A urbanidade de uma metrópole como São Paulo, com tempero de Blade Runner é o cenário onde Jeferson Ciarvi, produtor musical e DJ oriundo da região do ABC Paulista, desenvolveu uma gama de projetos voltados a música eletrônica; sejam seus codinomes (Human Robot e Iavri), que dão vazão as suas criações musicais, em parelelo a carreira de DJ e gerenciamento de seu próprio selo musical lançando outros nomes brazucas e gringos.
A conversa rendeu uma entrevistona que você encara a partir de agora para conhecer um pouco mais deste workaholic nato que acaba de se tornar repórter da DJ Sound focando no lado mais underground da Dance Music, inspirado pela própria DJ Sound e várias referências ao DJ MauMau que assinava a coluna Musical Science em nossas páginas, além do próprio nascimento e expansão da cena no Brasil emanada por São Paulo.
1.Fale um pouco do primeiro contato com a música no geral, e o contato com a música eletrônica?
Olá DJ Sound Mag…Em primeiro lugar, quero muito agradecer por esta oportunidade de mostrar para o Brasil e para o mundo um pouco das histórias de minha vida, minha carreira e trabalho, estou muito feliz e empolgado com tudo isso que está acontecendo neste momento, em meio aos 30 anos de aniversário da DJ Sound, pioneira no segmento musical voltado aos DJ’s, do qual tenho muita honra em fazer parte de seus colaboradores.
Bem, vamos lá… Meus primeiros contatos com a música de modo geral, foi muito cedo, ainda na infância, absorvia meio que indiretamente os passos de meus avós…ambos tinham envolvimento no meio artístico, porém, quem mais se destacou como músico profissional mesmo, foi o meu Avô “José Ciarvi”…filho de imigrantes italianos…tocava violão em seu grupo musical chamado “Trio Hawaí” participando do início da Televisão Brasileira, apresentando-se nos palcos dos estúdios da extinta TV Tupi em São Paulo…algo que tenho muito orgulho de dizer… então acho que de certa forma, sempre estive conectado a música desde minhas raízes.
Meus pais também por serem jovens e modernosos em pleno auge dos anos 80…vivenciaram movimentos que surgiram na mesma década aqui no ABC Paulista, e já me apresentavam bandas alternativas como Bauhaus, New Order, Joy Division, Depeche Mode, Ultravox, Devo, The Cure, Zik Zik Sputnik entre outras…porque eles frequentaram várias festas e lugares alternativos importantes da época como a Zoster e o Club Madame Satã.
2.De onde veio a idéia de se tornar DJ e produtor musical?
Sempre gostei de ouvir música e ter meus momentos para isso, mas ficava entediado só de só ficar ouvindo, sentia que precisava algo mais…manipular, modular…sei lá…só sei que eu tinha vários amigos na minha adolescência que já eram DJ’s também, tinham equipamentos, davam som em festas de aniversário e ainda por cima tinham frequências de rádio pirata pra transmitir ao vivo, vários sons non stop, revezando-se em programações malucas, mas sempre com muita classe…e tinha audiência, a galera curtia de verdade o que era underground…eu mesmo ficava colado no rádio o tempo todo ouvia muita System FM, Digital FM (que eram de meus amigos) além de outros programas de Dance Music que rolavam também em outras rádios como a Lendária “Stylo FM” e a “Nova FM” de São Paulo e que tinham na grade os programas que eram sensação no momento, o “Lunch Break” e o então incomparável “Garage 70”…que foi aí que minha cabeça deu um nó e pirou de vez na onda DJing…Ao conhecer o Maestro Ricardo Guedes nas Matinês do Club Twists em São Caetano do Sul (minha Cidade)… Minha mãe na época vendo minha paixão pelas mixagens me presenteou com meus primeiros toca-discos e um pequeno mixer Berzek em uma época em que moleques da minha idade apenas pensavam e vídeo-games…
Frequentando a Twist’s, através do mentor Guedes… acabou chegando até mim a revista DJ Sound.
