Roberto Verta é um dos profissionais mais experientes em music business do país.
Formado em publicidade e propaganda pela Cásper Líbero em São Paulo, Verta coleciona em sua carreira funções como radialista, DJ e músico (mentor da cultuada banda Harry, dona do hit “Genebra”, uma das primeiras no Brasil a fazer música eletrônica ainda no início dos anos 80, com uma discografia (pelos selos Wop Bop, Stiletto (com direito a distribuição pela gigante Sony Music), Cri Du Chat Disques e Fiber Records), que ultrapassou as fronteiras do Brasil chegando nos Estados Unidos e Europa.
O Harry que é de passado glorioso em se tratando de mercado de música independente no Brasil volta e meia reaparece na vida de Verta, como o show com a formação original da banda feito em agosto de 2015 no Wave Winter Festival em São Paulo.
Começou sua carreira no departamento de marketing internacional da antiga gravadora BMG ( e muito contribuiu para o nascimento e fortalecimento da DJ SOUND) e, ao longo dos anos, migrou entre as majors do mundo: ficou à frente da direção de marketing da Sony Music por quase dez anos, e por um ano esteve na Universal Music.
Na Time For Fun (T4F), ficou por cinco anos trabalhando na promoção de turnês internacionais de artistas como Madonna, Lady Gaga, U2, Roger Waters, Linkin Park, Bob Dylan, Paramore, Avenged Sevenfold, Ozzy Osbourne, Kiss, Metallica, Aerosmith, Coldplay, Bon Jovi, Guns n’ Roses, Simply Red, AC/DC, Oasis, além de muitos outros.
Em 2014 fundou a BoomBang empresa pelo qual gerencia e administra carreias de artistas e também desenvolve conteúdo nacional e internacional desde bandas, DJs (internacionais), mágicos, performáticos entre outros.
Em meio a maratona de compromissos ele esta em estúdio finalizando um novo projeto musical próprio com influências de Electro-Rock no estilo Nine Inch Nails.
Roberto Verta conversou com a DJ Sound falando sobre o mercado de música como um todo dividindo suas impressões conosco, confira o que este gigante do nosso mercado disse.
Você é um dos poucos profissionais do entretenimento no Brasil que veio de gravadoras majors.
No que isso lhe ajuda a lídar com o mercado hoje?
Gravadoras podem ter cometido erros estratégicos no passado, mas ainda são as empresas que tem a melhor estrutura para levar o artista de zero a algum lugar.
Com a web, passou a haver um sentimento de que ninguém precisa delas, mas posso lhe dizer com certeza que ainda são a melhor maneira de entendermos o mercado e agirmos dentro dele.
Como diz um amigo empresário, ”ruim com eles, pior sem eles”.
Quais as principais conquistas e dificuldades encontradas no Brasil no setor de entretenimento, em especial o musical?
As conquistas foram muitas se considerarmos os últimos 20 anos, com um crescimento grande do mercado de entretenimento ao vivo, da capilarização de opções e principalmente do desenvolvimento dos valores de produção e qualidade da entrega do setor.
As dificuldades também são muitas, mas em grande parte ligadas aos problemas que qualquer negócio enfrenta no Brasil, como os custos de produção e falta de treinamento especializado.
Tirando a questão dos impostos altos e o câmbio porque os ingressos no Brasil para eventos tem valores acima do mercado internacional, mesmo para shows de artistas de pequeno e médio porte.
Além das duas razões já citadas, temos o chamado “custo Brasil”, que, além dos impostos e câmbio, impacta o preço final e aumenta o risco.
Não menos importante nessa equação do preço do ingresso, é a aberração da meia entrada, algo tipicamente oriundo da política populista brasileira: uns pagam o preço cheio para que outros aproveitem a meia-entrada.
Acredita no formato de eventos proprietários?
Muito! São os eventos proprietários que tem promovido as inovações e criatividade no setor.
As marcas e seu poder econômico trazem um sopro de ar fresco nos eventos e barateiam seu custo.
É muito difícil entregar eventos de alto nível, dependendo única e exclusivamente do valor do ingresso.
O quanto vale licenciar uma marca de evento internacional para realizar o evento em território brasileiro?
Como qualquer tipo de franquia, os eventos internacionais trazem fórmulas bem sucedidas em outros mercados, o que é bom e inspirador para nós como consumidores e produtores.
De qualquer forma, acho que o mercado brasileiro, já tem maturidade suficiente para ter suas próprias marcas e até exportá-las.
Você sempre lidou com grandes nomes da cena Pop/Rock mundial, como vê seu envolvimento com a cena de música eletrônica?
A música eletrônica fez parte fundamental da minha história profissional como DJ, músico e produtor nos anos 80 e nunca me afastei dos beats e dos synths, porque acredito que o Pop, o Rock e o eletrônico serão cada vez mais parte do mesmo cenário e cada vez menos nichos separados.
