Muito antes da explosão da cena Techno no Brasil, onde o grande boom foi 1997 com a explosão das raves e da cultura dos clubs; uma centena de artistas no Brasil já trabalhava com as máquinas para fazer música e tinha alcançado um espaço na mídia impressa, radiofônica e televisiva brasileira até então (tempos “apagados” e “esquecidos” por alguns jornalistas que geraram um “bafafá” daqueles em fóruns de internet e mesmo nos encontros de amigos), mas o legado ficou e ainda pulsa em forma de Beats.
O passaporte da música eletrônica do Brasil recebeu seu primeiro carimbo e críticas internacionais pelo Simbolo, muito antes de outros nomes brazucas ficarem famosos no exterior (como Cansei de Ser Sexy, Gui Boratto, Marky, Patife…), com sua música, estilo em bem sucedidas tours e lançamentos.
Vamos entrar no túnel do tempo e retroceder quase três décadas para falar do primeiro CD de música eletrônica produzido e lançado no Brasil por um artista nacional.
O Símbolo foi forjado em 1988 como um duo, tendo como influências a música concreta e industrial.
Em 1989 foi reduzido a “one man band”, era uma guinada para o Símbolo, alcunha de Martins da Costa Neto, ou simplesmente Martin, fez história em 1992 na música eletrônica (e porque não na música brasileira de modo geral!), ao lançar “Le Sacré Du Printemps”, que tornou-se o primeiro álbum de um artista brasileiro de música eletrônica lançado no formato CD.
Sozinho ele pilota sintetizadores, sequenciadores, numa alquimia rítmica atemporal.
Interessante é o caminho da música feito pela figura do DJ para que a música do Simbolo chegasse as pistas de dança no formato K7, muito antes da prensagem do CD e dos vinis que foram lançados.
Estamos falando de uma época em que as opções de instrumentos e equipamentos eram muito restritas pela proibição da importação, aberta apenas pelo presidente Collor em 1997.
As sessões de gravação, no Elextron Studio (de SP), foram extensas e tiveram momentos em que Martin deu o sangue literalmente, ao esforçar a voz ele acabou tendo sangramento nas gengivas, conforme confidenciou uns anos atrás enquanto tomávamos uma cerveja num rooftop de um famoso Hotel em São Paulo.
O projeto do álbum desde sua masterização em Guterlosh na Alemanha (de agosto a novembro de 1991), até concepção gráfica apoiada no construtivismo soviético soaram ousados para nosso mercado, mas estavam nas mãos certas da então pioneira gravadora Cri Du Chat Disques (fundada em 1988 | infos: https://www.facebook.com/criduchatdisques), pioneira no Brasil e única até então especializada em música eletrônica, um celeiro CyperPunk em plena São Paulo reunindo os artistas nos mais diversos subgêneros do estilo (do Industrial, Electro, Ambient, ao Techno), mas isso é uma outra longa história para outro momento oportuno.
Esse cuidado na produção do áudio foi conseguido pelo Simbolo enquanto artistas nacionais como o Legião Urbana entre outros da década de 80 e inicio dos anos 90 ainda sofria com a “falta de verniz” na produção de uma música ou álbum.
Quando o álbum do Simbolo foi lançado em dezembro de 1992, a resposta de mídia surpreendeu, e o público também esgotando a primeira edição da tiragem e logo feita reposição para atender uma demanda internacional, inclusive o contrato de distribuição mundial pela gravadora alemã Subtronic baseada na cidade de Dortmund.
As críticas em revistas da Europa enalteciam o trabalho musical aliado à parte gráfica avançada (naquela época (1991) a capa do álbum foi feita num computador Macintosh da Apple, caríssimo e restrito a grandes corporações como agências de publicidade e gráficas de alto padrão), que casou muito bem com o projeto musical desde sua origem.
+Foi um trabalho de formiga feito a base de envio de cartas com fitas K7 e CD, hoje em segundo e até último plano frente a tecnologia dos arquivos digitais (download e streaming).