Faminto de informações e sempre querendo ir além do que eu começava a diferenciar entre comercial e underground…Escutava tudo o que saia nos playlists das rádios e casas noturnas que a revista divulgava… comprava muitos discos na galeria 24 de Maio no centro de São Paulo em lojas que traziam sempre esse tipo de material como a Discomania e a The B Side então logo mais, na sequência das páginas que meus olhos admiravam, cheguei até a coluna “Musical Science” que era escrita pelo Guilherme M. e o DJ Mau-Mau em início de sua carreira…
O Techno começava a virar uma febre na cidade e surgiam vários clubs e lugares inusitados como a Sound Factory, Nation, Mercado Mundo Mix, B.A.S.E., Club A Loca” e o mais importante deles…lugar onde o Techno cravou sua bandeira por aqui de verdade através das Mãos dos DJ Mau-Mau e Pil Marques, no primeiro After-Hours do Brasil…
O Hell’s Club que ficava na esquina da Rua Augusta com a Estados Unidos no porão do club de nosso “Pai de todos” o empresário e DJ Ângelo Leuzzi (que foi o cara mais importante de todos os tempos na noite paulistana, sempre inovando e trazendo tendências através de seus clubs e festas…fundando assim as raízes da música eletrônica na noite de São Paulo.
Nesta mesma época conheci também o fanzine “Fusion” de um amigo chamado Rogério Nogueira que tinha uma loja de CD’s e trabalhava exclusivamente com música eletrônica, através do zine conheci alguns projetos nacionais que ele divulgava como o Habitants (do meu parceiro Renato Malin) e o também “Nude” e “Oil Filter” do nosso respeitado Gonçalo Vinha…
Em uma época onde ainda sem internet, o Nogueira foi um grande um aventureiro que por amor a música emplacou o primeiro club de Techno aqui no ABC (já tínhamos festas que rolavam em lugares escondidos, além dos clubs Factory e Billboard (DJ Carlo Dall’anese) …
Sem dúvida nenhuma, respirando todo esse universo e o frescor com que as coisas aconteciam ali, foi uma das épocas mais importantes de minha vida e que me deram base pra continuar meu trabalho passando de uma simples brincadeira para algo mais sério e profissional.
Logo após a fase Hell”s Club, quando o club fechou suas portas, órfãos do Techno começaram a migrar pra outros locais que surgiram e então foi a vez do club “Lov.e mudar de vez o conceito de noite clubber que conhecíamos.
Saí o strobo o clima escuro e a fumaça e entram as cores e luzes coloridas em um ambiente mais acolhedor e sociável…
uma pista alegre e que sem dúvida, também foi outro grande momento da cena… abrindo portas pra vários DJ’s e estilos musicais eletrônicos e integrando nossa cena definitivamente com o mercado Internacional.
Trazendo grandes nomes de peso pro Brasil como Laurent Garnier, Joel Mull, Funk D’Void, Monica Kruse, Heiko Laux, entre outros…
Foi ali que realmente tudo começou profissionalmente pra mim e para muitos outros DJ’s, hoje conhecidos e consagrados na nossa cena musical.
Em um espaço destinado a revelar novos talentos o promoter e DJ Oscar Bueno e o DJ Mau-Mau criaram a noite Technova, que abria espaço para novos DJ’s se apresentarem e mostrarem seus trabalhos…em uma parceria inédita com a revista “On Speed” Magazine, foi publicada uma nota especial que trazia no título “New Face DJ’s” e uma foto histórica com a galera da época na porta do club… que foi plataforma de lançamento não só da minha carreira (eu ainda usava meu primeiro nome como DJ : Jeff Space) mas, como de amigos como TechJun, Hubert, Mizt3r, JacJunior entre outros.
Tive muito privilégio por ter participado desse momento especial da cena aqui de São Paulo e graças e todas essas pessoas que o meu trabalho se consolida neste momento, com a entrada da DJ Sound Mag na minha carreira…uma coisa que jamais imaginei que poderia acontecer lá atrás, quando eu ainda garoto estava com um dos exemplares nas mãos e lia a matéria que a “Musical Science” trazia falando um pouco sobre o DJ Anderson Noise e seu trabalho na cena de Belo Horizonte.
