Entrevista Los Hermanos e álbum com Jeff Mills e banda

Gerald Mitchell é uma das figuras-chave na evolução da cena musical eletrônica de Detroit. Multi-instrumentista, produtor e DJ, ele é mais conhecido por seu trabalho como líder do Los Hermanos, um projeto que mistura techno, house, jazz e soul, criando um som inconfundível que ressoa com a rica história musical da Motor City.

 

Tive a honra de tê-lo como convidado especial no meu Evento “Future Visions” que aconteceu no Spkrbox Detroit e nosso encontro resultou nessa entrevista exclusiva para DJ Sound Brasil.

Gerald Mitchell: A Visionary of Detroit’s Electronic Soul
Gerald Mitchell is one of the key figures in the evolution of Detroit’s electronic music scene. A multi-instrumentalist, producer, and DJ, he is best known for his work as the leader of Los Hermanos, a project that blends techno, house, jazz, and soul, creating an unmistakable sound that resonates with the deep musical history of the Motor City.
I had the honor of having him as a special guest at my “Future Visions” Event that took place at Spkrbox Detroit and our meeting resulted in this exclusive interview with DJ Sound Brazil.

A Jornada do Los Hermanos
Mitchell começou sua carreira influenciado pelo gospel, funk e jazz, elementos que mais tarde definiriam sua assinatura sonora. Sua conexão com a Underground Resistance (UR), o influente coletivo de techno de Detroit liderado por Mad Mike Banks, foi um ponto de virada crucial. A partir daí, ele lançou o Los Hermanos, um projeto que abraça uma abordagem mais melódica e soul do techno, incorporando ritmos latinos e melodias intrincadas.

The Journey of Los Hermanos
Mitchell started his career influenced by gospel, funk, and jazz, elements that later defined his signature sound. His involvement with Underground Resistance (UR), the influential Detroit techno collective led by Mad Mike Banks, was a crucial turning point. From there, he launched Los Hermanos, a project that embraced a more melodic and soulful approach to techno, incorporating Latin rhythms and intricate melodies.

Algumas de suas faixas mais aclamadas incluem:
“Birth of 3000” (2002) – Um hino do techno de Detroit, com acordes emocionantes e o espírito futurista da UR.
“Quetzal” (2003) – Uma fusão hipnótica de ritmo e melodia que exemplifica a interseção da música eletrônica com influências globais.
“Central Nervous System” (2005) – Uma faixa de alta energia que destaca a maestria de Mitchell na síntese e no arranjo.
Some of his most celebrated tracks include:
“Birth of 3000” (2002) – A track that became an anthem in Detroit techno, featuring deep emotional chords and UR’s futuristic spirit.
“Quetzal” (2003) – A hypnotic blend of rhythm and melody that exemplifies the fusion of electronic music with world influences.
“Central Nervous System” (2005) – A high-energy track that showcases Mitchell’s mastery of synthesis and arrangement.

 

Spiral Deluxe: A Colaboração com Jeff Mills
Além do Los Hermanos, Gerald Mitchell também é um membro essencial do Spiral Deluxe, um projeto de jazz eletrônico improvisado liderado pelo lendário Jeff Mills. Este projeto combina a espontaneidade do jazz com as paisagens sonoras futuristas do techno. Como tecladista, Mitchell traz seu toque soul ao grupo, contribuindo para um som profundamente orgânico, mas inegavelmente eletrônico. O EP “Tathagata” (2018) destaca essa abordagem inovadora, fundindo a precisão rítmica de Mills com as progressões harmônicas envolventes de Mitchell.
A habilidade de Mitchell em mesclar passado, presente e futuro do som de Detroit solidificou sua posição como um verdadeiro visionário, mantendo o espírito do techno vivo enquanto o impulsiona constantemente para novas direções.