O álbum era o resultado das gravações das primeiras demos que revelaram músicas de extrema personalidade e impacto como “Chats Possession”, “K.A.O. S”, “The Force And Power” e “Enforced”, todos os hits nas pistas de clubs paulistas e cariocas pelas mãos de DJs como Magal, Enéas Neto, Jose Roberto Mahr (Novas Tendências – NT), Pequê.
Mais de uma centena de shows bem produzidos pelo Símbolo rodaram os palcos inclusive do exterior, sendo o primeiro artista de música eletrônica a tocar no estrangeiro.
A atual rádio dance Energia 97 na capital paulista, também faz parte da história do Simbolo, quando a ela ainda era somente Rock (nos anos 90; acredito que boa parte dos dance maníacos seguidores da rádio não sabiam desse passado, alôalôalô Zé Antônio agradecemos o espaço dado a música eletrônica nessa sua fase empresarial dono da rádio), e ficava em Santo André (região do ABC paulista), na programação aos sábados o Simbolo era tocado nas play lists do programa Zensor (voltado unicamente a música eletrônica), e também chegou a fazer uma música homônima que ficou sendo vinheta de abertura do programa por um bom tempo (e acabou sendo lançada no álbum “In The Danger Zone” do Símbolo, alguns anos depois).
Na MTV Brasil o Símbolo tornou-se Cult e o primeiro videoclipe “Protocol Six” ficou em rotação no programa Lado B de Fábio Massari, o mesmo passo seguido pelo videoclipe do single “Mercy & Guilty” (de 1994), e que acabou tendo exposição maior dentro da grade do então canal musical.
Para quem desconhecia o artista ou mesmo para antigos fãs a boa notícia é que o Símbolo esta na ativa construindo nova argamassa sonora pronta para tomar de assalto qualquer posto avançado.
Desde a sua primeira apresentação ao vivo há 28 anos, o Símbolo não deu uma entrevista tão extensa como esta, feita agora por este escriba e fã incondicional, testemunha ocular de muitos feitos deste artista.
Nesta entrevista são revelados pela primeira vez ao grande público, fatos e curiosidades desde o início da carreira até o momento atual e prolífero e totalmente no controle do artista, fato raro no meio musical mesmo na música eletrônica.
Resgatamos ainda videoclipes raros do passado longínquo e (até) recente.
Estou feliz em poder contar um pouco da história deste artista que me inspirou a seguir também pelos caminhos da música, seja como condutor de notícias e até mesmo na produção musical (hoje meio deixada de lado por mim), em função da agenda.
Você fez história na música do Brasil ao ser o primeiro artista de música eletrônica a lançar no formato CD. Qual o motivo da escolha do formato quando ainda (1992), fabricava-se e vendia-se no formato no Brasil?
O primeiro álbum do Símbolo seria o primeiro lançamento da Cri Du Chat Disques, e logo em seguida viria uma coletânea, com o Símbolo na primeira faixa.
Porém, a gravação de “Le Sacre Du Printemps” demorou mais que o planejado.
Então a Cri Du Chat inverteu e lançou a coletânea primeiro, em vinil.
Quando o meu álbum ficou pronto, o Enéas me informou que tinha decidido fazer em CD.
Foi uma surpresa, porque eu nem CD player tinha.
Portanto, o atraso na entrega do material foi o que transformou “Le Sacre Du Printemps” de vinil em CD.
Qual o motivo para a escolha do nome do álbum?
Longe de me comparar, o título foi inspirado num trabalho homônimo de Stravinsky, enquanto as gravações iam progredindo.
São muitas coincidências entre as duas obras. A gravação começou na primavera de 1991.
Durante a captação dos vocais, eu tinha que agir como se estivesse no palco, para conseguir a mesma energia das fitas demos.
Portanto, foi uma obra coreografada, como a original.
O produtor do álbum, Alex Vydala, comentou que um ponto alto do meu trabalho era grande variedade da programação rítmica, outro aspecto de comparação.