3.Qual a sua visão de um produtor musical e DJ num mercado cada vez mais competitivo como o do Brasil, e do exterior?
Acho muito relativo, depende da postura e do objetivo de cada produtor em específico e o que ele quer mostrar a mensagem que ele quer transmitir…
Ou você entra no mercado pra competir e fazer o que todos fazem e fazer apenas uma música “consumível” ou você se destaca criando algo diferente com conceito que na contramão da escalada para tentar fazer sucesso, faz algo realmente artístico e atemporal que pode trazer um respeito muito maior, e mais tarde um sucesso verdadeiro do que a busca por constante pela auto-promoção de maneira exagerada e estar nos stories diários a toda hora ou tentar buscar ser o tempo todo o top do Beatport.
A música fala por si só…
E quando realmente você deixa de ouvir o que os outros fazem e ouve somente a sua inspiração, é que você consegue mesmo de verdade emplacar algo bacana para as pessoas tocarem e ouvirem e se enxergar como artista.
Você passa a observar sua personalidade com mais maturidade e explorar todo seu potencial, encontrando assim sua verdadeira identidade e a sonoridade característica do seu talento e o seu devido papel na arte e na música.
Hoje em dia não vale mais a pena trabalhar com muitos selos também, é bacana ser seleto, apoiar um grupo de produtores, um label local ou apenas alguns que você tem liberdade criativa pra trabalhar ou que tenha uma filosofia mais existencial pro som, não ficar ai nadando e nadando até morrer na praia…
vale a pena criar lançamentos pontuais e constantes, criando parcerias e network com outros artistas que pensam da mesma maneira que você e não de maneira comercial e ostensiva.
No meu label Future Visions, por exemplo, valorizamos a música eletrônica underground que tenha uma sonoridade peculiar e que seja realmente a inspiração de cada artista…
não estabelecemos rótulos ou formas e nem ditamos como tem que ser a música…isso faz de cada lançamento algo único e especial como uma obra–de-arte…
uma plataforma para visibilidade e crescimento de todos os artistas integrando Gigantes Consagrados da música mundial e produtores emergentes de maneira onde a qualidade faz a nossa regra e todos tem o seu valor em específico, não enxergamos como este é mais legal ou melhor ou pior que aquele…
quando se muda o ponto de vista e passa a se analisar a música como arte, então você abre mais possibilidades para fazer ou encontrar algo realmente substancial e que tem um verdadeiro sentido como música e isso de fato para nós é ser underground…
4.Conte para nós sobre o novo single “Machine Head”, de onde veio a inspiração para o som e nome deste primeiro trabalho?
Bom, o nome já diz praticamente muita coisa…”Machine Head” é algo meio inconsciente que todos somos… traço um paralelo entre nossa condição humana a maneira que as máquinas e o mundo virtual digital vai transformando quem somos.
A rapidez das coisas, fatos e a quantidade de informações que absorvemos durante nossa existência, seguindo na reta evolutiva da forma como a “Era Tecnológica” dita nosso estilo de vida, nossas maneiras de pensar e agir, dia após dia … estamos todos conectados a esse Cyber Universo…
Em plena revolução digital onde IOT a AI não são mais como sopa de letrinhas e passam a trazer uma importante mudança na maneira de como interagimos com essas tecnologias, hoje constantemente presentes em nossas vidas. Um Processo de Fusão entre o Virtual Digital, Interfaces Mecânicas e o mundo orgânico.
Durante o processo criativo, eu mergulhei de cabeça nessa pesquisa e escolhi com bastante cuidado elementos sonoros que traduzem sensações dessa realidade como timbres mais metálicos, abstratos, distorcidos e densos, dando uma característica mais robótica e futurística para a música em si, trazendo essa linguagem para atmosfera do disco agregando esse conceito ao tema escolhido e título do trabalho.
5.Como é administrar o seu projeto Human Robot?
