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Quem é DJ Caique Ferrara, artista em ascensão na cena musical das baladas eletrônicas?

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Desde 2002,  no dia 9 de março é comemorado o Dia do DJ no Brasil.

A data especial foi criada por duas instituições de caridade, World DJ Fund e a Nordoff Robbins Music, que utilizam a música para contribuir no tratamento de pessoas enfermas.

Com o objetivo de prestigiar a profissão, a iniciativa celebra os responsáveis por entregar mixagens de músicas e criar um ambiente contagiante nas pistas do mundo.
Alguns dos principais representantes da cena musical dos DJs são Alok, Steve Aoki e Marshmellow, profissionais que são a amostragem do perfil encontrado em São Paulo.

Novos nomes surgem nesse cenário e ainda timidamente, iniciando oficialmente sua carreira, está o DJ e também produtor musical Caique Ferrara, que tem se dedicado a produzir sons para o circuito de festas eletrônicas.

Nesta entrevista, ele fala sobre como é trabalhar em um ambiente onde ele “contraria a estatística”.

Como você começou no mundo dos DJs?
Sempre fui uma pessoa que acompanhou os lançamentos de músicas de diversos artistas, especificamente músicas POP e eletrônica, desde muito novo e quando comecei a frequentar baladas e ouvir essas músicas na vertente do Tribal house remixadas e não parei mais de ouvir SETs mixados, remixes e músicas voltadas para esse meio.

Porém, até então, minha presença era apenas como público e admirador, mas durante a pandemia, em um momento que estávamos muito presente no digital, despertei o interesse em me tornar um “DJ/Produtor” vendo um amigo fazendo uma Live, que na época estava bombando na internet.

Com isso, procurei o curso da DJ Mara Borges na “Atomic” e os cursos de produção musical do DJ/Produtor VMC, e mais pra frente do DJ/Produtor Diego Santander que são 3 grandes nomes atualmente da cena.

Realizei os cursos simultanemente e foi bem desafiador, pois apesar de um estar vinculado ao outro são funções completamente diferentes tocar e produzir.

Duraram em torno de 3 meses a conclusão dos cursos e fiquei muito empolgado na época.

Comecei a produzir meus primeiros mashups e soltar para download fazendo meu nome girar e teve uma ótima receptiva por parte dos DJs.

Porém, após a pandemia as casas antigas voltaram, outras não, novas casas surgiram, os grandes DJs já renomados voltaram a tocar, muitos DJs novos surgiram porque aproveitaram a pandemia para estudar, então com tudo isso ficou muito concorrido e saturado o mercado, então resolvi focar mais em produção e internet, pois era o que conseguia fazer, e que na verdade me ajudou muito no período da pandemia e no luto após o falecimento da minha avó em 2021.

Foi uma grande terapia, além de uma experiência incrível que hoje considero essencial para o seu diferencial.

Caíque Ferrara 

Quais são as suas referências no cenário musical de DJs?
Hoje eu tenho várias. Depois que passei a ter esse olhar para o profissional “DJ e Produtor”, pude perceber o quanto temos profissionais talentosos e que se dedicam em levar alegria para as pessoas.

Vou citar alguns nomes que sempre gostei e outros passei a gostar depois que comecei minha carreira: VMC, Anne Louise, Mara Borges, Allan Natal, Ády Saback, Hardwell, Alok, Tommy Love, Dener Delatorre, Marcio Peron, Alberto Ponzo, David Guetta, Angel Sulbarán, Má Rodrigues, Bruno Knauer, Diego Santander, Mor Avrahami, Rafael Barreto, Yinon Yahel, Van Muller, Jully Beats, Calvin Harris, Martin Garrix, Di Carvalho, Baez e muitos outros que admiro.

A lista é grande, mas atualmente admiro muito o trabalhos desses artistas e que vêm fazendo um trabalho incrível e de inspiração para nós que estamos começando.

Vale muito a pena acompanhá-los.