As duas têm 13 partes, embora a minha tenha 12, porque uma (NE: a música foi “Protocol Six”), foi doada para a tal compilação mencionada acima. Em resumo, são fatos que, entre outros, no momento fizeram muito sentido.
O Símbolo não lança trabalhos há muito tempo. Isso tem a ver com o seu lifestyle ou digamos que só aparecem músicas quando há algo para ser falado?
Eu venho compondo desde sempre, mas parei sim de divulgar o que estava fazendo por vários motivos.
Um deles é porque eu tinha dúvida sobre a sonoridade e qual setup usar.
Eu gosto muito do som cru e visceral, que ficou marcado nos primeiros trabalhos. Hoje, isso poderia soar apenas tosco.
Você usava equipamentos essencialmente analógicos no seu início como Roland TB303, Roland Juno 106, TR707, como é composto seu setup atual?
No início o meu setup era apenas esses três instrumentos.
Como não tinha gravador multipista, o registro em K7 era feito ao vivo, num só “take”.
Atualmente todo o setup fica dentro de um iMac de 27”, rodando o Logic Pro X. Você achava de alguma maneira que a música eletrônica chegaria à popularidade de hoje inclusive com a possibilidade de se fazer música apenas usando um computador?
Música eletrônica é uma definição muito abrangente e nem tudo é popular.
Agora, sobre a possibilidade de se produzir música dentro de um computador, em casa, com o atual grau de sofisticação e estabilidade, isso eu não imaginava.
E o custo baixou muito.
Eu penso que a tecnologia evoluiu na minha direção e procuro usar todos os recursos.
Como era adquirir os equipamentos na época que o Símbolo começou e com a restrição das importações, liberadas somente na época (1997) do presidente Collor?
Tinha que ir às lojas e descobrir o que existia.
Ou comprar usado. Tinha o produto importado e o produto nacional.
O importado era o sonho de consumo, mas excessivamente caro.
E o nacional, embora muito mais barato, estava fora de cogitação.
Foi quando adquiri o Alpha Juno 1 por indicação do Lucas Shirahata, que estava envolvido diretamente com a Roland.
A TR707 comprei do Jorge Poulsen, que era professor na Synthesis – Núcleo de Música Eletrônica e a TB303 comprei usada, do músico Cassio Poletto.
O Símbolo é um dos artistas mais individuais da cena eletrônica brasileira, não se viu colaborações nem em remixes? Isso faz parte da sua estética de ser ou foi algo que não aconteceu por falta de oportunidades?
Não tenho interesse em fazer coisas conjuntas.
Música é uma coisa que prefiro fazer sozinho.
Declinei em 99,9% de todos os convites para remixar faixas alheias.
Ao vivo participei de colaborações, mas foram poucas.
As suas músicas eram executadas pelos DJs antes mesmo do lançamento em formatos como vinil e CD.
Qual era o caminho que a música fazia para chegar até a mão desses DJs como o Magal?
Através de fita K7.
Nisso o DJ Pequê me ajudou muito.
Eu gravava uma faixa nova e, logo ia correndo para o Retrô, levar para ele tocar.
Tinha uma expectativa muito grande da minha parte ouvir na pista aquilo que tinha acabado de fazer em casa.
O primeiro a tocar foi o Enéas Neto, no Madame Satã, em 1989, e a faixa era “Yellow 5.0”.
Ele ficou tão entusiasmado, saiu da cabine, apontava para mim e gritava para as pessoas: – Foi ele! Foi ele! Seu trabalho de entregar o produto (música + artes) é igual ao formato de trabalho dos belgas do Front 242, eles o inspiraram nisso?
Parece que copiei mas não é verdade.
Quando comecei não conhecia nada de EBM, mas tinha noção muito clara do conceito de música e imagem que eu queria fazer.
O logotipo do Símbolo tem elementos com um caráter de propaganda socialista, proletária e industrial.
Homem + Máquina = Produto.
Posso parecer presunçoso em dizer isso, mas me aproveitei desta “gestalt”.
Exerce alguma profissão em paralelo a carreira artística?
Diretor de Arte e Fotógrafo de Interiores.