É muito bacana e corrido também…O Human Robot surgiu logo no boom da Internet e do surgimento dos gravadores de CD´s (antes era tudo fita K7)…A idéia de poder gravar um CD com suas próprias músicas e levar para festa para tocar, era inédito e o que era mais legal é que fazíamos isso sem esperar nada e quando a música batia na pista e observamos a reação do público, era visível já o longo caminho que a música eletrônica brasileira iría percorrer. Meu primeiro trabalho como produtor foi no “Tranzmitter NetLabel” ( mais tarde Tranzmitter Records), com os discos “Sunshine EP” e logo depois “Forever Happiness” …
O Tranzmitter é um dos labels pioneiros no Brasil, que abriu espaço para muita gente e foi muito importante também na minha carreira e acredito que na carreira do L_cio também e de muitos outros…
começamos ali, naquela época não era fácil lançar qualquer coisa. Nesse meio tempo o então DJ Renato Lopes” (uma de minhas maiores referências) me convidou para apresentar o projeto “Human Robot” em seu programa de rádio na “97 FM SP” no programa da “Rádio SmartBiz” que também já dava seus passos como agência em paralelo era suporte de projetos como o “On Speed Café” e “On Speed Magazine”…
tivemos também o surgimento do “Rraurl” (Camilo Rocha, Gaía Passareli e Gil Barbara) e do Fiber Online ( Enéas Neto | Cri Du Chat Disques) que possibilitavam os produtores e DJ’s divulgarem suas músicas, sets, criar profiles e ainda tinham os fóruns para discussão de música e produção… foi uma época muito bacana onde a galera ainda não pensava no TOP 100 do Beatport para vender e ser centro das atenções e sim em fazer música de verdade.
6.De onde partiu a ideia de fundar o selo e como é administrar o cotidiano dele?
Como éramos todos amigos, DJ’s e producers aqui de Sampa, eu, Max Underson, Mizt3r, Peddro, Thiel, Hubert, Alan Patrick, Edson Byer, entre outros, sempre fazíamos reuniões para nos divertirmos e tocarmos, falar de música. Então surgiu a idéia de fazer um grupo coletivo nascendo assim o “Future Visions”…
Eu e o DJ Thiel Pelegrine, fizemos duas produções do Future Visions como projeto musical e emplacamos as duas músicas em uma importante coletânea brasileira chamada “B.E.C.” (Brazilian Electronic Community) que levava a curadoria do DJ Acácio Moura” pela gravadora “Atração Musical” e que colocou no mercado profissionalmente nas prateleiras das lojas de CDs, grandes produtores nacionais emergentes, assim como nós.
Daí pra frente não parei mais… Comecei a lançar por vários selos brasileiros como o Coch Pitch, 13ZRec, MS Records, Válvula, Records, Paunchy Cat, Primitive State, Zoo Work entre outros acho que hoje deve ser em média uns 60 labels e mais de 300 músicas…
Mas para chegar até o ponto de ninguém me falar a maneira de como deveria ser o meu trabalho, passei por muitos momentos de decepção e a ideia de ter uma música aprovada primeiro pra lançar algo que era de mim…
me deixava muito ansioso e até mesmo algumas vezes frustrado, principalmente quando o trabalho era recusado. Algumas gravadoras queriam que seguisse modelos e padrões que não se enquadravam na maneira artística que a música representava no meu pensamento…
Foi então que conheci a Tatiana Tymoshenko que cuidava de alguns labels na Ucrânia e decidimos então montar uma parceria e investir no meu talento. Abrimos primeiro o “Infinity Music label que é onde onde apresento de maneira solo apenas o projeto “Human Robot” ( sem envolvimento de remixers ou outros) e trabalho um lado mais profundo e existencial nas músicas, com grooves mais introspectivos e com melodias e elementos mais ligados ao Deep Techno.
Porém como trabalhávamos juntos e tínhamos muitos produtores que são amigos de verdade no nosso network, sentimos a necessidade de expandir e assim surgiu o Future Visions como label que integra grandes produtores já consagrados e também emergentes, de maneira livre e conceitual, onde não estabelecemos regras e sim valorizamos o que de fato é arte, tratando cada lançamento como único e expecial não só mais um nas páginas das lojas digitais…
Confesso que quando começamos eu não tinha a ideia de como era de verdade ser responsável por uma gama de artistas e seus lançamentos, a medida em que o label crescia agregando mais gente importante ao time como os mentores Sean Deason e Gary Martin eu fui realmente caindo na real e reconhecendo a importância do que estávamos fazendo aqui no Brasil.
