Oriundo da “nova” cena underground de música eletrônica da capital paulista L_cio vem há anos semeando seu trabalho e os frutos pela sua dedicação e amor a música estão resultando em frutos generosos.
Sua atuação na cena é discreta e orgânica, algo no contraponto da geração de artistas da música eletrônica criada nas mídias sociais e outros imediatismos por vezes descomedidos e excêntricos (nada contra, afinal ó mercado é livre e cada um cria seus caminhos na forma que quiser e puder).
Uma das principais molas propulsoras da sua carreira são as festas como a Capslock e Mamba Negra, que vem atraindo um público diverso para fora dos clubs vivenciando festas em locais urbanos não antes ocupados por tal agitação ou fervo.
A música de L_cio seja nos sets live (ele apresenta-se no formato live act) ou nas produções musicais foi ganhando adeptos e não tardou a chegar nas mãos e ouvidos de Gui Boratto que tratou de contratar o jovem pródigo para o casting do seu selo D.O.C., o debut pela label de Boratto foi bem recebido pelos DJs e pela mídia especializada turbinando ainda mais os caminhos trilhados.
O artista participa dos showcases do D.O.C. no Brasil e exterior ao lado do mentor do selo e dos outros artistas como Elekfantz e Shadowmovement.
Além dos sintetizadores L_cio apoderou-se de um flauta (real!!! e não sampleada), instrumento, ainda, um tanto inusitado para os não iniciados na música eletrônica como um todo, ou que pensam que o casamento entre instrumentos acústicos e sintetizadores é apenas charme.
L_cio empunha a sua flauta nas apresentações de forma sublime, trazendo certo ar de poesia para a música das máquinas.
Com o seu nome caminhando a passos bem trilhados ele logo expandiu para projetos paralelos como o Lacozta, contratado há poucos dias para o casting de uma das maiores agências de artistas da E Music (ou Dance Music) do Brasil, a Plusnetwork (atual nome da ex-Plus Talent).
Neste início de 2017 os holofotes ficam com ele na mira, pois ele nos revelou que o primeiro álbum autoral esta para sair pelo D.O.C, e a agenda de apresentações vai bem, como a gig na primeira edição do festival holandês Dekmantel (leia mais: DEKMANTEL Festival), realizado há poucas semanas no Jockey Club em São Paulo, onde ele foi um dos protagonistas do festival que foi um raro sucesso de evento cheio de elogios pelo público e mídia.
Batemos um papo com L_cio e revelamos um pouco mais dessa figura pacata e sociável, que transmite belos beeps and blips no comando das pistas.
Links oficiais de L_ucio e da gravadora D.O.C.
Facebook.com/Lciolive
Facebook.com/doclabel
L_cio ao vivo:
Como aconteceu sua contratação pelo selo D.O. C?
L_cio: Aconteceu de forma bem natural, após ter minha música “People Talk (feat. Aroop Roy)” ter sido lançada pelo selo. Gui Boratto e o Pedrinho me conheceram mais e acabei sendo “adotado” pela família D.O.C.
Quais suas influências musicais?
L_cio: São bem amplas, da música clássica, jazz, chorinho, um pouco de grunge, até as referências “eletrônicas”.
Como começou a tocar flauta e de onde partiu a ideia de incorporá-la na sua música?
L_cio: Comecei a tocar com sete anos, por influência dos meus pais – tocava muito na igreja. Estudei uns 7 / 8 anos e após isso abandonei.
Após muitos anos e já produzindo e tocando, conheci o Alan (Portable aka Bodycode) que, numa conversa informal, descobriu que eu tocava flauta e pediu que gravasse pra ele – lançamos uns quatro ou cinco discos pelo Robert Johnson e Perlon – e após tocar com ele ao vivo no tour do Live at Robert Johnson – comecei a incorporar a flauta também no meu live (o que me ajudou muiiiiito).
Festas como Capslock e Mamba Negra parecem ter uma importância na divulgação do seu trabalho. Na sua visão qual a importância delas fora do circuito dos clubs?
L_cio: Essas festas são parte da minha vida e da minha história como artista. São manifestações reais do ser humano, buscando diversão / alegria. As festas fora do circuito dos clubs complementam e somam à cena como um todo (com novas referências, busca de novos espaços, novos artistas e performers, etc.…).
A velha pergunta: prefere tocar em clubs ou festivais?
L_cio: Prefiro tocar rsrsrs.
O que achou de tocar no festival Dekmantell em São Paulo? Pensou em algo diferente para apresentar nesse evento especial? E qual foi à expectativa antes do dia do festival.
L_cio: O festival foi ótimo, e mostrou que temos condições de receber e sediar um evento de nível altíssimo.
Tocar na Fabriketa foi muito bacana e fiz um live com muitas faixas novas e um tanto mais pesadas do que de costume. Toquei duas faixas do meu álbum que sairá esse ano pela D.O.C., e foram super bem na pista.