Até onde você almeja chegar sendo um DJ?
Eu quero chegar em grandes festivais. Tenho um sonho de levar essa vertente para o Rock in Rio.

Já parou pra pensar em ter um show de um DJ Gay tocando Tribal House com vários remixes de músicas conhecidas (POP) e no meio misturar o funk, até mesmo outras vertentes apresentando o Tribal House de uma forma muito divertida, com show de drags, dancers e outras artes em num único show. Isso seria muito incrível.

Eu penso até em popularizar isso de uma forma mais ampla levando pro “mundo hétero”, paras as festas dos famosos e influencers, porque como eu gosto muito de música pop internacional e brasileira, por exemplo: Beyoncé, Lady Gaga, Luiza Sonza, Anitta etc, acredito que eu fazendo as minhas produções usando os vocais delas, eu consigo levar isso para esse público.

Apresentando da maneira certa com toda certeza teríamos mais visibilidade e oportunidades, principalmente mais presentes em grandes festivais pelo mundo todo.

Levar um show com vários vocais conhecidos de uma forma divertida e alegre incluindo a todos sem distinção em um único objetivo: curtir aquele momento.

Então eu tenho uma visão bem desafiadora de onde eu quero chegar, mas sei que para isso acontecer teremos muita luta, muita persistência e muita paciência durante esse percurso.

Já percebi que eu preciso desse tempo, aprender mais, amadurecer ideias, porque eu sei que pra chegar lá vai demandar muito esforço e preparo psicológico, físico e emocional.

Porém, é possível sim.

Acredito muito nisso.

E quem acreditar junto comigo, só vem que será sucesso rs.

É o que o me motiva todos os dias saber que é possível.

É de onde tiro forças para continuar planejando e colocando em prática tudo isso mesmo que às vezes apareçam obstáculos principalmente quando, ainda, somo um artista independente sem muitos recursos para investir.

Caíque Ferrara

Como você enxerga a padronização dos DJs?
Esse é um assunto que desde quando eu comecei já pensava em muitas coisas a respeito.

Comecei sabendo que não tinha amigos da área, não tinha amigos produtores de festas e não era “padrão” (corpo sarado, masculinizado e bonito: aquele estéreotipo exigido no meio comercia).

Não sou padrão, sou um gay afeminado, não tenho corpo sarado e não tenho problema quanto a isso, pois sou bem resolvido quanto a quem eu sou.

Sei também que eu falo mole, eu sei que a minha voz é fina, eu ando rebolando, uso maquiagem, não tenho barriga trincada para estampar em um bom flyer/revista, não sou rico e estou no início de uma construção de base de seguidores ainda nas redes (apesar de estar crescendo rápido, e estou muito feliz com isso) e danço livremente.

E, apesar de eu ser muito vaidoso eu não tenho essa “padronização” e nem tenho vontade de ser.

Eu acredito que o importante hoje é você se sentir bem, saudável e confortável onde quer que você esteja com você. Eu acho que se eu estou alinhado com tudo isso, eu estou bem e faço um trabalho incrível.

Hoje é nítido que em muitas festas essa imagem do DJ (padronizado) é muito mais valorizado e que está a frente de outros quesitos que eu considero mais importante: o talento e a dedicação.

Não estou generalizando, pois temos alguns profissionais “padrão” que são maravilhosos e cumpre muito bem com suas funções.

Mas não é maioria. Infelizmente.

Não tem como não perceber isso e falar que isso não acorre.

Ocorre sim e muito.

Temos vários DJs e Produtores incríveis na cena que não se enquadram nessa “padronização” e por esse motivo não têm a visibilidade que merecem para mostrarem seus trabalhos e talentos.

É muito triste porque desvaloriza muito o profissional e o público perde muito no quesito em conhecer grandes artistas que faria uma diferença enorme em questão de qualidade sonora e principalmente a quebra de vez dessa exigência “padronizada” que pra mim, em pleno 2022, está ultrapassada e cafona.

