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Lore, dupla eletrônica pioneira retorna após 25 anos e faz show preview de novo álbum

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Lore é da gama de bandas nascidas no Brasil que preferiu fazer música com o uso de sintetizadores e baterias eletrônicas ao invés do rock e suas guitarras que dominavam o mercado. Imagine cantar em inglês e usar roupas pretas e coturnos como na Inglaterra e Bélgica.

A culpa é do New Order, Depeche Mode e de todas aquelas bandas europeias que contaminaram ouvidos e mentes destes artilheiros desbravadores.

Ao lado de outros artistas como Harry e outros que já se aventuravam no cenário da música eletrônica, o Lore desbravou um mercado com mais de uma centena de shows no circuito de clubs e casas de shows dos anos 90 construindo seu nome de forma independente, como manda o figurino no exterior (e que na maioria das vezes dá muito certo).

Lore

O ápice foi lançar um disco de vinil que acabou penetrando no mercado, inclusive por mãos de muitos DJs da época, que acabavam sendo o cartão de visita para o som criado por eles e que pouco depois aparecia ao vivo numa trincheira de sintetizadores e cabos.

A cena da uma nave vinda do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau deixando de boca-aberta, e até mesmo sem ação a plateia que até então presenciara pela primeira vez na vida um show de música eletrônica, é um dos parâmetros que nos remetem os shows para um público no mínimo desavisado, mas que também continha alguns antenados com as informações raras vindas do exterior através de revistas e semanários caríssimos disputados a tapa até pelas quantidades ínfimas que aqui chegavam.

E o tempo passou e 25 anos após iniciarem a aventura de musicistas os caras voltam aos palcos com mega-produção (incluindo: telão de Led, vídeos desenvolvidos para cada uma das músicas, e até transmissão por streaming em tempo real (“Real Time”), além de toda parafernália de synths, num preview do novo álbum, batizado de “Ideogram”, que será lançado em dezembro.

Ao subir no palco neste sábado (25/11), o Lore comemora 18 meses de trabalho árduo.

“Entre os próximos passos, estão o lançamento de um single com remixes da “one man band” Pitch Yarn Of Matter”, para o hit “The Lonely Man”, no início de 2018; que dá sequência a outros lançamentos, como nos confessou um dos integrantes, nos dando pistas de que outro álbum não tardará a chegar.

O Lore nos concedeu este bate-papo, em meio aos ensaios para do seu retorno, e tudo indica que vieram para ficar.

Qual o motivo do Lore ter se tornado uma dupla no lugar de um trio?
Marcos: Nós nos conhecemos e começamos a tocas juntos com apenas 17 anos. A banda “parou” em 1994, e ficamos quase sem contato por mais de 20 anos.

A ideia de voltar partiu do Pedro Ivo, que marcou uma reunião entre nós.

O José Osvaldo estava em um momento de vida onde não poderia se dedicar, e então escolheu não participar da volta. Foi uma opção dele e nós respeitamos.

As composições, porém, sempre foram minhas e do Pedro, e mantivemos essa forma de trabalho.

Vocês lançaram um vinil de forma independente nos anos 90, qual foi a maior dificuldade enfrentada por vocês na época?
Pedro: Naquela época conseguir um contrato com gravadora era um desafio do tamanho de ganhar na loteria.

Inspirados pelas bandas indies especialmente da Europa nós decidimos bancar a produção e prensagem de dois mil LPs, pois o CD mal havia chegado ao Brasil.

Como éramos adolescentes e nem renda tínhamos, contamos com a família para “patrocinar” a iniciativa.

Produzimos tudo em 2 ou 3 sessões de estúdio somente.

O disco, porém, acabou ficando tecnicamente muito bom.

Como conseguiram as informações de como programar e trabalhar com sintetizadores numa era sem internet como quando começaram?
Marcos: Fuçando muito… rs.

Conversávamos com amigos de outras bandas, líamos os manuais – coisa rara hoje – e íamos testando todas as possibilidades.

Começamos com sintetizadores e baterias eletrônicas “de brinquedo”, muito básicas, e começamos a comprar equipamento mais profissional justamente com o (pouco) dinheiro que os shows rendiam.

Mas realmente sofremos muito até descobrir como ligar dois sintetizadores e bateria entre si usando MIDI.

Aliás, programar em MIDI foi uma coisa que aprendemos basicamente tentando e errando. Até acertar….

Qual foi o processo de composição do novo álbum “Ideogram”?
Pedro: Na verdade não imaginávamos que lançaríamos outro álbum agora.

A ideia da reunião era apenas fazer alguns shows para celebrar os 25 anos de “Uncontrollable” e, para o show não ficar somente de passado, faríamos 2 ou 3 músicas novas.

Porém o processo acabou fluindo e as músicas foram simplesmente saindo.

Acho que idade e experiência de vida acabou ajudando, e a impressão é que trabalhamos juntos até melhor agora.

Quando demos conta já estávamos com quase 10 novas músicas, e realmente gostamos muito dos resultados.

Elas compõem um mosaico muito consistente, mais cada uma tem uma personalidade própria e única e uma sonoridade diferente. Estamos bem felizes com o resultado!

Quanto tempo durou entre vocês decidirem fazer um novo álbum e começarem a produzir o mesmo?
Marcos: A primeira reunião que tivemos foi em Julho de 2016, então todo o processo levou quase um ano e meio.

O processo foi muito natural, como o Pedro disse, começamos apenas reprogramando as músicas antigas e quando formos ver já estávamos com um novo álbum pronto.

Além disso, também estávamos produzindo o novo show….

Lore, Estúdio

Sobre o novo show e tour o que podem adiantar. Soubemos que há uma mega produção para a volta aos palcos após 25 anos.
Marcos: Nossos shows do passado eram bem… básicos. Éramos nós, nossos sintetizadores e muitos, muitos fios por todo o palco…rs.

Na verdade, não havia planejamento dos shows, escolhíamos um set-list as vezes minutos antes do show e entrávamos no palco.

Mas era um mundo mais simples. Hoje o público está acostumado com produções mais elaboradas e cuidadosas.

Pedro: Como o Lore agora é uma dupla, a responsabilidade de ter mais dinâmica no palco cresce.

Dessa forma buscamos ter sempre elementos visuais para completar a experiência de cada música.

E para isso teremos um painel de leds muito grande que ficará atrás da banda, projetando filmes feitos especificamente para o show.

Além disso, convidamos amigos de outras bandas para participar do show, o que sempre traz variedade de performances.

Como aconteceu a contratação para o selo Cri Du Chat Disques?
Pedro: Já conhecíamos um dos diretores da Cri Du Chat, de longa data. Isto facilitou mostrarmos o material do novo disco e negociarmos um contrato.

Qual foi o primeiro contato que tiveram com a Cri Du Chat Disques?
Marcos: A Cri Du Chat distribuiu originalmente o LP “Uncontrollable” em 1992, depois que finalizamos a produção. Já estão presentes na vida do Lore há 25 anos.

Pedro: Quando fizemos o LP em 92, fui em três selos tentar negociar a distribuição: Eldorado, Wop Bop e Cri Du Chat. Por afinidade de estilos, acabou que decidimos pela distribuição com a Cri Du Chat.

Quais são as influências do Lore?
Marcos: A banda mais importante da minha vida é o Depeche Mode. E em seguida o New Order e The Cure. Porém o Lore bebeu muito de fontes como o Information Society, Pet Shop Boys, Erasure, Front 242 e outros….

Pedro: Mesmas influências originais. Mas tenho muito interesse por instrumentos musicais ‘exóticos’ e tento incorporá-los em nossas músicas.

Lore, Equipamentos de Estúdio

Como esta composto o seu setup de equipamentos hoje no estúdio?
Pedro: Nas composições e programações eu uso o Reason, e o Marcos o Sonar.