Muitos na música eletrônica optam por serem DJs, mas você escolheu criar as suas próprias de onde partiu essa vontade?
Acho que é uma necessidade.
Eu preciso criar e tenho pressa em terminar.
As melodias ficam martelando na minha cabeça e enquanto não pego o Juno 1 e toco, não fico em paz.
Qual era o seu envolvimento com música antes do Símbolo?
Meu primeiro instrumento foi uma bateria acústica e toquei com uma banda sem estilo definido, mas larguei porque banda é chato demais.
Anos depois um amigo baixista me chamou para um projeto, baseado em baixo e bateria.
Foi quando comprei o Juno 1 e a TR707.
Mas ele queria seguir uma linha mais cool e jazzística, tipo The Style Council.
Aí decidi ficar sozinho.
O que evolui além da tecnologia nos shows do Símbolo do passado para as ultimas?
Nada, pelo contrário. No show, a coisa do “ao vivo” veio a involuir. No passado eu tocava toda melodia e harmonia na mão.
Só a linha de baixo e a da bateria eram programados.
Mesmo assim, a sincronização era feita na hora.
Quando gravei o primeiro álbum tive que programar e quantizar todas as melodias.
Desde então nunca mais toquei nada, só a voz era ao vivo.
Ficou mais fácil, mas bem menos empolgante.
Teve medo em algum momento de alguma rejeição por parte de outros profissionais do mercado?
Essa preocupação existia, mas não a ponto de impedir de fazer o que eu queria.
Alguma coisa lhe chateia no segmento de música eletrônica nacional?
Não, porque não acompanho.
Qual é a parte mais desgastante e a mais prazerosa da carreira como produtor musical?
O que menos gosto de fazer são as letras.
O mais prazeroso é criar melodia.
É como um diálogo, eu penso e o sintetizador responde.
A maior angústia é achar o som certo e são tantas opções.
Satisfação é quando o arranjo fica redondo, nada se sobrepõe e todas as frequências estão no lugar.
Quais os equipamentos usados nas suas produções?
Tem algum favorito que você usa em muitas das músicas? Eu prefiro criar no Juno 1, talvez seja por causa da lembrança afetiva dos timbres.
Mas na hora de gravar é só com o Logic Pro X, principalmente com o Alchemy Synth.
Eu sempre procurei fazer tudo de forma prática.
A solução de se ter tudo dentro do computador, como mixers, instrumentos, efeitos, sequenciadores, arpegiadores, módulos e pedais são imbatíveis na questão eficiência.
Em sua opinião um setup de estúdio deve envolver somente softwares ou hardwares?
Quando comecei a usar softwares tive problema com os sons de bateria.
Nada era tão bom quanto as originais Roland TR707 e a Alesis SR16, principalmente.
Então o meu setup tinha hardware e software.
Com os upgrades do Logic, vieram sons melhores das “vintage drum machines”.
Hoje o meu setup é todo software, mesmo porque é possível pegar na internet samples das originais e importar para o softsampler, mas não fiz isso.
Prefiro experimentar os novos sons e não depender de um determinado instrumento.
Nos shows ao vivo você cria alguma estratégia para o tracklist ter algum efeito sobre a plateia como faz o Laibach, e outros artistas do segmento?
Tenho em uma estratégia.
Faço blocos de quatro em quatro músicas.
Começo o show com uma música rápida e alta que a maioria do público conhece.
A resposta é imediata e o público tende a chegar mais perto do palco.
A segunda música tem que ter o mesmo BPM da primeira, para dar continuidade.
A terceira tem que mudar, baixando o BPM e uma timbragem bem diferente.
É um respiro no bloco.
A quarta é a hora de uma música nova.
No terceiro ou quarto blocos, é o momento de um cover.
A música que termina o show deve ser um hit.
No meu caso, gosto de tocar “Enforced”.
Com as músicas que lançou imaginou de alguma forma que elas seriam lançadas por selos e que conquistariam o mercado mundial?
Imaginar sim.
Achar que ia acontecer, não.