Não é fácil atender as expectativas de todos, tanto na parte visual, quanto na masterização ou até mesmo nos prazos de lançamento e divulgação…
por isso decidimos trabalhar apenas com parceiros e amigos que entendem essa filosofia e mecãnica de trabalho…
e que nosso label não é algo destinado ao mercado comercial e sim uma espécie de “plataforma vitrine” onde grandes idéias se encontram e remetem a uma música mais ampla dinãmica e atemporal e que não é moda, não tem duração e ou prazo de validade, e sim pode ser tocada e escutada em diversos momentos e maneiras sempre soando de forma diferente, autêntica e original.
7.Quais são os artistas que estão no casting do selo atualmente?
A família é bem grande vamos lá… Temos Human Robot, Keita Sato, Mizt3r, Peddro, Nuta Cookier, Slop, Tutu Sartori, Deepbreath, Protyv, Mappai, Declyn, Makna, Tessuto, MUM, Newton B., Bruno Merlin, Quinsgouv, Malin Angel (projeto Solo de Renato Malin a.k.a. Habitants Hbt), Halley Seidel, Paul Grabowski, Project Invasion, Mok Jay, Plural (James Johnson de Chicago) e os gigantes Sean Deason e Gigi Galaxy (Gary Matin) que são importantes produtores que fazem parte da história do Techno de Detroit.
Estamos com uma série bem grande de lançamentos e recentemente em comemoração ao 60º. release, fiz um trabalho muito especial que traz pra casa outros grandes artistas de peso na cena mundial.
O meu mais recente álbum “Robotic Revolution” conta com remixes assinados pelo Maestro Gigi Galaxy (Gary Martin) do label Teknotika de Detroit e pelos gigantes canadenses John Norman do label “UNT” e também Rennie Foster do “RF Records” ( meu grande mentor e amigo que me apoiou muito em minha carreira desse sempre), além da estreia incrível de nossa madrinha Paula Chalup com um remix futurista feito por seu projeto de produção chamado IAO. O disco ainda conta com o projeto visual elaborado por Reggie Moraes e suas referências.
Ainda teremos grandes estreias vindo por aí, como o esperado disco do nosso querido e incomparável DJ MauMau, “Disco Evangelist” feito em parceria com Franco Junior, que também vai lançar um disco solo conosco, além da chegada de J.J. Jonas, Esque, Phostech, Sound Project 21, Matthieu F. (Planet Underground UK), Pink Monkey Flower (Marcos Morcef & Pjota), Nerds With Acid, Nonchalance (Steve Caine), ISNIK, e muito mais… Preparei um set exclusivo especialmente pra DJ Sound com as novidades que estão chegando por aqui e que vocês podem conferir no link abaixo:
8.Qual a decisão mais importante na sua vida para se dedicar a música de forma profissional?
Sem dúvida nenhuma, o maior momento de maturidade em relação a música na minha vida foi a partir do surgimento dos meus labels.
Onde eu tive que ter uma diplomacia e um respeito muito grande pra lidar com cada artista com muita transparência, sim aquela coisa do círculo de confiança é primordial desde o começo e é algo levado realmente a sério de maneira individual e peculiar e ainda aprender muito do que eu ainda nem fazia ideia de como funcionava, mas que a passou a ser uma missão muito importante carregada pelas minhas mãos a partir do momento que mais gente se integrava ao Future Visions algo que contribuiu e muito para a consolidação de minha carreira e meu posicionamento na cena eletrônica mundial como artista e label Manager.
9.A partir de que momento passou a planejar sua carreira?