E com essas workstations usando diversos plug-ins, muitos que emularam os antigos sintetizadores dos anos 70, 80 e 90. Além disso, usamos também equipamentos vintage como Korg Poly-800.

Temos um Roland Juno que participa do setup, além de periféricos como o Korg Kaoss Pad, Roland TM-12, controladores Yamaha e Behringer e também um Telemin.

Tem algum instrumento favorito que vocês usam em muitas das músicas?
Marcos: O Juno está sempre nas músicas, e nas do Pedro tem sempre alguma coisa do Poly 800 também…

Vocês acreditavam de alguma maneira que a música eletrônica chegaria à popularidade de hoje, inclusive, com a possibilidade de se fazer música apenas usando um computador?

Marcos: A música eletrônica nos EUA e Europa já era muito popular nos anos 80.

A diferença é que lá, já no final dos anos 70 e início dos 80, a tecnologia já era acessível a pessoas “comuns”, tanto que o Depeche Mode, mesmo sendo meninos humildes de Essex já tinham sintetizadores Moog e outros “mimos” que no Brasil custavam o preço de um carro zero KM.

Nós, no início, usávamos instrumentos que estavam longe de ser profissionais e ainda assim eram caríssimos.

O computador que é usado hoje, porém, pode ter banalizado um pouco a música eletrônica.

A turma que começa hoje precisa ouvir mais o passado para ter as bases para criar algo novo.

Vocês fizeram uma centena de shows nos anos 90, em algum aconteceu alguma coisa inusitada? Se sim, contem.
Marcos: Tocamos em shows completamente diferentes entre si, alguns em cidades do interior onde a presença de 3 caras no palco apenas com equipamentos eletrônicos era motivo de espanto para todos.

Em alguns shows as pessoas ficavam apenas olhando e tentando entender de onde vinha o som….
Pedro: E também muitas situações inusitadas.

Não tínhamos “roadies”, então nós mesmos tínhamos que chegar cedo, montar o equipamento inteiro, fazer o show, depois esperar todos irem embora e desmontar tudo.

Eram quase 10 sintetizadores, 2 baterias eletrônicas, 5 ou 6 racks de teclados, enfim, muita coisa.

E num show que fizemos na antiga Hoelish, o meu carro – que levava toda essa tranqueira e nós três inclusive – ficou sem bateria quando já havíamos colocado tudo no carro.

Eram 5 horas da manhã, numa sexta-feira (o show foi na quinta à noite).

Então nos disseram que na Rua Maria Antônia, que ficava a 3 quarteirões de lá, havia uma auto-elétrica 24 horas.

Decidimos ir a pé até lá para comprar uma bateria nova.

Porém, nós tocávamos com coturnos, sobretudos pretos, correntes penduradas no pescoço, enfim… imagine a cena – os três andando pelo meio da Rua da Consolação, às 6 da manhã, enquanto as pessoas dirigiam para o trabalho….uma cena surreal….rs

Marcos: Tivermos também histórias nos hotéis “pulgueiros” onde ficávamos hospedados – como uma em Itajubá -MG onde uma doida tentava se “suicidar” pulando do primeiro andar e não deixava a gente dormir…rs…até uma cidade do interior onde o público, ao ver fitas cassete com programação, achou que fazíamos “playback”….olha, daria pra escrever um livro de histórias com os 4 anos que fizemos shows (de 1989 a 1992)….

Lore em Show no Hoelish em 1993

Exercem alguma profissão em paralelo a carreira artística?
Pedro: O Marcos trabalha com Marketing e eu com TI… viver apenas de música ainda não é uma realidade….

Muitos na música eletrônica optam por serem DJs, mas você escolheu criar as suas próprias músicas. De onde partiu essa escolha para cada um de vocês?
Marcos: Fazer música eletrônica como uma banda, com instrumentos, composição e produção sempre foi nossa diretriz.

Até fazíamos “covers” nos anos 90, mas ser DJ nunca passou pela nossa cabeça.