Qual a sua visão e opinião sobre o mercado?
O mercado com a pandemia mudou bastante.

Eu não consigo pontuar com mais clareza porque antes da pandemia eu era um frequentador (cliente).

Eu não tinha esse olhar mais analítico que tenho hoje para os DJs, os bastidores e dinâmicas das festas funcionam.

Eu frequentava a festa apenas para me divertir.

Hoje eu vou para me divertir e analisar vários pontos importantes que possam agregar na minha carreira: sonoridade, qualidade, o cuidado dos produtores quanto à festa em si e com seu público, que pontos o público no geral está valorizando mais e entre outras coisas.

Então eu comecei a ter esse olhar da pandemia adiante.

Escuto muito de alguns profissionais que fazem uma comparação com o que acontecia antes da pandemia e o que acontece hoje, e realmente concluo que muita coisa mudou positivamente, pois fez com que as casas e profissionais se reinventassem e o próprio público passou a ser mais exigente quanto a qualidade, atualizações, inovações, tecnologia e mais conforto nas casas.

Como é a luta para você se estabelecer no mercado?
Como eu passei a empreender outras coisas e focar muito na internet, isso fez com que a minha pressão diminuísse.

Então hoje veio fazendo um trabalho mais leve, mais contínuo, alimentando dia após dia e sempre estudando vendo no que eu posso melhorar.

A qualquer momento pode acontecer alguma coisa, uma música de repente viralizar, alguma agência ver potencial e querer investir, vir a oportunidade de produzir uma música com uma cantora, lançar um vídeo no Instagram/TikTok que viralize.

Por isso, sempre estou estudando, leio livros de marketing digital, faço muita pesquisa e produzo bastante coisa.

Faço aquilo que está no meu alcance, pois como ainda não tenho um retorno financeiro não consigo fazer grandes investimentos.

De uma coisa eu sei: vai chegar o meu momento, assim como muitas pessoas que me acompanham desde começo e que me dizem o quanto esperam também aconteça logo.

Eu quero levar o Tribal House, a música pop para mais pessoas, para o mundo dos famosos e popularizar mais o “Tribal House” pelo Brasil e pelo mundo.

Seria um “Pedro Sampaio” do Tribal House haha.

Levar para TV também seria o máximo. São muitos sonhos.

Comecei até compor também uma coisas, pensando em músicas autorais, mas um passo de cada vez.

Porém, sonhar não é pecado rs.

Pensando um pouco mais sobre essa pergunta, ano passado (2021) eu ganhei um concurso de DJ.

Na verdade eu participei de dois concursos de DJs, o primeiro eu fui finalista e o segundo eu fui campeão.

E pra você ver, mesmo com a vitória do concurso, tendo uma visibilidade legal, eu não tive oportunidades.

Eu ganhei, mas só ganhei o título e experiência.

E sou muito grato por essa vitória porque me agregou muitas coisas como pessoa e profissional, porém não ganhei uma notoriedade para fazer com que as pessoas me chamassem para tocar ou de uma agência querer me agenciar.

Então pra você ver como é, tem muitas outras questões que, talvez, a gente sabe que estão sendo colocados à frente do que mérito e talento.

Então é uma luta diária e temos que persistir.

Você acredita que falta espaço para novos DJs?
Sim.

Eu estou nessa luta há 2 anos completamente dedicado a isso e ainda não aconteceu.

Mesmo com muita vontade e mostrando arduamente isso pela internet, apresentando meu trabalho, soltando músicas etc, ainda não chegou o momento.

Podem falar que isso é pouco?

Sim, mas é o que eu consigo fazer.

Quantas pessoas não sonham em conquistar algo e não tem recurso algum?

São muitas, é muito pouco aqueles que conseguem furar essa bolha e se destacar no meio.

Tem muito talento escondido esperando apenas uma oportunidade para mostrarem seus trabalhos.