Foi logo quando eu lancei meu primeiro disco de verdade nas plataformas digitais através do label “Tranzmitter o “The Amazing World of the Machines” é o grande divisor de águas na minha trajetória…
Logo que lancei o disco o mesmo chamou a atenção de Rennie Foster que entrou em contato comigo me elogiando pelo trabalho e através dele cheguei até o meu grande mestre, amigo e parceiro Gary Martin ( Gigi Galaxy | Teknotika Detroit) que era conhecido aqui no Brasil por seus sucessos em especial a música “Shake it” que foi muito tocada pelos DJs por aqui.
Criei um álbum especial com versões remixes para a música título que tinha como principais protagonistas um remix do próprio Gary Martin como Gigi Galaxy e também do DJ Mau-Mau, além de muitos outros DJs produtores nacionais e internacionais no total de onze versões lançadas na sequência do primeiro disco também pelo Tranzmitter Records (do grande Marcos Paulo do qual sou eternamente grato).
10.Descobrindo os meandros da profissão o que lhe motivou, qual foi seu maior desafio de vocês até aqui?
Não é nada fácil hoje em dia você ser DJ e produtor, sabemos que temos que ser muito mais que isso, desempenhando papéis que nem sempre são apenas música, é preciso ser dinâmico e se “auto gerenciar”, e no começo quando estamos motivados em apenas fazer música (que sim é o principal objetivo e motivação) não temos a noção da complexidade que a carreira e o mercado exigem de nós nesses quesitos.
E isso é…, acredito que para maioria de nós, maior desafio, quando percebemos que não dá mais pra ficar em cima do muro ou voltar atrás uma vez que você já entrou nesse mundo e começa a se envolver seriamente cada vez mais com esse trabalho.
11.Qual foi o seu maior mindset no segmento até o momento?
Acho que a criação da gravadora Future Visions é a minha maior responsabilidade e que quando vi que era sério mesmo… tive que entrar de cabeça pra aprender a trabalhar de verdade e me diferenciar, senão seriamos apenas mais um label qualquer nas lojas por ai…
- Depois de tanto tempo na estrada você deve ter muitas histórias engraçadas e até casos não tão legais. Contem para nós um de cada desses momentos?
Olha teve muitas mesmo… mas tivemos uma bem engraçada de verdade…
o promoter e amigo Alex Caetano, certa vez teve uma ideia de fazer uma festa aqui no ABC em um imóvel abandonado que funcionava uma antiga loja de auto-peças…
Mas pra entrar no lugar e deixar ele com cara de pista, tivemos que desbravar centenas de caixotes de madeira tipo esses de frutas do Ceasa que eram empilhados em fileiras e usados como prateleiras no lugar.
Eu nunca vi tanta tranqueira junto… depois de fazer tudo limpar o lugar testar som e colocar a festa pra funcionar…
fomos buscar a Paula Chalup que era convidada especial da festa em um fusca azul todos espremidos…
saímos então pra fazer isso e na maior expectativa da chegada para a Paula tocar logo que descemos do carro a festa estava cheia de polícia e tivemos que acabar com tudo porque não tínhamos alvará e o volume do som…
Foi um mico do tamanho de um gorila rsrsrs… Acho que a Paula se lembra disso e com certeza deve rir muito até hoje…rsrsrs.
13.Qual é o lado mais bacana dessa profissão e o lado por vezes mais desagradável?
Para mim hoje o que me motiva de verdade e o que coloca meus pés no chão e me faz saber a importância do que estou fazendo é realmente quando recebo o disco de algum DJ | Produtor e logo na primeira audição percebo a dedicação e a sua arte em especial ali…
É muito gratificante ver que as pessoas confiam à você uma música e que isso traz consigo uma história, a essência do artista e uma porrada de sentimentos bacanas…
isso faz de cada release algo único e incomparável e que tento dar o melhor de mim para fazer com que a expectativa que eles carregam seja realmente traduzida em formato do lançamento, essa percepção não foi algo que consegui da noite pro dia, mas é o que faz a coisa ter um sentido de verdade pra mim.
Como já diz o Ditado: “Quanto maiores poderes, maiores serão as suas responsabilidades” e eu espero continuar fazendo meu papel muito bem em contribuição com a cena eletrônica no Brasil e no mundo.