A expectativa foi normal como em todas as festas que toco. Sempre me preparo bastante como se fosse a principal gig.
Você achava de alguma maneira que a música eletrônica chegaria à popularidade de hoje inclusive com a possibilidade de se fazer música apenas usando um computador?
L_cio: Eu nasci em 1977, ou seja, nunca imaginei isso na minha juventude, e quando vi a primeira vez a possibilidade de fazer e tocar com computador, synths, etc. Pirei!
Como esta composto seu setup de equipamentos atual no estúdio e ao vivo? Tem alguma diferença?
L_cio: Sim, são bem diferentes. Meu estúdio tem poucos equipamentos.
Tenho um BassStation da Novation, um Vermona Monolancet, uma MFB-522, uma TR08 AIRA Roland, uma placa de som Focusrite i18i20, um filtro Effetrix e controllers. Pra tocar uso laptop, placa de som Babyface RME, uma APC-40 mkII, flauta transversal.
Exerce alguma profissão em paralelo a carreira artística?
L_cio: atualmente não.
Muitos na música eletrônica optam por serem DJs, mas você escolheu criar as suas próprias de onde partiu essa vontade?
L_cio: Partiu da curiosidade de entender como a música que escutava nas festas era produzida. Após isso me encantei com as performances “live” e não parei mais.
Hoje tenho quatro projetos de live bem distintos entre si (de setup e sonoridade) – Lacozta (com o Daniel Cozta), Gaturamo (com o Pedro Zopelar) e Teto Preto (com Laura Diaz akak Carneosso, Bica e Zopelar).
Teve medo em algum momento de alguma rejeição por parte de outros profissionais do mercado?
L_cio: Isso sempre acontece, mas é a insegurança normal de qualquer artista que apresenta apenas trabalhos autorais.
Alguma coisa lhe chateia no segmento de música eletrônica nacional?
L_cio: Sim. Festivais e festas que “pagam” artistas com convites ou outras formas de “pagamento”, transformando o artista em promoter.
Qual é a parte mais desgastante e a mais prazerosa da carreira como produtor musical?
L_cio: Mais desgastante acho que são as viagens sozinho (mas isso sinceramente não é um problema).
A mais prazerosa é poder viver de maneira mais livre, conhecendo muitas pessoas e lugares, além da música que está a todo tempo ao meu redor.
Quais os equipamentos que usa nas suas produções? Tem algum favorito que você usa em muitas das músicas?
L_cio: uso os equipamentos que citei acima, e muitas vezes gravo instrumentistas também. O synth que mais uso é o Vermona Monolancet.
Com as músicas que produziu imaginou de alguma forma que elas seriam lançadas por selos?
L_cio: Sim. Sempre produzi pensando em lançar e tocar.
Quando teremos oportunidade de ouvir um álbum completo?
L_cio: Esse ano. Será lançado pelo DOC. Está bem adiantado e está bem bonito.
Acredita num som eletrônico com alguma cara brasileira, assim como os alemães impuseram estilos como o minimal e techouse pelo mundo afora?
L_cio: Não sei. Não penso muito nisso, pois acho que uma música com a cara brasileira pode surgir de maneira orgânica, não-intencional.
Um exemplo é o Teto Preto.
Qual é o seu hobby?
L_cio: Passear com a Poema.
Alguma obstinação?
L_cio: viver bem antes de morrer (que é certo que vai acontecer)
O que almeja agora e para o futuro da sua carreira?
L_cio: Continuar meu trabalho de maneira orgânica (ao natural) sem muitas pretensões além do que já tenho conseguido. Quero que os outros projetos que faço parte também cresçam comigo.
Tem algum ritual ou mania que realiza antes ou durante cada apresentação?
L_cio: Sim. Gosto muito de ficar na pista antes de tocar, e depois olhar bem, bem mesmo para as pessoas pra tentar entender o que elas anseiam.
Quanto tempo se imagina dentro do mercado de música eletrônica? É algo que prospectou mesmo para seguir como carreira de longa duração?
L_cio: Eu nunca imaginei que estaria fazendo música eletrônica hoje.
E da mesma forma não faço planos muito longos, pois sei o quanto a vida é mutável.
Assim, tento aproveitar o momento que tenho vivido de maneira mais intensa e responsável pra que isso dure bastante e o suficiente.
Quais as dicas que você pode dar para aqueles que desejam entram na profissão para valer como você entrou?
L_cio: Saia bastante conheça as pessoas e produza.
Qual música lembra sua infância?
L_cio: Suite for Flute & Jazz Piano Trio – Jean Pierre Rampal & Claude Bolling
Qual foi seu primeiro disco comprado?
L_cio: Putz, não me lembro bem, mas acho que dos Menudos ou Balão Mágico ahahhah
by Gonçalo Vinha