Matérias e entrevistas como esta no meio DJing podem gerar controvérsias, afinal cada um interpreta como quiser e emite sua opinião, numa tal de democracia.
O DJ Ronald Domingues, filho do craque Ronaldo do futebol, foca em trilhar o seu caminho na música dançante e transborda certa maturidade na conversa que tivemos com ele após apresentar-se no evento iFly ocorrido na capital paulista.
De forma destemida ele conta como foi o contato e paixão pela música eletrônica e destila os passos futuros, e nada modestos, mostrando que esta disposto a dispender energia e garra para alcançar os seus objetivos, no mínimo uma inspiração para os aspirantes ao segmento profissional, que fez muitos trocaram instrumentos convencionais mundo afora por equipamentos DJing, criando um mercado tão competitivo como o do Pop e Rock há décadas.
Como aconteceu sua descoberta do mundo da música eletrônica e porque decidiu tornar-se DJ?
Desde pequeno tinha uma certa proximidade com a arte musical, no entanto, só fui percebê-la mesmo ao chegar em Ibiza.
Embora fosse apenas um moleque de 11 anos na época, eu fui capaz de sentir e ver com os meus próprios olhos a cultura da música eletrônica, fortemente presente na ilha.
Foi lá onde me apaixonei por ela.
Onde quer que você vá na ilha, a música sempre está presente.
Desde Beach Clubs, a Lounge Bars, até mesmo na rádio, o som de lá foge do comercial, daquilo que o público está acostumado a escutar.
Foi como se tivesse aberto os olhos pela primeira vez, como se tivesse vivendo toda a minha vida com protetores auditivos sem saber, e quando finalmente os tirei, foi como se ouvisse pela primeira vez.
É meio difícil de pôr em palavras mas foi uma experiência inesquecível.
Conforme fui aprendendo mais e mais sobre a cultura, percebi que o DJ era o encarregado de proporcionar essa experiência, e senti a obrigação de ser justamente isso, o cara que mostra uma nova perspectiva à vida; um DJ.
Quais suas influências musicais?
Eu diria que pra começar, o David Guetta foi o meu primeiro verdadeiro ídolo.
A sua experiência e originalidade nessa indústria da música o fez merecedor do título de melhor DJ do mundo diversas vezes.
O jeito com que ele popularizou a música eletrônica ao ponto de chegar ser tocada na abertura do final de uma Eurocopa ao invés de ser restrita apenas à baladas e boates, fez de mim um fã para a vida toda.
Sempre fui muito voltado ao Big Room House e Electro House então nomes como Swedish House Mafia, Hardwell, e Martin Garrix também são de extrema importância à mim, e consequentemente, me influenciaram ao ponto de formar a minha própria identidade e personalidade no meio musical.
Nacionalmente no entanto, tenho um nome que não lhe deve ser desconhecido a nenhum brasileiro que se apegue a música eletrônica brasileira; Alok.
Tive a sorte de conhece-lo ano passado no Lollapalooza, e a honra de chamá-lo de amigo e mentor.
Com certeza seus conselhos me ajudaram a formar a minha própria personalidade nesse meio da música.
Como lida com as críticas dentro do segmento DJ?
Críticas sempre são bem vindas!
Tive muitos mentores e já passei inúmeras horas aprendendo com os melhores, assistindo-os tanto atrás de uma tela de computador como ao vivo.
Porém sei que sou jovem, e ainda tenho muito a aprender.
Como disse, não me importo em receber críticas, elas me ensinam, me disciplinam, me lembram o quão bom é ser um estudante da música.
Você sofre uma eventual pressão por ser filho de um jogador/empresário bem sucedido, como lida com isso?
A pressão gira mais em torno do futebol.
Caso tivesse decidido correr atrás de uma carreira como jogador de futebol, com certeza a pressão seria demais para eu aguentar.
Sinceramente, eu duvido que alguém consiga se igualar ao que meu pai fez no futebol, muito menos eu.
Gostas de tocar mais em clubs ou eventos em locais diferentes?
Tive mais experiências com clubs, então obviamente me sinto mais à vontade aí, mas tem algo sobre tocar em eventos em locais diferentes que traz uma sensação prazerosa ao tocar.
Não sei explicar direito, mas saber que o seu som está se espalhando, e sendo ouvido por mais e novas pessoas, me faz sentir renovado e orgulhoso de mim mesmo e minha equipe.
Qual sua expectativa para sua apresentação no iFly?
Este é um projeto inovador e pioneiro na indústria de eventos, uma junção do paraquedismo indoor com o melhor da noitada, começando em São Paulo, minha cidade!
Sinto-me honrado de ser parte de tal projeto e como muitos no mercado, tenho grandes expectativas tanto para mim mesmo em termos de metas pessoais, como do futuro sucesso e popularização do evento em si!