Como dizia o nome de uma antiga porém profética banda, “Pop Will Eat Itself”!! (não por acaso, essa banda misturava Rock alternativo, Pop e Eletrônico!!)
Quais os pontos positivos e negativos que detectou no mercado de música eletrônica brasileiro?
A E-Music tem como pontos altos a facilidade de produção e meios próprios de divulgação.
Seus problemas são os mesmos de outros mercados, entre eles estão essas mesmas facilidades, que muitas vezes tornam a quantidade desproporcional à qualidade.
A música eletrônica tomou uma dimensão mundial nunca imaginada até mesmo pelos profissionais do setor.
Acredita que isto foi resultado de uma saturação de anos dos outros formatos?
O Rock e a música negra dividiram durante décadas as atenções dos consumidores de música, criou grandes mitos e influenciou várias gerações.
O eletrônico não é uma novidade porque se estabeleceu como “onda” no pós-punk do final dos anos 70 e desde então, apesar de indas e vindas, nunca mais desapareceu.
Além de tudo, a E-Music é que hoje em dia carrega a máxima Punk do “Do It Yourself” e é esse espírito libertário e desbravador que fez do gênero ser o que é hoje.
E já deu sinais de que não irá desaparecer tão cedo.
Observa-se uma certa cautela em relação ao mercado brasileiro, você parece muito cauteloso ao contrário de alguns grupos internacionais e mesmo brasileiros que atuam no segmento de música eletrônica.
Pensar e planejar esta no seu DNA ou é um fator em função do mercado Brasil?
Como vovó já dizia, cautela e chá de boldo não fazem mal a ninguém.
Acreditar que a idéia de um evento por si só é suficiente para seu sucesso é um pensamento um tanto quanto temerário.
Já vi eventos com tudo (bom line up, boa produção, divulgação excelente, etc.) fracassarem por falta de planejamento (a boa conta de mais e de menos….) e a crença de que você está sozinho no mercado ou de que é melhor do que seu concorrente.
Acredito que a cautela seja um dos ingredientes do sucesso, mas o importante é fazer o melhor produto possível e entregá-lo de forma digna e profissional.
Fazer por fazer, depois de haver trabalhado com U2, Madonna ou Nirvana, pra mim não faz sentido.
Acredita num som eletrônico com alguma cara brasileira, assim como os alemães impuseram estilos como o Minimal e TecHouse pelo mundo afora?
Com certeza! O Brasil tem talentos, influencias e publico para assimilar uma cena própria.
Além de tudo, ser brasileiro implica em ter os “beats” no sangue!
O que é um evento perfeito para você?
É o resultado bem dosado entre organização e criatividade (dentro e fora do palco) com o público na vibe perfeita.
Quais eventos tem chamado atenção no Brasil no segmento e porque?
O Rock in Rio e Lollapalooza pela grandiosidade.
As plataformas da Sky, da Natura e da Skol Beats pela criatividade em ter outras formas de manter essas marcas visíveis de uma forma diferente da publicidade.
Como vê o mercado de patrocínios para o segmento? Quais as facilidades e dificuldades?
As facilidades e dificuldades se confundem.
As marcas querem ter retorno com seus produtos e as vezes se limitam a investir no patrocínio e, no máximo, ativação do produto no evento.
Algumas das marcas que já citei, estão indo além criando plataformas e utilizando a música como vetor de amplificação da percepção de seus brands, através de uma experiência mais ampla do consumidor com o seu produto e a música.
E acho que é por aí mesmo.
Depois de uma queda devido a outros estilos musicais como sertanejo, o mercado música eletrônica em parece estar aquecido com grandes eventos.
Como esta enxergando essa movimentação em geral e no público?
Acho que a E-Music se renova e se apodera de outros estilos e torna a música dançante muito mais interessante.
Hoje em dia, dependendo do DJ que você vai ouvir, pode ser que dançar seja algo Minimalista como o Cabaret Voltaire ou “mashups” que recriam grandes canções do passado.
Acho que é essa diversidade que atrai todas as tribos.
Alguma obstinação?
Fazer o fã de música ter a melhor experiência possível.
Como você se define como profissional?
Não sei se é uma profissão, porque as vezes acho que é mesmo uma missão. Então, um bom soldado, talvez…
Quais as dicas que você pode dar para aqueles que desejam entrar no mercado de entretenimento?
Bem, eu mesmo ainda estou aprendendo, mas acho que a máxima da publicidade é o único caminho para as coisas darem certo: 10% de inspiração e 90% de transpiração!
Confira a página oficial do Harry: https://www.facebook.com/harrybandbrazil/?fref=ts
Harry ao vivo no Wave Winter Festival: [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=7sWGhhpxxrc[/youtube]
Harry “Genebra” [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=1e17T8qEptA[/youtube]
Harry “Machina Festival” show completo: [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=SC0diUrVU7Y[/youtube]
by Gonçalo Vinha
pics by Yuri Mine