Spiral Deluxe: A Collaboration with Jeff Mills
Beyond Los Hermanos, Gerald Mitchell has also been a key member of Spiral Deluxe, a live improvisational electronic jazz project led by the legendary Jeff Mills. This project combines the spontaneity of jazz with the futuristic soundscapes of techno. As the keyboardist, Mitchell brings his soulful touch to the group, contributing to a sound that is deeply organic yet unmistakably electronic. Their EP “Tathagata” (2018) highlights this innovative approach, merging Mills’ rhythmic precision with Mitchell’s lush harmonic progressions.
Mitchell’s ability to blend the past, present, and future of Detroit’s sound has solidified his place as a true visionary, keeping the spirit of techno alive while constantly pushing it forward.

 

Entrevista com Gerald Mitchell
(Interview with Gerald Mitchell)

Los Hermanos tem um som único que mistura techno, jazz e influências latinas. Qual foi sua principal inspiração para desenvolver esse estilo?
Desde o início da minha carreira musical, comecei tocando música gospel na igreja do meu pai e também em bandas do bairro, tocando rhythm and blues. Mas eu também ouvia diferentes gêneros musicais que tocavam no rádio, como blues, jazz, jazz fusion, funk, soul, rock, pop, etc. Antes do techno, eu também escutava rádios latinas e aprendia a tocar alguns riffs porque gostava muito da energia.

 

Mas quando fui apresentado ao techno pela Underground Resistance, criei meu som como “The Deacon”, também conhecido como “Soul Saver”, utilizando elementos do gospel na minha música. Um dia, decidi faltar ao meu trabalho das 9 às 17 na General Motors e fui visitar a Submerge. Lá estavam Mike Banks e DJ Rolando no estúdio tentando criar uma faixa para o set de Rolando.

 

Banks me perguntou se eu sabia tocar música latina e eu disse que sim, pois já havia experimentado aqueles ritmos. Então ele pediu que eu tocasse, e a primeira parte que você ouve em Knights of the Jaguar foi um riff que eu estava praticando. Usei aquilo e tanto Mike quanto Rolando gostaram.

 

Após o sucesso de Jaguar, criamos juntos uma fórmula. Eu e Rolando então pedimos a Mike Banks para lançar o selo Los Hermanos, e foi aí que percebi que a fórmula de combinar riffs latinos com acordes gospel estava formada — e assim nasceu o Los Hermanos.

(Los Hermanos has a unique sound blending techno, jazz, and Latin influences. What was your main inspiration for developing this style?)
(Since the beginning of my music career I started off playing Gospel music in my father’s church and also playing in neighborhood bands playing rhythm and blues but I was also listening to different genres of music that would play on the radio like blues, jazz, jazz fusion, funk, soul, rock, pop etc… and before techno, I also would listen to latin radio stations and learn to play some of the riffs because I really liked the energy but when I was introduced to techno by underground resistance I created my sound as the deacon aka soul saver using gospel elements in my music, sonone day I decided to skip my 9 to 5 job at General Motors and went to visit submerge and there was Mike Banks and Dj Rolando in the studio trying to create a track for Rolando to dj and Banks asked me could I play latin music and I said yes I’ve experimented with those rhythms so he asked me to play so the first part you hear on Knights of the Jaguar was a riff. I had been practicing so I used that and both Mike and Rolando liked it. Then after the success of Jaguar we all had created a formula myself and Rolando then asked Mike Banks to launch the label Los Hermanos and from there I knew the formula to combine latin riffs with gospel chords and Los Hermanos was born.)

Você trabalhou de perto com a Underground Resistance. Como essa experiência moldou sua carreira musical?
No começo, eu não ligava muito para techno ou house porque achava repetitivo e, na maioria das vezes, fora de tom. Depois de muitas tentativas, eu ainda não conseguia encontrar a fórmula certa — até que um dia gravei Soul Saver e depois Hard Life, com meu primo Ron Mitchell nos vocais principais e de fundo.

 

Eu fiz menos e mantive apenas uma batida simples, e funcionou.