E eu sei que muitos outros estão tentando o mesmo sonho que o meu e que estão até há mais tempo do que eu nessa luta.

Nessa empreitada abrimos mão de muita coisa para focar, aprender e estar atualizado.

Ainda bem que em casa eu consigo fazer esse trabalho na internet disponibilizando conteúdos e fazer alguma movimentação com a marca “Caique Ferrara”.

Sou muito grato a isso.

Hoje percebo e tenho essa conscientização que algo para dar certo precisa de empenho, estudo, planejamento e paciência.

Acredito que enquanto os produtores e os Managers estiverem alimentando essa ideia de que só funciona para a festa aquele que tem o corpo sarado, beleza e seguidores (por acharem que é o que vende e atrai pessoas para os espaços) e não reparar de fato na qualidade sonora e apresentação, será cada vez mais dificil outros profissionais incríveis que temos na cena conquistarem um espaço e apresentarem seus trabalhos.

Porém, aquilo, as casas estão enchendo dessa forma e isso gera dinheiro onde todos saem felizes.

Menos os novatos “despadronizados” que não têm a oportunidade, onde fica tudo muito já pré-estabelecidos do que vende realmente no mercado.

Com isso, o púbico que sai perdendo nesse jogo a oportunidade de conhecer outros grandes artistas, mesmo pagando caro pelos ingressos, saindo até algumas vezes insatisfeitos por terem e apresentarem sempre o mesmo do mesmo.

Fica cansativo.

Essa pauta já foi levantada algumas vezes nas redes sociais, mas percebo que muitas pessoas não gostam de comentar por medo ou por acharem que ficarão “canceladas” ou de que não terão mais oportunidades porque levantou um assunto polêmico e que incomode alguns.

Então isso faz com que, principalmente nós que estamos começando, tenhamos medo de nos expor, de dar a cara a tapa e falar umas verdades na expectativa de que algo mude.

Isso é um tipo de assunto que não interfere no meu talento, não interfere na minha capacidade e muito menos nos meus sonhos.

Eu tenho absoluta certeza que eu tenho chance de chegar onde eu quero chegar, independente se eu sou magro ou se eu sou gordo, se eu sou afeminado etc.

O sentimento que a gente tem dentro de nós por querer fazer a coisa acontecer está muito mais a frente disso.

Então quando me vem na cabeça essas questões da “padronização”, logo penso:

“Não, o meu talento está acima disso.”

A gente enfrenta essa questão sim. E às vezes eu até escuto falarem:

“Vai acontecer, vai dar certo, você é bonito”.

É como seu fosse virar um DJ/Produtor famoso porque eu sou bonito, entende?

E eu quero ser um DJ famoso porque eu toco bem e produzo bem, ou, porque eu faço uma música diferente, levo vibe diferente, sou dinâmico, simpático e naturalmente representando essa “despadronização”.

A beleza é algo que  não tem como a gente nem tirar, nem pôr, (o pôr depende rs), mas eu não quero ser rotulado de ter conseguido as coisas porque eu sou bonito ou não.

Eu acho que ninguém deve pensar dessa forma e eu acho que profissionais que usam disso para conseguir as coisas, não sustentará isso lá na frente.

Porém acredito que estamos vindo com uma demanda, com um público mais exigente, cobrando mais profissionalismo, coisas novas, arte de verdade do que esses quesitos “padronizados”.

Então eu prefiro me basear no meu talento porque eu sei que é algo que vai durar e ficar como um legado.

Se eu tiver oitenta anos, eu quero estar produzindo ainda minhas músicas porque músicas novas nunca irão faltar.

Então é isso que eu acho mais incrível na música, eu tenho infinitas possibilidades de fazer o que quiser quanto a ela independente do tempo.

Já a “beleza” predominante acaba porque a cada dia aparece um talento novo, uma cantora, um cantor, uma banda mais jovens e com a padronização em dia, e você será trocado caso você não seja lembrado por seu talento e uma incrível carreira de sucesso de fato.

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