Você acreditava de alguma maneira que a música eletrônica chegaria na popularidade de hoje inclusive com a possibilidade de se fazer música apenas usando um computador?
Tinha esperança, mas nunca imaginei que a música eletrônica seria tão aceita na comunidade global, e como consequência, popularizada!
Rádios que tocam 100% do tempo músicas do gênero eletrônico e festivais que tem origem estrangeira chegando no Brasil anos atrás, isso tudo é uma loucura!
Nasci tarde demais pra ver o seu nascimento, mas cheguei justo a tempo de ver a sua popularização e me enche de felicidade saber que embora ainda haja preconceito de artistas de música eletrônica não serem artistas de verdade, posso compartilhar esse meu amor pela música eletrônica com milhões no mundo todo, e ironicamente, por trás de uma tela de computador.
Como está composto seu setup de equipamentos atual no estúdio e ao vivo? Tem alguma diferença?
No momento tenho duas CDJ2000NXS, um DJM2000NXS, e uma CDJ 2000.
Eu tenho uma Rane SL3 e uso Serato ao tocar em casa ao praticar pela facilidade que o programa oferece ao DJ de gravar os seus sets. Mas ao tocar ao vivo eu prefiro os métodos mais tradicionais; dois pendrives e um fone de ouvido, e uma simples análise das minhas tracks pelo programa Rekordbox da Pioneer.
Exerce alguma profissão em paralelo a carreira artística?
Nenhuma. Apenas estudo.
Muitos na música eletrônica optam por serem DJs que produzam música. Esta nos seus planos começar a produzir suas próprias músicas?
Com certeza!
Sempre tive muitas boas ideias no estúdio mas nunca fui capaz de torná-las em faixas por minha falta de conhecimento na área da produção.
Acompanho centenas de vídeos de tutoriais em diversos sites que ajudam a ter uma noção básica do assunto mas nada se compara a uma escola de produção musical ou cursos específicos.
Está nos meus planos tomar tais cursos num futuro próximo.
Deve ser uma sensação incrível ver o público vibrar com algo que você criou com tanto carinho!
Teve medo em algum momento de alguma rejeição por parte de outros profissionais do mercado?
Com certeza.
Aqui no Brasil principalmente, muitos famosos gostam de “atacar de DJ” em uma festa ou duas. Isso acontece em especial com vários ex-BBBs, mas também já aconteceu com jogadores de futebol (meu pai por exemplo).
Esse pré-julgamento existe até hoje em dia, embora muito menos do que quando comecei. “
Esse moleque só tá aí por causa do pai” ou “Isso daí é modinha”, já ouvi isso inúmeras vezes, mas como eu disse antes, adoro críticas, e toda vez que escuto algo do tipo, a minha vontade de provar a eles o quão errado estão, só aumenta!
Porém, sou ciente que dei muita sorte, e agradeço a Deus por todas as oportunidades que me foram dadas e pelo apoio daqueles mais próximos de mim, minha mãe e meu pai.
Nunca desperdiço uma chance de provar a todos que sou bom no que faço, devo isso à eles.
Alguma coisa lhe chateia no segmento de música eletrônica nacional?
Eu diria que o jeito como festivas são vistos, muitos o enxergam como um lugar onde bêbados e drogados vão para escutar música repetitiva e monótona.
Tive que convencer vários familiares e pessoas próximas a mim que esse não é o caso para a grande maioria dos seguidores da música eletrônica.
Já fui em vários festivais, tanto aqui no Brasil como no exterior, e posso dizer com total certeza que como apenas mais um num público de dezenas de milhares, nunca precisei de um pingo de álcool para me divertir em tais festivais.
Qual é a parte mais desgastante e a mais prazerosa da carreira como DJ?
A parte mais desgastante é que hoje em dia, o DJ não é só mais encarregado da música.
Isso acontece muito no começo da carreira de qualquer um que pretende se dedicar ao estilo de vida de um DJ.
Ele tem que agendar as suas próprias gigs, carregar e transportar o equipamento (tanto de luz quanto de som e até mesmo de discotecagem), fazer a sua própria divulgação e se preocupar com a parte de marketing do ofício.
Isso vai mudando obviamente conforme o DJ vai ganhando popularidade, mas essa barreira inicial dificulta a entrada de qualquer um nesse meio.
Queria poder apenas me preocupar com a música, mas para se ser bem sucedido nesse mercado extremamente competitivo, precisa se estar atento a tudo a sua volta, não apenas à música.
No entanto, isso tudo vai embora quando você está no palco, alegrando a vida de todos aquelas pessoas dançantes, felizes e cheias de energia.
Ver aqueles sorrisos, aquelas mãos jogadas ao ar livre, não existe recompensa melhor que isso.
