Apateísta que não considera a existência ou inexistência de deuses relevante para a sua vida, o artista carioca radicado em Los Angeles Leopold Nunan aproveita a Quarta-Feira de Cinzas para exorcizar o desejo das religiões pela vida pós-morte com o single “Marchinha Fúnebre”. “Depois de morto, não quero nem saber”, ironiza, na letra, sobre a necessidade de se viver e de ser feliz no dia de hoje, no single que dá continuidade à divulgação de seu álbum de estreia, o queer “Leo from Rio”, batizado com seu codinome nos Estados Unidos. “Cada vez que vou ao Brasil, como no final de ano, vejo o aumento das religiões pentecostais. Deveriam prender todo pastor que fica rico às custas de pobre”, analisa. A faixa ainda ganhou dois remixes criados pelo produtor Buarky, nome artístico de Yuri Ferrari. de Osasco (SP). nos estilos UK Baile (encontro do funk com a house music) e funk rave. Produtor que começou sua carreira no hip-hop, ele agora foca em misturar ritmos brasileiros com música eletrônica e já tocou nas rádios EDC e BBC Radio 1. O primeiro single foi “Quem é teu baby”, com Sônia Santos e Ana Gazzola, em 2023.
“Marchinha Fúnebre” teve vocais de apoio gravados por João Pires Correia, o Criolo, cantor deficiente visual de Cabo Verde, e Eli Vasconcellos, e instrumentos gravados por músicos da Timbalada na banda. O clipe, com muito humor, está cheio de palhaços vividos pelo artista. O Dia dos Mortos mexicano também foi uma inspiração. O vídeo foi dirigido e editado pelo brasileiro Anthony Vanity, usando as tecnologias de Inteligência Articial (AI), Imagens geradas por computador (Computer-generated imagery/CGI) e Efeitos (FX), com maquiagem do lendário mexicano Alfred Mercado.
“Eu aprendi sobre indumentária e montação nos carnavais da vida. A inspiração para o clipe vem do próprio carnaval e de “El día de los muertos”. Encarno vários personagens que habitam a loucura e os devaneios carnavalescos. O carnaval tem esse espírito libertário de se permitir, soltar as amarras”, explica o artista. O día de los muertos se baseia na lenda de que os Mexica, o povo indígena dominante da era pré-hispânica, viajavam depois de morrer pelas nove regiões do submundo, conhecidas como Mictlan. Neste dia, milhões de famílias constroem altares em suas casas como forma de homenagear seus entes queridos.
“A faixa é uma ótima brincadeira entre alegria e um tema fúnebre. Diversão garantida nas pistas”, analisa Lucio K, carioca radicado em Salvador que produziu a faixa e deu o clima clubber do arranjo. O álbum com dez faixas foi todo gravado remotamente, na pandemia, com arranjos e instrumentos a cargo do prodígio mineiro Alberto Menezes.
O próximo single a ser lançado será “Pé de Maracujá”, com clipe gravado no Rio de Janeiro, no final de 2023, com participação do artista Márcio de Carvalho no lettering poético e visual. Depois dele, virá “5 meters”, com clipe gravado sob chuva no inverno severo de Seatlle. O artista fez a opção de ir lançando o álbum faixa a faixa, trabalhando cada single com clipes que são uma festa da imaginação e um delírio fashionista, especialidade de Leopold.
O primeiro single do álbum, o coco “Quem é teu baby”, ganhou clipe dirigido pelo premiado cineasta cearense Lucas Paz. O clipe foi inteiramente filmado em Los Angeles, na Wilshire Boulevard, na fachada em camadas do Petersen Automotive Museum, no Los Angeles County Museum of Art (LACMA), na obra “Urban Light”, uma floresta de luzes da cidade criada pelo artista Chris Burden, no Cherry Soda Studios e em parque de diversões da The Official Summer Fair of LA, no subúrbio. “O vídeo é uma ode ao amor de todas as formas, à diversidade, às minorias, à comunidade negra, à comunidade LGBTQIA+, aos diferentemente capazes, aos amantes dos bichos e das plantas”, resume Leopold, sobre o vídeo que ganhou dois prêmios no Latino Film Market, Conception International Film Awards (CIFA) e foi selecionado para 15 festivais.
O álbum foi financiado com recursos da Music Forward Foundation e do Citibank, que selecionaram dez projetos LGBTQIA+ de artistas imigrantes e pessoas de cor (Person Of Color/POC) entre mais de 250 mil propostas. Ele é portador da rara síndrome Charcot-Marie-Tooth (CMT), grupo hereditário de doenças do nervo periférico que afeta movimentos e sensações nos braços e nas pernas.
Mais sobre Leopold Nunan
Cantor, compositor, bailarino, ator e dublador, Leopold Nunan, também conhecido como Leo From Rio, começou a carreira musical com 19 anos, no Rio, com o lançamento de “I’ve Got it”, pela Utter Records, de Andre Gismonti.
Outros lançamentos musicais foram“Ballin’ in Beverly Hills”, tratado sobre ostentação com a drag queen carioca radicada em Nova York Pietra Parker, “Banzé”, com a gravadora australiana “Wile Out”e o líder do Xingu Anuiá Amary, “Feeling like myself again”, com clipe gravado no Rio com a participação de Lorna Washington, o divertido “Multiple Personality“, no qual faz 47 trocas de looks no videoclipe, “Got to be strong”, o funk “Bate Bum Bum”, com clipe gravado em Los Angeles.
Ele também fez, ainda no Brasil, trajetória no ballet moderno, participando de peças premiadas com Prêmio Sharp e Coca Cola de Teatro, como “Hair” e “Sweet Charity”. Leopold já cantou com Lady Miss Kier, do Deee Lite, Chaka Khan e Sheila E. no icônico Long Beach Gay Pride. Foi o favorito dos fãs no hit show do Food Network, de duas temporadas do hilário reality show “Worst Cooks in America”. No Brasil, ele cantou no programa “Amor e Sexo” de Fernanda Lima, fazendo uma homenagem histórica a Cazuza.
Leopold é dublador. É dele a voz do personagem Walescu na dublagem da telenovela colombiana “Chica Vampiro” (Gloob). Nas mídias sociais, tem várias composições que se tornaram virais, como “Pista elétrica”, “LGBTQIA+“, “Ta na cara”e “Eu tive em Copa”.
Remixes UK Baile e funk rave de Buarky
Marchinha Fúnebre
Composição: Beto Brown
LETRA
Depois de morto, não quero nem saber
As minhas cinzas não vão poder dançar
O meu gogó já não vai mais beber
Tá tudo lindo, mas que perfeito
Tudo tem fim e o fim
Não tem mais jeito
Tá tudo lindo, tá tudo certo
Foi só mais um que abotoou o terno
Para saber mais
Leopold Nunan