna”
2.La Femme – “Interlude”
3.Leon Vynehall – “Inside The Deku Tree”
4.Stimming – “Alpe Lusia”
5.Trentemøller – “Liquid Dreams”
6.Tycho – “Awake”
7.Theo Parrish – “Heal Yourself And Move”
8.Kaitranada – “Track Uno”
9.The Roots – “Eve (Dilla Joints)”
10.Jimi Hendrix – “Little Wing (Solo)”
Links:
HNQO: https://www.facebook.com/hnqopage
DOC Records: https://www.facebook.com/doclabel/?fref=ts
Instagram: @docrecords