Considerado um dos maiores festivais de verão de Portugal, a 28ª edição do Festival Paredes de Coura recebeu cerca de 120 mil pessoas durante a semana que o evento inundou as margens da Praia Fluvial do Taboão, do município que empresta o nome ao evento, e justificou àqueles que o consideram também como um dos melhores festivais do país.
No extremo norte lusitano, incrustado entre as margens do Rio Coura, belas paisagens e suas frondosas árvores, o amplo recinto oferece zona de campismo, todos os serviços e diversas opções de restauração, tendo o palco principal situado em forma de um anfiteatro natural, uma das características singulares deste histórico Festival.
O evento apresenta diariamente um cartaz bastante eclético, com artistas de culto, nomes promissores e novas tendências; atraindo assim todas as “tribos” e idades, porém com afluência maior de público mais jovem. A proximidade de Espanha (30km) também facilita a vinda de muitos festivaleiros desse país.
A qualidade, respeito e a organização da “Ritmos” também é de se destacar e louvar.
As dezenas de artistas são divididos diariamente em dois palcos e o evento apresenta ainda after hours e também, nos dias que antecedem o festival propriamente dito, o “Sobe à Vila” que leva concertos ao centro da cidade e assim ajuda a dar um impulso a mais à economia local.
Receita e condições propícias para uma semana ou dias de alegria, prazer e ambiente verdadeiramente festivo!
No nosso caso, tivemos a possibilidade de acompanhar o festival do dia 18 ao 20, porém devemos citar que o dia 16 foi focado na música portuguesa, onde passaram nomes como 10.000 RUSSOS, LINDA MARTINI e MÃO MORTA e no dia 17 estiveram em palco bandas como “IDLES” e “BEACH HOUSE”.
Na quinta-feira, chegamos ao palco Vodafone FM (2º palco) onde se iniciava a apresentação do australiano DONNY BENÉT com sua suave sonoridade “disco vintage” dos anos 80.
Na sequência, no palco principal, foi a vez dos THE COMET IS COMING, trio londrino reconhecido pelo seu “Jazz-Rock” com toques de loucura, psicodelismo e saxofone a mistura. Seguiu-se nosso trânsito pelos dois palcos, onde em tempos da insana guerra na Ucrânia, os bielorussos MOLCHAT DOMA, contrários ao que ocorre no país vizinho, fizeram um ótimo concerto da sua versão Post Punk/Dark Wave.
O palco FM contou ainda com a apresentação dos L´ECLAIR, banda instrumental cósmica de Genebra. A completar 10 anos do lançamento do álbum “Light Up Gold”, os nova-iorquinos PARQUET COURTS trouxeram sarcasmo e energia com seu Indie Rock.
Continuando no palco principal, vieram os TURNSTILE, americanos que destilam contagiante e agressivo “hardcore punk”, concerto potente que fez os “Coureiros” repetir crowd surfing atrás de crowd surfing. Impressionante!
Coube aos L´IMPÉRATRICE fechar o palco principal deste dia. Conjunto francês liderado pelos vocais de Flore Benguigui, mostraram grandes e iluminados corações, para além da pop disco acurada e gostosamente dançante.
Repleto de talentosas mulheres, o dia 19 iniciou com uma das mais brilhantes compositoras portuguesas da atualidade, MÁRCIA fez uma apresentação pop rock bastante aconchegante e aprazível.
Já no palco principal, a abertura ficou para a belga SYLVIE KREUSCH, a ex vocalista dos Warhaus e agora em seu projeto solo fez uma apresentação impecável e cumpriu as previsões, conquistando a audiência com seus vocais ardentes e aveludados. O tema “Walk Walk” não sai da cabeça.
Ótimo!!! Os BALEIA BALEIA BALEIA, duo de baixo e bateria da cidade do Porto apresentaram seu rock bem-humorado e empolgante. Ao estilo Trip Hop, seguiu-se no palco principal a compositora e poetisa britânica ARLO PARKS, que fez uma exitosa estreia em terras lusas, sentindo o calor e a gratidão do público mesmo durante os segundos de corte de som ao final do concerto. Falha técnica também atrasou o início da esperada apresentação do duo americano BOY HARSHER.