Acredita num som eletrônico com alguma cara brasileira, assim como os alemães impuseram estilos como o Minimal e Tech-House pelo mundo afora?
Brazilian Bass.
Embora há controvérsias entre os amadores da música eletrônica sobre se realmente é ou não um gênero, nos últimos meses tive o privilégio de conhecer vários artistas responsáveis pelo seu nascimento, entre eles o Vokker, Liu, e o Alok, que tenho que dizer, está representando o Brasil no exterior de uma maneira que realmente traz orgulho ao país.
Vejo artistas internacionais tocando hinos como “Isis Castle” do Dazzo ou “Hear Me Now” do Alok, trilhas sonoras de filmes tocando “You & Me” do Alok, e não é à toa que acredito que o gênero em si vai se espalhar mais e mais tanto aqui no Brasil como principalmente fora!
Qual é o seu hobby?
Acho que vou impressionar ao dizer isso, mas aqueles que me acompanham sabem que eu amo jogar basquete.
Acho incrível o quão dinâmico ele é, especialmente quando comparado ao futebol.
É um esporte onde não tenho nenhum vínculo familiar, então ao jogá-lo, ninguém espera nada de mim por causa dos meus pais, sou aquilo que treino e jogo por mérito próprio, e isso me traz uma satisfação enorme.
Não só por isso, mas o esporte em si anda de mãos dadas com a cultura do Hip-Hop nos Estados Unidos e me fascina o quanto um influencia o outro.
Alguma obstinação?
Não, nenhuma.
O que almeja agora e para o futuro da sua carreira?
Sou muito novo, o mais importante pra mim agora mesmo, é adquirir conhecimento e experiência nessa indústria.
Quero profissionalizar o meu conhecimento na arte de discotecar e aprender a produzir minhas próprias faixas.
Tenho como ambição me tornar o melhor DJ do mundo e todo dia trabalho em direção a essa meta.
Tem algum ritual ou mania que realiza antes ou durante cada apresentação?
Assim de maneira pré-determinada, tenho que lhe ser sincero; não.
Mas tenho sim um costume de ficar extremamente quieto, e alguns poderiam até chegar a dizer “antipático”, algumas horas antes da performance.
Eu levo esse trabalho muito a sério, mais a sério do que qualquer outra pessoa da minha idade eu acredito.
Dado isso, eu fico extremamente focado e esvazio a minha mente ao ponto de apenas pensar naquele momento e o que vou fazer durante a minha performance.
Desse jeito sou capaz de entrar na cabine do DJ 100% focado e disposto a dar que tenho a oferecer para aquele público naquela noite.
Quanto tempo se imagina dentro do mercado de música eletrônica? É algo que prospectou mesmo para seguir como carreira de longa duração?
Eu amo essa profissão, ela me traz uma felicidade indescritível e não consigo me imaginar fazendo qualquer outra coisa nessa vida.
Gostaria eu de dizer, a minha vida toda se possível!
Mas conheço bem como é o mercado, artistas aparecem e desaparecem tão rapidamente, tudo que eu espero é ser capaz de fazer aquilo que amo para o resto da minha vida.
Você ou alguém fez algum plano de gerenciamento artístico para sua carreira?
Mais ou menos, eu diria que mais pro menos pela seguinte razão;
Por mais que tenha dado princípio a essa minha carreira de DJ, faz aproximadamente uns 4-5 anos, as coisas realmente só começaram a ir adiante no último ano ou dois, tudo está acontecendo muito rapidamente, mais do que eu jamais poderia ter imaginado, e isso é incrível!
Mas sou meio desorganizado no geral então ainda não corri atrás de tais assuntos, embora saiba o quão importante são.
Essas coisas sempre foram organizadas pela minha mãe e outros familiares que desde que comecei me apoiaram, mas acho que está na hora de dar um passo adiante, levando em consideração tudo que está acontecendo agora na minha carreira.
Se não, tenho certeza que levarei um puxão de orelha dela! Hahaha
Qual música lembra sua infância?
Edward Maya & Vika Jigulina – Stereo Love.
Essa com certeza é uma das músicas mais icônicas que já ouvi.
Uma das primeiras sensações da Spinnin Records que eu consigo me lembrar, realmente traz muitas memórias à tona.
Qual foi seu primeiro disco comprado?
Nunca fui de comprar discos, sempre me amarrei em comprar faixas e álbuns pelo iTunes e hoje em dia através do Beatport, mas me lembro de ter recebido um de presente de alguém, um CD do álbum do David Guetta, One Love.
Cheguei a praticamente decorar o álbum, haha!
Links oficiais:
Instagram: https://www.instagram.com/ronald_lima/
by Editoria Gonçalo Vinha