Mesmo com todas as limitações da época, o Símbolo foi bastante longe.
Devo muito a Cri Du Chat por isso.
Principalmente ao Enéas Neto, seu proprietário
(NE: o selo Cri Du Chat Disques foi vendido em 1997 por Alexandre Twin, sócio fundador do selo após a saída de Enéas Neto e Ricardo “Bola” Vieira).
O que fez para sua música chegar aos selos que as lançaram?
Foi uma sequencia de encontros e coincidências.
Tinha ido a um evento no Instituto Goethe chamado Abrigoethenuklearte, onde foi lançado o álbum Neue Deutsche Post-Avant Garde e que seria vendido também na loja Cri Du Chat Disques.
Quando fui à loja comprar este vinil, fui apresentado a todo um universo de música eletrônica da qual nunca tinha ouvido falar.
Entreguei uma fita K7 para um dos sócios, o Maurizio Bonito, e ele gostou muito.
O resto é história.
De loja à gravadora foi uma questão de quatro mil dólares bancados por eles no lançamento do primeiro CD e depois distribuído para todo o mundo.
Quando teremos oportunidade de ouvir um novo álbum autoral completo seu?
Isso já pode ser feito.
A minha ideia não é mais juntar um determinado número de músicas para configurar um álbum.
As novas faixas, e versões atualizadas das antigas, estão disponibilizadas individualmente na primeira página do site.
Dá para ouvir 30 segundos e baixar.
Custa 99 centavos americanos de dólar cada.
Acredita num som eletrônico com alguma cara brasileira, assim como os alemães impuseram estilos como o minimal e Tech-House pelo mundo afora?
De tudo que ouvi até agora o que melhor funcionou foi um tipo de lounge, com letras em português.
Não deixa de ser um tipo de bossa nova, mas com linguagem eletrônica.
Qual é o seu hobby?
Nadar com nadadeiras rápidas, daquelas longas.
Alguma obstinação?
Entregar um produto perfeito seja em fotografia ou música.
Algum sonho que gostaria de realizar na música?
Sonho não. Plano sim.
O que almeja agora e para o futuro da sua carreira?
O meu futuro é com a música eletrônica instrumental. Eu comparo a música instrumental como a fotografia.
As duas são linguagens universais.
Tem algum ritual ou mania que realiza antes ou durante cada apresentação?
Não beber e não conversar muito, para ficar concentrado.
Só depois da apresentação é que eu relaxo.
Como você se define como pessoa e profissional?
Como um franco-atirador.
Trabalho sozinho, em silêncio e com uma missão a cumprir.
Quanto tempo se imagina dentro do mercado de música eletrônica? É algo que prospectou mesmo para seguir como carreira de longa duração?
Vai durar enquanto eu tiver motivação.
São 28 anos desde a primeira apresentação ao vivo e esse tempo todo talvez seja apenas a primeira etapa.
Tenho planos que estou colocando em marcha.
Quais as dicas que você pode dar para aqueles que desejam entram na profissão para valer como você entrou?
Seja organizado, disciplinado, persistente e humilde.
Invista tempo e dinheiro.
Não ligue para as críticas, mas fique atento às opiniões.
Quais são as maiores dificuldades atuais na noite de SP para se fazer um show como o seu?
Depois que vi o Douglas McCarthy (do Nitzer Ebb) se apresentando em cima de um balcão de bar porque não havia palco, não reclamo de mais nada.
Qual o pior lugar que tocou até hoje?
Pior lugar não houve.
O que não gosto é de tocar em festival, com muitas bandas dividindo o palco.
Geralmente festival é uma bagunça.
Qual foi melhor lugar que tocou até hoje?
Dois lugares.
Na Blondie em Santiago, Chile e no Centro Cultural Itaú, em São Paulo.
Qual música lembra sua infância?
“Pop Corn”.
Uma música eletrônica composta por Gershon Kingsley.
Qual foi seu primeiro disco comprado?
Suzi Quatro, de 1973.
Qual sua resposta para tudo?
“Você sabe como são essas coisas…”.