 

A partir daí, comecei a prestar atenção no que outros artistas estavam fazendo, mas queria adicionar algo diferente, porque a música de pista estava se tornando fácil e divertida para mim. Mas, acima de tudo, isso me ensinou a quebrar as regras da música, a me concentrar na batida e aceitar que nem tudo precisa estar perfeitamente afinado — e isso despertou meu interesse em aprender a discotecar.

(You have worked closely with Underground Resistance. How did this experience shape your musical career?)
(At first I didn’t care much for techno or house because it was repetitive and mostly out of tune but after many attempts I couldn’t get the formula then one day
I recorded Soul Saver and then Hard Life with my cousin Ron Mitchell who sang the lead and background I did less and just kept a simple groove and It worked so I begin listening to what other artist were doing but I wanted to add something different because dance music was becoming easy and fun for me but most of all it taught me how to break the rules of music and concentrate on the groove and accept the fact that everything doesn’t have to be in tune which sparked my interest in learning how to dj.)

Sua colaboração com Jeff Mills no Spiral Deluxe traz um forte elemento de improvisação do jazz para a música eletrônica. Como esse projeto se diferencia dos seus outros trabalhos?
Basicamente, a ideia foi do Jeff Mills. Ele queria um grupo que simplesmente improvisasse. Como ambos amamos jazz e jazz fusion, começamos a experimentar, mas abandonando a construção tradicional do jazz, onde todos tocam uma linha principal e depois cada músico faz um solo sobre as progressões de acordes.

 

Jeff sentia que devíamos tocar o que sentíssemos, sem linhas principais definidas, sendo mais expressivos. Isso me deu liberdade para criar diferentes progressões de acordes e mudanças de forma espontânea. Na maioria das vezes em que gravamos, leva apenas alguns dias para criar uma música, sem direção definida.

 

Depois, Jeff edita todas as partes gravadas, mas eu costumo manter a mesma fórmula que mencionei anteriormente.

(Your collaboration with Jeff Mills in Spiral Deluxe brings a strong jazz improvisation element into electronic music. How does this project differ from your other works?)
(Basically the Idea was Jeff Mills he wanted a group that would just improvise and because we both loved jazz and jazz fusion we started experimenting but abandoning the idea of how jazz is constructed with everyone playing a lead line and then each member soloing over the chord progressions Jeff felt we should just play what we felt with no particular lead lines and become more expressive, so that gave me the freedom to create different chord progressions and changes on the fly and most times that we have recorded it only takes us a couple of days to create a song with no particular direction then Jeff would edit all the parts that were recorded but I usually keep the same formula which I previously discussed. )

A cena de música eletrônica de Detroit tem um legado profundo. Como você vê sua evolução nos dias de hoje?
É interessante e eu estou sempre buscando um som novo. Mas às vezes fica um pouco entediante quando ouço o mesmo padrão de batida de uma música para outra — isso porque as pessoas estão deixando o computador pensar por elas, usando os mesmos presets. No meu caso, estou sempre cavando mais fundo para criar uma quantização diferente nas minhas faixas.

 

Entendo que o que funciona para mim é a elevação de uma música usando cordas e acordes densos, sempre construindo em cima da batida — e isso sempre funcionou nas pistas de dança. Ainda assim, sigo buscando padrões, ritmos e sons mais inspiradores, mantendo aquele elemento funky e soul, às vezes combinado com um sample de alma ou som característico.

(Detroit’s electronic music scene has a deep legacy. How do you see its evolution today?)
(It’s interesting and I’m always searching for that new sound but then it gets a bit boring when I hear the same clock from song to song and that’s because people are using the computer to think for them and using the same presets but as for me I am always digging deeper in creating a different quantization in my tracks and I understand what works for me is the lift in a song using strings and thick chords always building on the groove and it has always worked on dance floors however I am still searching for more inspirational patterns rhythms and sounds but keeping that funky soulful element combined with a soul sample or sound at times)