O palco da terceira noite do Festival Rec-Beat recebeu um encontro potente entre sons heterogêneos do território brasileiro e ritmos internacionais. Apostando em um interessante encadeamento entre gêneros musicais diversos, a programação passou pelo brega funk recifense, rap carioca, carimbó paraense, música de Burkina Faso, além do aguardado retorno da Mestre Ambrósio, e lotou o Cais da Alfândega do começo até o fim da noite.
A abertura e intervalos entre os shows foi comandada pelo DJ Calani (RJ), carioca que tem vasta experiência em cruzar as linhas entre os mais diversos ritmos brasileiros: do coco ao tecnobrega, do ijexá ao funk. Montado exclusivamente para ser exibido no Rec-Beat, quem deu início às apresentações foi o projeto Baratino Loko (PE), uma celebração do brega funk e da cultura musical das periferias do Recife. Comandado pelos produtores Tom BC e Marley no Beat, o Baratino Loko foi um verdadeiro laboratório de experimentações de um dos ritmos mais populares de Pernambuco. A dupla convidou três artistas de destaque do brega para subir ao palco: a cantora Laryssa Real, a não-binárie do brega Mun Há e o MC CH da Z.O – cada um deles apresentou diferentes propostas de trabalhos com o brega funk, que se interseccionam entre si pela força dançante dos arranjos do gênero.
Em seguida, foi a vez de Slipmami (RJ) subir ao palco pela primeira vez no Recife. A artista foi ovacionada pelo público que encheu o Cais da Alfândega e fez coro pela artista, uma das grandes novidades da cena musical carioca. Em sua performance, ela fez uma mescla autêntica entre death rock, emocore, afropunk e rap, apresentando canções do seu disco de estreia Malvatrem (2023).
Após o show da rapper, o multi-instrumentista Simon Winsé (Burkina Faso) realizou uma das performances mais imersivas da noite. Sozinho em cima do palco, o artista africano conduziu o público em uma viagem pelos sons dos seus instrumentos. Tocando kora, n’goni, arco de boca e flauta Fulani, Winsé apresentou seu trabalho que trafega entre a música tradicional de Burkina Faso, o jazz fusion, o blues e batidas eletrônicas.
Reforçando sua atitude pioneira em explorar a diversidade de sons produzidos no território brasileiro, o Rec-Beat também abriu espaço para as Suraras do Tapajós (PA), o primeiro conjunto de carimbó no Brasil composto somente por mulheres indígenas. As artistas embalaram o público na arte tradicional do carimbó e apresentaram composições presentes no seu disco Kiribasawa Yúri Yí-itá – A Força que vem das Águas (2021), projeto que traz as vivências das mulheres indígenas e a musicalidade da floresta.
Por último, foi a vez da Mestre Ambrósio (PE) realizar seu retorno triunfante ao palco do Rec-Beat. O show foi uma celebração aos 30 anos do movimento manguebeat e da própria banda, que se juntou novamente para uma turnê comemorativa. Desde os início dos anos 2000 sem se apresentar no carnaval recifense, o grupo realizou uma performance catártica, percorrendo por toda sua discografia. No palco, a Mestre Ambrósio trouxe toda sua miscelânea cultural, que vai do rock ao maracatu rural, coco e caboclinho, a partir de uma combinação incomum de instrumentos como rabeca, guitarra, ilú, caracaxá, pandeiro, alfaia, fole de oito baixos e a zabumba.
Serviço:
FESTIVAL REC-BEAT 2023
De 18 a 21 de fevereiro a partir das 19h
Cais da Alfândega, Bairro do Recife
Acesso gratuito