A vocalista Jae Matthews avisou logo que o duo fazia música para dançar, e assim fizeram, colocaram todos a mexer, mesmo com o aperto que se verificou na pista do palco Vodafone FM.
Por outro lado o palco principal ficou demasiado grande para a apresentação da galesa KELLY LEE OWENS, mesmo com todo o esforço visual e viagens dentro das diversas sonoridades eletrónicas.
Outra boa opção para o palco maior poderia ser os ARP FRIQUE & FAMILY, grupo com um swing empolgante e quente, dentro de uma sonoridade que mistura Soul e Afro Beat embrulhados em sintetizadores antigos e percussões cativantes.
O aclamado multi instrumentista TY SEGALL & FREEDOM BAND, em sua terceira participação no “Paredes”, trouxeram da Califórnia toda a sua energia e desfilou pelas vertentes do Rock. A noite teve ainda os franceses THE BLAZE.
Membro dos Ornatos Violetas, Pluto e Supernova, MANEL CRUZ abriu o último dia do Paredes de Coura e apresentou o seu projeto solo com todo o talento e carisma que lhe é característico. Já no principal, FAR CASPIAN deu um belo aperitivo de Indie Rock irlandês aos que começavam a preencher o anfiteatro natural.
Nas alternâncias de palco, foi a vez de XENIA RUBINOS, talentosa americana de sangue caribenho, que testa todos os limites através de uma patchwork de estilos e influências, visual cuidado e uma atuação performática que prendeu a atenção de parte da audiência, pelo menos até o inicio da apresentação do coletivo francês LA FEMME no palco principal, certamente um dos destaques desta edição do festival com seu atraente e divertido Pop Rock Francês, com pitadas Vintage, Surf, Cabaret e Eletrónica, tudo a combinar na perfeição com o Verão.
Surpreendente!
O próximo a subir o 2º palco e realizar uma apresentação emotiva e prazerosa foi o cantor e compositor americano Mike Hadreas, com a alcunha artística de PERFUME GENIUS, que produz um Indie Pop com temáticas que abordam sexualidade e tabus contemporâneos. Muito bom!
O palco FM foi fechado neste ano com o vibrante e hipnótico concerto de YVES TUMOR & ITS BAND, projeto de Sean Bowie, americano radicado atualmente em Itália e que faz um electro rock experimental como poucos.
Não muito usuais nas edições do Paredes de Coura, as duas apresentações que antecederam o Cabeça de Cartaz do Festival foram PRINCESS NOKIA e SLOWTHAI.
A primeira, americana de origem porto-riquenha, surpreendeu ao deixar o seu animado DJ, por cerca de 15 minutos, desfilar hits como “Barbie Girl” dos Aqua e entrou (literalmente) banhando o público com seu sensual Emo-Rap com pitadas latinas.
Já o segundo, britânico, trouxe seu politicamente engajado, áspero e bruto Hip Hop / Rap Punk. Tanto um como o outro, apesar de não estarem tão bem enquadrados, conseguiram dominar o grande palco e agradar boa parte dos festivaleiros. “Gouge Away”, “Wave of Mutilation”, “Debaser”, “ Broken Face”, “Crackity Jones”, “Isla de Encanta”, etc, etc… 32 músicas, praticamente todos os êxitos em formato simples, direto e preciso, os fabulosos e longínquos PIXIES ofereceram um fantástico e arrepiante concerto que fechou a edição do Vodafone Paredes de Coura 2022.
A 28ª edição foi um total êxito e bateu alguns recordes, prometendo ainda mais do dia 16 a 19 de agosto de 2023, quando celebrará 30 anos da primeira edição.
Programe-se desde já para este tradicional festival de culto do verão português. Uma semana em Paredes de Coura será indubitavelmente uma experiência inesquecível.
especial collab by DJ Luis Soncini