Pedro: Optamos pela criação artística a partir do modelo que gostávamos mais.

Cresci escutando bandas e me interessei mais por este modelo. Mas nada impede que façamos algum trabalho em conjunto com algum DJ no futuro.

Tiveram medo em algum momento de alguma rejeição por parte de outros profissionais do mercado?
Marcos: Não que eu me lembre.

Sempre gostamos muito de ouvir as opiniões sobre nossas músicas, mas acreditamos muito no nosso trabalho e realmente não temos medo.

Nenhum.

Alguma coisa lhe chateia no segmento de música eletrônica nacional?
Marcos: Somente o fato que o Brasil não entende a música eletrônica como ela realmente é.

As pessoas sequem sabem que ela é um gênero dentro da música em si.

A indústria cultural no Brasil é voltada somente ao popularesco e se preocupa em mostrar ao público a diversidade musical que existe no pais – incluída ai a musica eletrônica.

Qual é a parte mais desgastante e a mais prazerosa da carreira como produtores musicais?
Marcos: Desgastante é mixar e masterizar as músicas.

O trabalho nunca tem fim – você simplesmente em algum ponto decide que dá pra avançar – mas nunca está satisfeito.

Sempre que ouço uma música nossa penso “mas dava para fazer melhor” – apesar de dias e horas gastos naquela mesma música.

Prazeroso, porém, é ver as reações da pessoas e ver alguém cantando sua música – isso é o máximo!
Qual é o seu hobby?
Marcos: Música e cinema.
Pedro: Board games, séries de TV.

Alguma obstinação?
Marcos: Essa não seria a palavra – mas levar o Lore a ter um lugar na música eletrônica mundial seria algo que quero muito.

Pedro: Sim, preparamos um material e show padrão exportação. Creio que logo veremos o LORE em algum festival internacional.

Algum sonho que gostaria de realizar na música?
Marcos: Taí a palavra da pergunta anterior… rs.

Pedro: Tocar junto com algum dos meus ídolos… já pensou !?

O que almejam agora e para o futuro da sua carreira?
Marcos: Queremos muito que o Lore contribua para a divulgação da música eletrônica brasileira – e quem sabe inspirar uma nova geração que vem por ai.

Pedro: Estamos com músicas novas muito legais e almejamos continuar compondo e tocando, e porque não, representar o país neste segmento do mercado.

Tem algum ritual ou mania que realiza antes ou durante cada apresentação?
Marcos: Que eu lembre nunca tive nada parecido… rs.

Pedro: Costumávamos relembrar estórias de shows passados antes de tocar – pra passar o tempo enquanto esperávamos pelo início das apresentações.

Qual musica lembra sua infância?
Marcos: Meu pai ouvia muito “Let it be”, dos Beatles.

Pedro: Músicas de programas e novelas da TV – meu preferido entre os LPs da minha mãe era a trilha sonora da novela Saramandaia e um compacto da trilha sonora do filme Cria Cuervos.

Qual foi primeiro disco comprado por vocês?
Marcos: O primeiro disco que comprei foi o “Dois”, do Legião Urbana. Mas o primeiro disco de eletrônica foi “Music For The Masses”, do Depeche Mode. Pirei…rs.

Pedro: O primeiro disco que comprei foi “In Concert” do The Cure. O primeiro de música eletrônica foi “Substance” do New Order – acho que foi o disco até hoje que mais ouvi.

LORE:
Página oficial: www.facebook.com/LOREOfficialpage/
Cri Du Chat Disques: www.facebook.com/criduchatdisques | @criduchatdisques
Serviço:
Show Lore
Quando: sábado 25 de novembro
Abertura do club: 22h00 | Show: 23h30, haverá DJ completando o clima da noite.
(infos no: https://www.facebook.com/events/1701763683452721/)
Onde: Octo Street: R. Inácio Pereira da Rocha, 367 – Pinheiros, São Paulo – SP | Tel: (11) 3042-5337

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