A parte desagradável, é que infelizmente vivemos em um mercado de disputas, egos e favorecimentos, onde muitas vezes os que trabalham duro a tempos perdem espaço para boas campanhas de marketing e divulgação, rostinhos bonitinhos e certos artistas que não sabem nada sobre a música de verdade e quem começou tudo o que eles tem pronto ali facilmente.
Alguns que acabam de chegar e mal sabem apertar um play em um CDJ ou a maioria nunca sequer colocou as mãos em um toca-discos porém não tem a humildade de admitir isso…
A falta de lealdade, reconhecimento, e o também famoso “quero tudo só pra mim” que não incentivando outras pessoas que também tocam pra valer a terem o seu espaço, bloqueiam o crescimento e boicota a carreira de diversos e talentosos artistas e que ao meu ponto de vista, também devem ser vistos e ouvidos, pois, cada um de nós representa parte de um cenário nacional como um todo e fomentar isso de maneira correta, justa e saudável sem colocar nossos egos muitas vezes em primeiro lugar é algo que cabe a cada um de nós.
Muitos não tem seu devido valor por meritocracia e respeito a sua carreira dos outros Artista …
infelizmente essas práticas , atitudes e pensamentos imperam no mercado brasileiro e mundial… E cabe a nós que somos responsáveis pela cena, tentar reeducar esse tipo de conceito e mudar essa triste realidade. Abrindo espaço de fato pra quem tem um trabalho consistente e valorizando de verdade quem realmente começou tudo isso por aqui… nunca esquecendo nossas referências e raízes, e sempre respeitando quem já estava aqui antes de quando a gente começou. Isso é fundamental pra formar o caráter e a personalidade artística de qualquer DJ e produtor, sua base musical e seus fundamentos.
14.Quais são os planos atuais?
Atualmente estou iniciando um projeto com a “DJ Sound Mag” para escrever matérias, que também possui um “Web Chanel”
(Undervisions TV) e assim dar continuidade ao trabalho que o DJ Mau-Mau e o Guilherme M. faziam com a coluna “Musical Science”, nas páginas da DJ Sound. Além de continuar o trabalho com o Future Visions, também criei um outro projeto chamado “IVRAIC” ( meu nome Ciarvi ao contrário) que é o avesso do “Human Robot” e trabalha uma linha mais experimental, abstrata e dark para um label exclusivo do projeto chamado “Haedron Music” ,por onde já saiu o primeiro disco chamado “Terra Plana” e estou finalizando o segundo release chamado “Philosophy of Darkness”.
Além disso pretendo tocar bastante e reorganizar meu projeto de Live PA do Human Robot e Ivraic, logo que essa pandemia baixar, entrando também com a criação de um evento próprio pra representar os artistas que fazem parte do casting do Future Visions.
Também tive a honra de ser convidado para lançar pelo label DJ Sound Music” que tem distribuição pela gigante Universal Music.
15.Aonde quer estar nos próximos cinco anos?
Quero muito realizar o sonho de fazer minha primeira tour mundial e passar por todos os países que possuem DJs produtores que fazem parte do Future Visions e tocar bastante ao lado deles, trocar experiências e elevar o nível do label para criação do nosso próprio festival.
Viajando com a DJ Sound e também fazendo matérias exclusivas com os DJs e lendas locais por todos os lugares que passarmos. Tenho muita fé de que tudo isso já está escrito no destino, e que agora é só trabalhar bastante e manter o foco pra tudo acontecer.
16.Na sua visão quais são os seus maiores diferenciais para o mercado de música eletrônica?
Saber ser empático, nunca criticar ou falar de maneira negativa sobre outros DJs ou projetos citando nomes ou afins, ter ética e uma boa conduta diante das pessoas, ser cabeça aberta e ter originalidade no que está fazendo, não buscando copiar o que já foi feito mas com base nas raízes criar algo que realmente seja consistente alinhado ao seu “EU” artístico verdadeiro.
Saber trabalhar em equipe e respeitar o nível e o tempo de carreira e conhecimento de cada um, nunca menosprezar quem sabe menos que você porém sempre ser humilde pra reconhecer o degrau que você está… é isso por si só, já te faz crescer e muito.