O álbum “Le Sacré Du Printemps” continua bem atual depois de tantos anos, acredita que pela sonoridade alcançada nele?
Acho que mais pela simplicidade.
Você cita o Laibach como influencia do seu trabalho, isso se notou primeiramente no vocal das primeiras demos até vai essa influencia?
Foi um choque quando ouvi Opus Dei.
Laibach realmente é uma banda que me marcou muito.
Mas o vocal grave do Símbolo foi um acidente.
Eu tinha que cantar e precisava de um reverber.
Soube que o Tagima (produtor de guitarras) estava vendendo um. Fui lá e comprei.
Só depois descobri que não era reverber.
Era um delay com um pitch shifter, coisa para guitarra.
Mas como era época de experimentação, valia tudo.
Quando liguei o microfone no pitch shifter, nasceu o vocal do Símbolo.
O que acontece é que à medida que eu ia fazendo as coisas, parecia que estava copiando alguém.
Quando toquei com uma lanterna na cabeça, porque precisava ver o que estava tocando, aparece um vídeo de show do Front 242 com luz na cabeça.
Uma crítica europeia sobre o meu primeiro álbum me compara ao Nitzer Ebb, por causa da linha de baixo.
O Símbolo no primeiro álbum e nas demos atingiu uma sonoridade muito própria entre as bandas brasileiras que depois foram muito xerocópias das outras e mesmo no exterior chamou atenção por soar diferente. Como encarou isso de ter feito algo diferente do que estava sendo feito na época na EBM/Industrial scene?
Se fiz diferente não foi por querer ser diferente, mas por desconhecer o que estava sendo feito.
Minha única preocupação ao fazer o primeiro CD era não soar muito diferente das demos.
Como se desempenharam os álbuns e EPs “Electra” depois da fase Cri Du Chat?
O fim da Cri du Chat foi um sinal claro de que a cena eletrônica alternativa havia enfraquecido mercadologicamente.
Como já era possível gravar CDs em casa, no computador, percebi isso como uma saída economicamente viável, entregando “on demand” diretamente para o público.
Mas os fãs da antiga sonoridade estranharam o trabalho e por isso nunca toquei ao vivo.
“Electra” acabou sendo um trabalho paralelo e experimental.
Uma mensagem para os seus fãs?
The force and power as the only way!
Qual seria o discurso do Símbolo hoje para angariar novos fãs?
The force and power as (almost) the only way!
O Símbolo evoluiu no jeito de ser para estar no mercado dentro inclusive das redes sociais (Instagram, Twitter, Facebook)?
Embora as redes sociais deixem todos mais próximos a tudo, de forma imediata, a privacidade ainda é necessária.
O facebook é um bom lugar para se queimar o próprio filme.
Playlist
10 músicas do passado:
1.Kraftwerk – “Metal on Metal”
2.Vangelis – “Spiral”
3.Beethoven – Sonata No. 14 “Moonlight”
4.Giorgio Morder – “Chase”
5.Edgar Froese – “Aqua”
6.ELP – “Touch and Go”
7.Gênesis – “Mama”
8.The Police – “Spirits In The Material World”
9.Duran Duran – “Tel Aviv”
10.Carl Orff – “Carmina Burana”
10 músicas atuais:
- Yazoo – “Goodbye 70’s”
- Jean Michel Jarre and Yellow – “Why This, Why That and Why”
- Depeche Mode – “Precious”
- Rammstein – “Ich Tu Dir Weh”
- Sting – “Russians”
- Black Strobe – “ I’m A Man”
- Erasure – “Make It Wonderful”
- Vince Clarke – “White (You Are In Heaven)”
- Pet Shop Boys – “Integral”
- The Communards – “Disenchanted”
Site oficial:
www.electronicbodymusic.com.br
Vídeos:
Simbolo ao vivo no Programa Boca Livre:
“O Caos”:
“Synchrono”:
“A Conquista”:
Videoclipe oficial do single “Mercy & Guilt”:
Set ao vivo na 97FM em São Paulo:
by Gonçalo Vinha