A treta de Peter Hook com a sua ex-banda New Order corre solta nos tribunais ingleses, e há audiência marcada para o primeiro semestre de 2017 (leia: https://www.djsound.com.br/peter-hook-processa-new-order-em-tribunal-da-inglaterra/), nem por isso tirou o gás da sua nova tour pelo Brasil que deu sold-out por onde passou.
Hook iniciou o seu tour pelo território brasileiro após o New Order fazer um show memorável em São Paulo (numa redenção aos fatídicos shows anteriores, para quem foi ainda no primeiro show deles no ginásio do Ibirapuera exatos 28 anos atrás, com sofrência de acústica, P.A. e de que Bernard Sumner não canta “porra” nenhuma fora do estúdio, nesse quesito ok, afinal é New Order), com poucas entrevistas, o péssimo humor inglês, e querendo bancar o chefão e dono da razão perante sua saída (unilateral) do New Order, num tom de enfrentamento midiático e bobo para um artista rico e que ainda recebe percentual do cache por cada show feito pelo New Order atualmente por decisão da banda.
Numa calorenta noite de primeira no Cine Joia (06/12), na capital paulista, Mr. Hook fez sua missa cultuada por uma geração de fãs, à custa do glorioso passado na seminal banda Joy Division (saiba mais: https://www.djsound.com.br/morte-de-ian-curtis-fez-nascer-o-new-order-e-redefiniu-a-dance-music/), que deu origem ao New Order influenciando toda uma geração de Dance Music, da House de Chicago ao Techno feita em Detroit e Berlin, tornando-se uma dos artistas mais icônicos dos anos 80.
O pretexto de Peter Hook em sua nova tour foi juntar num caldo, o repertório do Joy Division (segunda parte do show) e New Order, já que ele veio em outras oportunidades solo ao Brasil em anos anteriores, como o micado show do seu grupo Mônaco, com um público de 200 (!) pessoas que o irritou e fez com cancela-se o show pela metade em cima do palco, atitude nada honrosa para um lorde da música como ele; e numa outra passagem veio destilando os clássicos do Joy Division.
Nem pela cara “caça-níqueis” deste tour o show deixou de ser divertido e eficiente, o cara continua mandando muito bem no seu instrumento, é um bass hero nato (alguma banda de indie rock atual poderia contratar o old boy), a banda é afiada, mas Hook parece ter esquecido metade das letras das músicas (ridículo e risonho ao mesmo tempo, tosqueira que só um ícone cult como ele passa incólume anti-crucificado pelos seus fãs), uma pastinha de arquivos com as letras das músicas era esfolheada em momentos do show por Hook na maior cara-lavada, e o público ali suando e pulando.
Um show instrumental, sem a voz dele, poderia também ser divertido e até lisérgico (vai que britânico se empolga e solta um show instrumental, ou um Peter Hook e orquestra… rs).
Na música surpreendeu ao mandar hits maciços como “Blue Monday” na sua versão crua, aquela que esta no disco (por sinal um dos 12 polegadas mais vendidos na história da indústria da música mundial), “Cerimony”, “Perfect Kiss” deram aroma de nostalgia e esse era o maior mote, senão o único do show.
Feita uma pausa no meio do show, onde uma trilha sonora composta por “Autobahn” (uma das músicas preferidas de David Bowie), do Kraftwerk dividia o show para segunda parte composta pelo repertório do Joy Division.
No segundo e derradeiro ato, as músicas do Joy Division alternaram em momentos arrastados (e até chatinhos!), e uma abestada e desnecessária homenagem ao time Chapecoense morto no acidente de avião, com direito a “intruso” da produção do show falando em português; mas tudo compensado com a euforia emotiva e tristonha de “Love Tears Appart”.
Por mais de duas horas Peter Hook embriagou com diversão o público presente no Cine Jóia, numa acertiva contratação do show (que poderia ter ficado com cara de vazio num espaço maior), subestimada por muitos que disputavam em vão algum ingresso ou pediam novo lote para a casa de capacidade esgotada para o histórico show.
Se Peter Hook vier novamente ao Brasil contar essa história por quantas vezes quiser, com certeza a plateia vai responder, afinal é um dos reis da música no palco e é isso que importa.
Restou uma volta para casa com as roupas pretas suadas de felicidade e um maroto e pomposo sorriso no rosto.
Foi a cereja do bolo nesta reta final e “maratonística” de shows nesse ano de 2016, que transpôs a crise com variedade de estilos incluindo os grandes festivais.
Assista a vídeos de Peter Hook na página oficial da DJ Sound TV:
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by Gonçalo Vinha e Debora Putzolo