17.Qual foi seu primeiro disco que você comprou?
Foi um piratinha “Real Hardcore 10” que trazia a música “Witch Doctor” do Armand Van Helden e Johnny Jungle…. tocava ele e outros em 2 aparelhos de som 3 em 1, que emendei os fios das caixas pra dar impressão de que tinha um mixer e ficava brincando de alí de DJ no meu quarto, isso lá em 1994 até 95, 96 rsrsr.
Comprei muitos discos assim nessa época e pouco mais tarde quando minha mãe me presenteou com meus primeiros toca-discos e mixer comecei a comprar os formatos 12” e originais de verdade nas lojas da Galeria 24 de Maio em São Paulo …
adquirindo muito conhecimento através das indicações do DJ Gu (Deophonik) e Dabolina Dabos. Inclusive tenho uma relíquia que é um disco do Surgeon pela Ideal Traxx que carrega o carimbo do acervo da Sound Factory até hoje no meu case…
A loja Discomania era do grande Oswaldo Mr. Groove que também era o proprietário do club e investia pesado no material pros DJs tocarem…privilégio.
18.Qual foi a primeira música que te impactou de fato?
Foram muitas, mas acho que a mais bonita, mesmo, e que eu sempre carrego comigo no coração é a “Asphyx” do Sterac (Steve Rachmad) que viralizou como um hino clubber por aqui e sempre era muito especial quando ouvíamos essa música na pista do Hell’s Club nas mãos do DJ MauMau, não adiantava outro DJ tocar a música que não soava da mesma maneira como ele mixava esse clássico…
é dai que você vê que não adianta copiar mesmo e pra ser um bom DJ deve-se sim buscar encontrar algo que tenha o mesmo “peso” em coisas que as pessoas ainda não ouviram e torná-los clássicos como este.
O Mau sempre foi um maestro e emplacou muitos discos bacanas de Techno por aqui que foram verdadeiras aulas de música pra todos nós que acompanhamos o seu trabalho
19.Tem algum hobby fora música?
Sim, eu tenho meus projetos de artes visuais e design, que são minha atividade profissional e que também quando comecei a pintar e desenhar, fazer design por hobby jamais acreditei que seriam o sustento da minha família. Graças a Deus sou muito privilegiado em tudo o que faço e fico feliz que as coisas estejam dando certo como estão.
20.Um sonho já realizado na música?
O reconhecimento mundial como DJ | Produtor e o convite pra fazer parte do label DJ Sound Music e repórter da “DJ Sound especialmente em um momento de comemoração dos 30 anos de existência da revista que sempre guiou meus caminhos desde sempre e que agora se concretiza nesse momento tão importante de consolidação de minha trajetória profissional.
21.Um sonho a ser realizado na música?
Fazer minha tour internacional com o Future Visions Label e a criação do nosso festival pra integrar todos que fazem parte do nosso casting.
22.Uma frase de efeito que faz parte do seu cotidiano?
“ Não sabendo que era Impossível, ele foi lá e Fez…” (Johnny Walker)
23.Qual a mensagem que você aria para quem quer entrar neste mercado de Música Eletrônica como você entrou.
Seja você mesmo, procure ser autêntico e verdadeiro em tudo o que fizer, respeite seus princípios suas limitações e faça algo que seja único sem copiar o que os outros fazem mas valorizando a sua verdadeira capacidade de expressão, seu talento e sua própria personalidade, afinal de contas música é negócio mas sempre será acima de tudo uma “ARTE”.
Links oficiais
Facebook:https://www.facebook.com/humanrobotdj https://www.facebook.com/JefersonCiarvi/
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Instagram: https://www.instagram.com/jefersonciarvi/
Beatport: https://www.beatport.com/artist/human-robot/139507
Resident Advisor: https://www.residentadvisor.net/dj/humanrobot
Mixcloud: https://www.mixcloud.com/humanrobotdj/stream/
SoundCloud: https://soundcloud.com/jefciarvi_humanrobot
OUÇA podcast especial feito pela Future Visions para DJ Sound:
by Gonçalo Vinha