A cantiga que reverencia Ogum, presente na introdução da música “Tambor de Aço”, de Marcelo D2, abre os caminhos para a mostra ALAKORÔ, do cenógrafo e artista plástico Sergio Marimba, que entra em cartaz no feriado de São Jorge, acá Ogum, dia 23 de abril, na Ocupação IBORU, centro histórico do Rio de Janeiro. A inauguração vai receber o público das 11 às 19h, com DJ Set, batuques e cantorias para Ogum, e feijoada do Agô Bar da Encruza.
Sergio Marimba, que já assinou a cenografia de diversos shows de Marcelo D2, como Nada Pode Me Parar e AMAR é para os FORTES, vai apresentar instalações que homenageiam Ogum em assentamentos forjados por ele em ferro e aço. ALAKORÔ é o instrumento utilizado para invocar o Deus do ferro, pertencente ao culto de Ògún, mais precisamente a uma divindade conhecida pelo nome de Akoro um dos filhos de Ògún Alágbède e é utilizado nas Festas Anuais para invocar o Deus do Ferro. Formado por dois sinos em ferro forjado, preso a uma cadeia de elos ou corrente.
A “Ocupação IBORU”, movimento criado por Marcelo D2 e Luiza Machado em 2023, recebeu mais de 120 mil visitantes no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. O projeto foi um desdobramento do álbum de mesmo nome, apontado pela APCA como um dos melhores do último ano.
Se em 2023, Marcelo D2 e Luiza Machado uniram arte, moda, educação, tecnologia e comportamento sob a batuta deste novo samba tradicional, agora, o foco é ainda mais direcionado à música. Em 2024, a musicalidade do artista assume o protagonismo neste novo espaço, refletindo a contínua busca de Marcelo D2 por experimentações sonoras e compartilhamento de seu processo criativo.
O espaço abrigou esse ano a exposição de fotografia “Linhagem Suburbana” de Wilmore Oliveira, AKA Youknowmyface, sob a curadoria de Marcelo D2 e Luiza Machado, e continuará recebendo uma série de eventos e atividades, incluindo ensaios abertos de Marcelo D2 com convidados especiais, lançamentos de livros, oficinas e debates.
Confira o texto de apresentação da exposição, por Bianca Ramoneda, jornalista, escritora, roteirista e curadora da exposição:
FORÇA, FÉ E FESTA
Três palavras são inseparáveis das criações de Sérgio Marimba: ferro, garimpo e espiritualidade.
Autodidata, formou seu olhar no subúrbio do Rio, sendo cria de Bangu, zona oeste da cidade. Foi nas ruas deste bairro que, em companhia do seu avô, aprendeu sobre garimpos e que seus olhos de menino encontraram no ferro uma conexão que iria acompanhá-lo para o resto da vida. Ele ainda não sabia, mas saberia logo depois: essa conexão vinha de algo bem maior. O mesmo avô que o acompanhou na infância o levou para o caminho da espiritualidade e Marimba descobriu ser filho de Ogum. A costura estava feita e apenas começando.
Daí por diante, o ferro atravessa todas as criações – e não são poucas – desenvolvidas pelo artista ao longo de mais de 40 anos de carreira: cenários para teatro, shows, clipes, alegorias gigantescas para escolas de samba, séries autorais de esculturas, objetos e instalações. E se torna uma assinatura que vai muito além da estética.
Sergio Marimba é um artista do fazer. Um artista de ateliê. Tudo o que ele cria precisa passar por suas mãos, pela habilidade dos dedos, pela força dos músculos, pela delicadeza dos detalhes e pela composição minuciosa de elementos que ele reúne ao longo de uma vida aguardando o momento certo para entrarem em cena. Por isso, suas obras contém e falam sobre o tempo, o gesto, o trabalho.
As ferramentas de Ogum encontram, assim, um paralelo no próprio processo do artista. No fogo que solda, nos instrumentos usados por tantos trabalhadores e trabalhadoras do nosso país, na ferrugem ocre que fala sobre transformação e permanência. Na solidez da resistência do ferro, elemento do guerreiro sempre pronto pra sua luta incansável. Luta também de um povo aqui representado em sua lida diária.
Arte e espiritualidade, tempo e matéria, significado e imaginação – tudo conta uma história que só se completa com a percepção do público, com o coração aberto de cada um que abre a porta para essa conversa.
É o que desejamos que você encontre neste assentamento que ocupa o “Centro de pesquisa avançada do novo samba tradicional”. Um lugar de encontros. De cantos, de batuques, de memórias e vida. De força, fé e festa. Alakorô, Ogum nosso pai.
Bianca Ramoneda
Sobre o artista:
SÉRGIO MARIMBA, é artista plástico e cenógrafo. Autodidata, iniciou sua carreira em 1982 no carnaval, desenvolvendo estruturas e esculturas em metal para alegorias e fantasias para as escolas de samba no Rio de Janeiro. Mesmo trabalhando como cenógrafo em teatro, televisão, cinema, shows e eventos, continuou com os projetos de carnaval, tendo sempre como desenvolvimento principal as estruturas em ferro, movimentos e materiais alternativos nas confecções das alegorias. No decorrer do processo de pesquisas com materiais alternativos, deu ênfase a cenários no teatro.
Especialmente nas artes cênicas, trabalhou na criação de cenografia com renomados diretores. Foi premiado com o Mambembe, Rio Dança e outros. Em 1998, participou do Oerol Festival, na Holanda, como cenógrafo convidado da companhia de teatro Dogtroep. Trabalhou em mais de 180 produções de espetáculos de teatro, música, dança e eventos. Recentemente foi indicado para 5 prêmios de teatro com peça em cartaz “O Auto do Reino do Sol” da Companhia A Barca dos Corações Partidos. E ao 12° Prêmio APTR com o espetáculo “Monólogo Público” do Diretor e ator Michel Melamed – E também indicado como Cenógrafo pelo conjunto da obra ao PRÊMIO PROFISSÃO ENTRETENIMENTO 2017/ IATEC – SESC.
Nas artes plásticas tem como conceito a memória e o tempo da matéria, usando como matéria-prima essencial o ferro oxidado, materiais e objetos usados, que tenham a característica como marcas de uso e tempo. Em seu trabalho atual tem usado fotografias antigas que resgata em lixões, feiras de antiguidades e colecionadores. Frequentou cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, participou de várias mostras individuais e coletivas.
Serviço
Cará Residência Artística apresenta ALAKORÔ – Uma exposição de Sérgio Marimba
Local: Ocupação IBORU
Endereço: R. Sete de Setembro, 43 – Centro, RJ
Vernissage aberta ao público dia 23 de abril de 11 às 19h
Período: De 23 de Abril a Junho
Horário: Terça a Sábado, das 11h às 19h
Programação gratuita, por ordem de chegada e sujeita a lotação
Confira a programação completa no Instagram do artista – @marcelod2
Projeto – “IBORU”
Produção: Pupila Dilatada
Realização: Pupila Dilata e Elemess
Management: Elemess
Distribuição: Altafonte
Assessoria de comunicação e PR: Lupa Comunicação
Comunicação digital: Moving