Aos 88 anos o compositor britânico Peter Zinovieff, considerado um pioneiro na criação do uso de sintetizadores na música.
A morte foi na noite de quarta-feira (24 de junho 2021), mas veio a público apenas neste sábado 27/06.
Peter Zinovieff sofreu uma queda em casa, ficou internado por dez dias, mas não resistiu às complicações.
A informação foi confirmada pelo amigo e também compositor James Gardner.
Peter Zinovieff contribuiu a moldar a música Pop desde a década de 1970 até hoje.
A sua grande criação foi o VCS 3, um sintetizador que superava seus concorrentes, como os Moog, por ser portátil — o instrumento era do tamanho de uma maleta, enquanto os demais eram comparáveis com uma parede inteira.
VCS 3 foi lançado em 1969 pela companhia inglesa Electronic Music Studios (EMS), empresa que tinha Zinovieff como um dos fundadores.
O pequeno sintetizador foi muito usado em discos clássicos, como “The dark side of the moon” (1973), do Pink Floyd, e também por nomes como David Bowie, Beatles, Led Zeppelin, Kraftwerk, Portishead e Chemical Brothers.
Muitas vezes, o próprio Zinovieff ensinava os músicos a usarem o synth.
Filho de russos que imigraram para Londres fugindo da Revolução Russa de 1917, ele se formou em Geologia pela Universidade de Oxford.
Casou-se aos 27 anos com Victoria, uma jovem que não aceitava as frequentes viagens do geólogo pelo mundo.
A saída de Peter Zinovieff foi voltar-se para a música, paixão que cultivou durante a faculdade.
Inquieto, ele não se contentava com os sons que criava no piano.
— Quando resolvi focar nisso, meu objetivo passou a ser criar sons que não eram possíveis com os instrumentos que tínhamos na época (década de 1960), diz Zinovieff.
O Estúdio, o negócio era música experimental, eletrônica.
Quase ninguém fazia isso.
Para construir o estúdio, Zinovieff comprou antigos equipamentos da Marinha, encheu um cômodo de sua casa de osciladores e amplificadores, e adquiriu o que jura ser o primeiro computador doméstico da história – um PDP-8, modelo industrial que tinha cerca de quatro quilobytes de memória e custaria, hoje em dia, algo em torno de 100 mil libras (financiado pela venda uma tiara que seu sogro tinha dado para a filha).
Da necessidade de ganhar dinheiro para bancar seu trabalho como compositor de trilhas e da associação com engenheiros eletrônicos e pesquisadores nasceu a EMS (Electronic Music Studios) – e o VCS 3.
Após algumas demonstrações públicas e concertos improvisados de música eletrônica, o novo produto, que custava inicialmente cerca de 330 libras esterlinas, passou a ser cobiçado por artistas britânicos de Rock Progressivo.
Com isso, Zinovieff, até então avesso à música popular — a ponto de ter negado um encontro com Paul McCartney —, foi obrigado a baixar a guarda.
E passou a receber artistas como Ringo Starr, David Gilmour, Roger Waters, David Bowie e Karlheinz Stockhausen.
Em uma de suas entrevistas Peter Zinovieff , diz: “Eu não ensinei nada a esses caras.
Assim que eles começaram a experimentar meu sintetizador, eles imediatamente superaram qualquer coisa que eu poderia lhes ensinar.
Por isso, são geniais.
Eles tiveram o feeling e souberam tirar daquilo o que queriam.
E também é por isso que os efeitos que o sintetizador causou em suas canções foram tão diferentes entre si — contou Zinovieff, na época.
E complementa Peter Zinovieff, dizendo quem soube melhor utilizar o EMS – e o VCS 3:
— Pink Floyd, sem dúvidas.
Eles usaram a máquina da maneira mais inovadora possível, e fizeram músicas extraordinárias que ninguém tinha escutado até então.
Dos artistas mais novos, o Portishead também faz um bom trabalho.
A EMS viria a entrar em falência na década de 1970, e Peter Zinovieff perdeu grande parte dos seus equipamentos numa inundação.
Ele ficou décadas longe da música, se dedicando ao design gráfico e ao ofício como professor.
Ele se reencontraria com a composição em 2010, quando foi descoberto por uma nova geração de músicos.
Nesta fase, fez diversas parcerias com a poeta Katrina Porteous.
Zinovieff deixa a mulher, Jenny Jardine, e cinco filhos.
Registro para The Guardian de uma entrevista: